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>O admirável destino de Bebé
A história de Bebé é mais uma prova evidente de que a vida pode ser realmente "uma sucessão contínua de oportunidades", como constatou um dia o escritor colombiano Gabriel García Marquez. Originário de uma humilde família cabo-verdiana e filho de pai (quase) incógnito, o menino Tiago Manuel Dias Correia parecia ter o mundo contra si quando, aos 10 anos, cruzou os portões da Casa do Gaiato de Santo Antão do Tojal (Loures), seguindo as mesmas pisadas do tio Zé Pedro. Era mais uma criança entre muitas outras semelhantes, quase duas centenas, com idades compreendidas entre os três e os 20 anos. Quem está nos antípodas dos abastados, por culpa do destino, e se porta mal (o que será isso para uma criança?), é o "castigo" que recebe; Bebé transformou-o num prazer. Foi lá que acrescentou outros valores aos que já lhe transmitia a avó Ilda no Cacém num contexto de grandes dificuldades, assumiu responsabilidades, estimou amizades e se fez homem, ganhando ao mesmo tempo gosto pela bola. Uma mistura explosiva, que se traduziu numa ascensão meteórica como futebolista profissional. É o mínimo que se pode dizer deste internacional sub-19 português, que se vinculou por cinco épocas ao Guimarães.
Puxando a fita atrás, praticamente até ao seu ano zero, sabe-se que Tiago Correia estava deitado no berço (haveria aqui algo de premonitório?) quando o irmão Ricardo, dois anos mais velho, decidiu chamar-lhe "bebé" por se ter esquecido momentaneamente do seu nome ou porque acharia mais simpático dirigir-se dessa forma ao "caçula" da família. Todos assistiram ao episódio e desde então Tiago e tudo o resto que consta no seu bilhete de identidade deixou de ser pronunciado pela família. Bebé uma vez, Bebé para sempre. O próprio Tiago, perdão Bebé, já adulto, não admite outro nome, mesmo que lhe digam que deveria adoptar uma alcunha mais guerreira para inspirar respeito na alta competição. Soa-lhe bem e sempre lhe fez lembrar a família, especialmente os três irmãos Ricardo, Paulo e Fernando, este praticante de futsal e jogador do Vila Verde (Sintra). O primeiro vive com a mãe Deolinda em Nelas, os outros dois tomam conta da bisavó Senhorinha. Bebé nunca se desligou de ninguém, mas a Casa do Gaiato sempre foi o seu lar... até ao dia em que foi contratado pelos minhotos. Caso tivesse assinado pelo Belenenses, não mudaria de residência.