A mais recente teoria da conspiração já resultou na destruição de torres de 5G no Reino Unido, porque há quem acredite que disseminam o coronavírus. OMS fala em combate a uma "infodemia"
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Anda por aí outro vírus a fazer companhia ao SARS-CoV-2 na facilidade de propagação e no risco associado. É a Organização Mundial de Saúde (OMS) quem o diz. "Não estamos apenas a combater uma epidemia: estamos a lutar contra uma infodemia. As notícias falsas espalham-se mais facilmente do que o vírus e são igualmente perigosas", alertou Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. De facto, o início deste texto poderia ser o enquadramento perfeito para lançar mais uma mentira, já que tem dois fatores fundamentais: lança uma ideia que assusta e puxa por uma organização reconhecida para lhe conferir uma suposta credibilidade.
Só que este vírus da desinformação, bem entendido, é mesmo verdadeiro, assim como o receio da OMS, consciente do perigo de, em tempos de pandemia, tomar opções erradas com base em informações erradas.
Foi nesse sentido que, ontem, a habitual conferência de Imprensa da Direção-Geral de Saúde contou com a presença da bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento. "Circulam na internet alegadas soluções milagrosas para o reforço do sistema imunitário. Gostaria de deixar claro que não existem suplementos nem superalimentos capazes de prevenir ou até mesmo combater a covid-19 através do reforço do sistema imunológico", avisou, com a ressalva de que "o sistema imunitário agradece que fiquem em casa e comam saudavelmente".
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Foi só mais um esclarecimento entre centenas que nos últimos meses têm sido necessários, no âmbito da covid-19. Desprovidos de evidência científica, teorias da conspiração, curas milagrosas, truques e medos espalham-se pelas redes sociais, onde também proliferam os "áudios de médicos e enfermeiros" que descrevem cenários dantescos. Tão falsos que até duas pessoas que "faleceram" no WhatsApp "ressuscitaram" no hospital e tiveram alta...
Aqui em baixo desfazemos alguns desses mitos, através da OMS, da Universidade Johns Hopkins e da Rede Internacional de Verificação de Factos (IFCN), que já leva cerca de 1500 verificações provenientes de 61 países, todas fundamentadas por profissionais de diversas áreas. A mais recente narrativa prende-se com a rede 5G, dada como responsável pela disseminação do vírus, porque Wuhan, "berço" da covid-19 (não, o vírus não foi criado num laboratório), foi das primeiras cidades chinesas a testar essa tecnologia. De nada valeu aplicar a lógica de que outras cidades com 5G foram menos afetadas e outras sem 5G sofreram mais, ou que o YouTube elimine vídeos que suportam esta teoria: pelo menos 20 torres com antenas 5G foram incendiadas ou vandalizadas no Reino Unido.
Caça ao mito
-Não há qualquer relação entre a rede 5G e a disseminação do coronavírus.
- O novo coronavírus não foi desenvolvido num laboratório chinês. Diversos estudos já atestaram a origem natural do vírus e a ausência de manipulação.
-Não há alimentos ou complexos vitamínicos que assegurem proteção contra a covid-19 ou a previnam.
-Suster a respiração por mais do que dez segundos não garante que não esteja infetado.
-É falso que deva desinfetar as mãos com vinagre em vez de gel à base de álcool.
-Beber água com frequência não diminui o risco de infeção.
-Não há estudos que comprovem que o ibuprofeno agrava a infeção.
-Secadores das mãos não eliminam o vírus.
-Temperaturas muito altas ou muito frias não destroem o vírus, nem configuram tipo algum de proteção.
-A ingestão de bebidas alcoólicas não previne a infeção e muito menos elimina o vírus.