Ataque de nervos para o topo: antigos jogadores de Braga e Benfica dão a tática
O Braga-Benfica começa este domingo e vai terminar só na segunda-feira, conjugado com o desfecho em Alvalade para definir o líder
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Este Braga-Benfica é um jogo com prolongamento: começa este domingo na Pedreira e só acaba na segunda-feira em Alvalade, na certeza de que qualquer um dos atuais quatro primeiros classificados pode ser líder, isolado ou de forma partilhada, no final desta jornada. É nesse cenário que se desenham os tabuleiros táticos, com múltiplos palpites. Da bancada é tudo muito lindo e fácil, costumam dizer os treinadores. Ora, se é assim tão lindo e fácil, para quê resistir à tentação? Estes não são palpites à toa, porque tanto Zé Nuno Azevedo, convidado a vestir a pele de Artur Jorge, como Valdo, que experimentou a de Roger Schmidt, estão mais do que habilitados a fazê-lo pela quilometragem acumulada nos relvados.
Pontaria bracarense, com Banza a disparar sem misericórdia, é ponto para Schmidt anotar; já Artur Jorge terá de montar uma teia à Champions, capaz de abafar Di María e Rafa, sem esquecer Aursnes.
Braga e Benfica não têm nesta altura grandes segredos para destapar. Valdo lembra que os guerreiros têm o melhor ataque da Liga, com o goleador Banza à cabeça, mas muito bem acompanhado. A contrabalançar, a defesa do Benfica, que só perde para a do FC Porto em golos consentidos, terá argumentos de sobra para encravar essa fluidez. Artur Jorge não se pode gabar do mesmo, porque a sua equipa tem sido bem mais desequilibrada no balanço entre rendimento ofensivo e defensivo, sendo este muito pobre. Talvez por isso Zé Nuno Azevedo antecipe a tentação de o técnico encarar este jogo como se fosse um desafio de Champions. Mesmo já tendo Djaló disponível para soltar quatro leões na frente (Djaló, Bruma, Ricardo Horta e Banza), pode preferir “reforçar a zona central”, já de si mais forte pelo regresso de Al Musrati e ainda com alternativas de luxo para compor o puzzle: Moutinho, Vítor Carvalho e Zalazar.
Braga tem o melhor ataque da liga, com 36 golos, e o Benfica a segunda melhor defesa
Depois de alertar para o arsenal de ataque de que o Braga dispõe, o que exige defesa à altura, Valdo deteta no Benfica dos últimos jogos nuances mais próximas das dinâmicas que encantaram os adeptos na era Roger Schmidt. Lamenta que não haja Neres disponível, mas aplaude o iminente regresso de Gonçalo Guedes à melhor forma. “A falta de eficácia faz com que a equipa sofra muito”, lamenta, à espera que esse pecado seja resolvido na Pedreira. Di María e Rafa são trunfos que o deixam otimista.
Inquérito
1 - Quais os pontos fortes do rival e debilidades que podem ser exploradas a preceito no adversário?
2 - Qual o jogador adversário justifica vigilância mais acentuada para evitar dissabores?
3 - Que nuances táticas são aconselháveis na abordagem deste jogo face à sua importância?
4 - Olhando à jornada da UEFA e queda mútua na Liga Europa, há algum tipo de ressaca europeia a pairar?
Zé Nuno Azevedo, ex-jogador do Braga
1 - Muita finalização
- Os pontos fortes do Benfica passam pela dinâmica ofensiva que tem revelado ultimamente, com vasta criação de situações de finalização, juntando-se o talento individual e qualidade de alguns jogadores. Há aspetos ou debilidades que podem ser exploradas, como é o caso da transição defensiva, é uma equipa com menor capacidade de recuperação e equilíbrio defensivo, o que permite oportunidades aos rivais, refletidas com prejuízos em alguns jogos.
2 - Dí Maria e Rafa
-Em termos de marcação ou tentativa de controlo do adversário, entendo que Di María e Rafa são os jogadores de referência, mas não vejo necessário qualquer plano mais individual. Se existir essa tentação de parar um atleta em particular, isso pode libertar o Aursnes para as assistências. É muito subjetivo que uma equipa se vá preocupar com A ou B, passa tudo por controlar a dinâmica que o Benfica poderá apresentar em Braga.
3 - Versão Champions
- É a minha dúvida. Se vamos ter um Braga igual a si próprio, ou se vamos ter um Braga que vai querer reforçar o corredor central em jogos da liga portuguesa. Isso não aconteceu tanto cá, mas foi visível em jogos da Champions, com a utilização de um terceiro médio pela zona central, em vez de quatro homens marcadamente ofensivos, que é a matriz dominante. Podemos falar de uma versão Champions, acredito que possa ser assim! Atendendo ao rendimento do Braga em jogos de maior cartaz e dimensão, como foram Nápoles e Real Madrid. Acho que é aceitável que o faça novamente.
4 - Sem impacto negativo
- Diria que, pela dimensão dos clubes, o Benfica teria uma ressaca maior. Pelos resultados e pelo impacto nas expectativas, acho que vão ambos entrar de forma positiva, porque lograram o objetivo na última jornada europeia. A frustração do Benfica seria maior, mas o momento atual esbateu isso e tem de chegar motivado a Braga.A Liga dos Campeões foi bonita para o Braga, atingiu o que se podia perspetivar, a presença na Liga Europa, pois não era fácil fazer mais frente a Nápoles ou Real Madrid. Os dois clubes estão numa situação idêntica, sem impacto negativo.
Valdo, ex-jogador do Benfica
1 - Ataque implacável
- O Braga tem o melhor ataque da Liga. É muito forte nas transições e tem uma posse de bola que me agrada bastante. Às vezes são surpreendidos por um contra-ataque adversário, mas, no todo, é uma excelente equipa. Deu provas na Liga dos Campeões, no grupo que foi, tinha o Real Madrid e o Nápoles e fez uma boa prestação. Para bater o Braga, tem de ser um Benfica à altura do seu nome
2 - Banza e Djaló
-O Banza, de que gosto muito; Djaló, que dispensa apresentações; o capitão Ricardo Horta e não sei se o AlMusrati está de volta. O Braga é muito forte. É um plantel que tem João Moutinho, que sabe de bola como ninguém. O Benfica vai ter de ser muito forte, porque esta equipa é muito perigosa. Precisa de uma defesa muito atenta. O Braga, principalmente do meio-campo para a frente, com dois bons jogadores nas alas, é muito forte nas saídas com bola. Benfica tem de estar muito concentrado.
3 - Imitar o passado
- Roger Schmidt tem muito mais competência para isso. Mas o Benfica vai ter de ser mais próximo da época passada, tem de ser bastante competente a nível defensivo e, depois, terá de ser o Benfica que encantou. Nos últimos três jogos criou muito, mas, agora, tem de ser mais eficaz nessas oportunidades que cria. A falta de eficácia faz com que a equipa sofra muito. É preciso um Di María e um Rafa inspirados, há também um jogador, que é o Neres, que seria muito importante, mas temos o Guedes de regresso... O Benfica tem de vencer o Braga e esperar pelo resultado do Clássico, porque, de uma suposta crise, pode acabar em primeiro!
4 - Mal menor
- Claro que o primeiro objetivo era a Liga dos Campeões, mas agora, se olharmos para o cenário que havia, é melhor a Liga Europa do que nada. Traz sempre algo para o ranking português, com o Benfica, o Braga e o Sporting na Liga Europa. Temos três equipas na competição. Em termos desportivos, para Portugal, é superimportante. Agora, claro que o Benfica queria a Champions, já que não tem, a Liga Europa é um mal menor”