Empresária Daniela Lopes conta como tem sido vingar numa atividade ainda dominada por homens
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Daniela Lopes teve uma infância difícil mas provou ter uma grande resiliência e hoje é uma empresária de sucesso, tendo intermediado a maior transferência nacional no futebol feminino: a mudança de Telma Emcarnação para o Sporting. Chegar ao futebol masculino é outro objetivo.
Como é que entrou no mundo do futebol?
-Fui retirada de casa aos 14 anos e passei a viver num orfanato, em Miranda do Douro. Estive lá um ano. Tinha o sonho de ser jogadora de futebol, porque sempre gostei de futebol e queria uma profissão ligada à modalidade. E então surgiu a hipótese de ir para Guimarães, para uma equipa feminina de futebol. A única hipótese que tive foi ser transferida de orfanato.
As regras eram apertadas?
-Tinham de ser diferentes para mim. A hora a que começavam os treinos era a hora em tínhamos de entregar os telefones e deitarmo-nos. Acabava os treinos, ia para casa e não tinha comida. Comiam tudo e não guardavam para mim. Passei muito mal na altura. Fisicamente já não estava a conseguir corresponder. Passado um ano, falámos com a proteção de menores e foi decidido que eu iria para uma casa de estudantes. Fui viver sozinha, com 16 anos, para Guimarães. Estive lá durante sete anos. Fiz o secundário no curso profissional de gestão desportiva. Depois, ingressei na Universidade, em Fafe, e tirei também Educação Física e de Desporto, isto sempre a jogar futebol. Comecei a perceber que tinha de ter outra coisa, porque a partir dos 18 anos os meus pais já não eram obrigados a dar-me a mensalidade. Comecei a trabalhar para uma amiga que tinha uma série de empresas. E fazia um bocadinho de tudo. Quando estava na universidade, no meu segundo ano, recebi o convite do Braga. E aceitei. Trabalhei lá durante quatro anos e, depois, comecei no agenciamento.
Acabou cedo a carreira de futebolista...
-Sim. Trabalhava no Braga, vivia em Guimarães, estudava em Fafe e jogava em Vila Verde. Além do mais, já estava a trabalhar na área, embora nas modalidades, e já acompanhava mais a equipa de futebol, que era o que queria. Desejava continuar a jogar futebol, mas não deu. Custou-me, mas teve de ser...
Que características dos relvados mantém na atual atividade?
-Jogava a extremo. Era muito persistente, e na minha profissão também sou. Fazia as coisas rápido, como hoje faço. E adorava, e adoro, lidar com a pressão. Os meus melhores jogos eram sempre aqueles nos quais tinha mais pressão. Gosto do meu trabalho precisamente por causa disso. Se tiver um dia mais parado, parece que não me sabe bem. Se tiver dias em que a pressão está lá, dá-me mais motivação.
Acha que o futebol feminino tem tido uma boa evolução?
-Tenho de dar os parabéns à Federação por todo o trabalho que fez. Notamos uma evolução muito grande. A professora Mónica Jorge também é uma das “culpadas”.
Havia preconceito?
-Sim, sou a prova disso. A minha mãe não me deixava jogar. Era a maior desilusão da vida dela. Sofria maus tratos por causa disso. Hoje, isso não acontece; os pais têm orgulho delas e de as ver jogar.
“Quero ser dirigente de um clube”
Depois de ter sido jogadora e agora empresária, Daniela Lopes não esconde que tem como grande desejo ser, um dia, diretora desportiva de um clube, e numa equipa masculina. “Quando entrei no mundo do agenciamento foi mais por uma necessidade. E para estar em contacto com o desporto, principalmente com o futebol, que era o que realmente queria. Na verdade, quero um dia acabar num clube, como dirigente de uma equipa masculina. Não é o meu sonho, mas quero muito ter essa função no meu currículo, o de diretora desportiva”, sublinhou.