Dolores Silva é um ícone do futebol português e revela a O JOGO que vencer a Liga BPI pelo clube do coração é o maior sonho. A médio de 31 anos traça os objetivos desta temporada e perspetiva ainda a partida de segunda-feira frente ao Benfica, relativa à 7.ª jornada do campeonato, num embate entre invencíveis.
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Dolores Silva é um nome que não passa despercebido no mundo do futebol feminino e já ganhou tudo o que havia para ganhar em Portugal. A médio iniciou a sua formação aos dez anos, no Real Massamá, numa equipa masculina, e revela que, apesar de ter sido muito bem recebida por todos, ainda era alvo de alguns comentários preconceituosos. A capitã da Seleção Nacional apresenta um currículo invejável, com passagens de sucesso por Alemanha e Espanha, e fala a O JOGO acerca do seu passado, presente e futuro.
É a quinta temporada que veste a armadura das guerreiras do Minho. Podemos dizer que já faz parte da mobília?
-É uma casa. É o meu clube, onde me sinto maravilhosamente bem. Todos aqui me tratam com o maior respeito, gosto muito da cidade e das pessoas.
Esta época, o Braga só sabe conjugar o verbo vencer e partilha a liderança da Liga BPI com o Benfica. O foco está em levantar um troféu?
-Está em entrar em tudo para ganhar. Queremos estar em todas as frentes e levantar todos os troféus, se possível. O Braga caracteriza-se por ser uma equipa aguerrida, sempre disposta a lutar pelo jogo, pela equipa e pelos adeptos. Temos sido consistentes e trabalhámos sempre no máximo e com seriedade. Agora é dar continuidade.
O Braga defronta o Benfica na próxima segunda-feira, em jogo a contar para a sétima jornada da Liga BPI, num duelo de líderes e um teste de invencibilidades, sendo que as encarnadas também só sabem triunfar. O que se pode esperar do encontro?
-Um jogo muito disputado e um excelente espetáculo para o futebol feminino, de forma a elevar, cada vez mais, o nosso futebol. São duas grandes equipas e a vitória pode cair para qualquer lado.
Como tem sido a preparação para o jogo?
-Normal. A preparação, a ambição e a crença estão sempre lá. Queremos dar o nosso melhor, mas a preparação é sempre a mesma. Conhecemos os pontos fortes do Benfica e estamos a trabalhar para trazer os três pontos para Braga. O Benfica tem um conjunto muito forte. O ataque é um dos pontos mais perigosos, pois têm jogadoras muito rápidas e robustas. O jogo não é decisivo, pois ainda estamos numa fase muito precoce, mas pode ser um passo em frente.
Falando um pouco do seu percurso, aos 15 anos, a Dolores já levantava o troféu de campeã ao serviço do 1º Dezembro, onde deu nas vistas e rumou à Alemanha. Depois disso, ainda passou pelo Braga e Atlético de Madrid.
-Jogar na Alemanha foi a melhor experiência da minha vida. Evoluí muito como jogadora e como pessoa e estava no meio das melhores. Mas todas as aventuras da minha carreira marcaram-me pela positiva e ofereceram-me sempre algo.
Apesar de tudo o que já conquistou e viveu, sente que ainda falta algo?
-Sem dúvida. Sonho vencer a Liga BPI pelo meu clube do coração, o Braga. É o único título que me falta levantar ao serviço deste emblema. Também sonho disputar um Campeonato do Mundo pela Seleção Nacional.
Está perto de concretizar esses sonhos?
-Sim. O Braga tem tudo para ir à luta e vencer troféus. Tem uma estrutura muito sólida e é ambicioso. Em contexto de Seleção, falta apenas um pequeno passo para concretizar um sonho de uma nação. Nós merecemos e é muito importante para todos e todas estar no Mundial. É um grande desejo e espero que se realize. Vamos fazer por isso.
"Ouvia bocas dos pais e da bancada por ser menina e jogar futebol"
Dolores Silva começou no futebol ao serviço do Real Massamá, a treinar com os rapazes e revela que, apesar de ter sido muito bem recebida por todos, sofreu alguns episódios discriminatórios.
"Gosto da bola desde que me lembro e muito por influências do meu pai. O Real foi o meu primeiro clube e sempre fui muito bem tratada por todos. Era a protegida dos meus colegas, que sempre me apoiavam. Por vezes, quando íamos jogar fora, ouvia algumas bocas dos pais e da bancada por ser menina, porém, felizmente, as mentalidades foram mudando e o futebol feminino é cada vez mais valorizado", entende.