São vários os atletas de alta competição a mudar o plano alimentar em prol de uma melhor condição física e de uma carreira mais duradoura. Usain Bolt, Lionel Messi e Novak Djokovic são três exemplos no ativo e com grandes resultados. Para trás ficam os "nuggets" de frango, pizzas e pão, entre outros alimentos, e em compensação somam-se as medalhas, títulos e prémios.
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O jamaicano Usain Bolt deixou o Campeonato do Mundo de Atletismo, que se realizou em agosto em Pequim, com mais três medalhas de ouro ao peito. Revalidou o título nos 100 e 200 metros e ainda ajudou a Jamaica a conquistar os 4x100 metros na China.
O velocista e bicampeão olímpico dos 100, 200 e 4x100 metros - correu os 100 metros em Pequim em 9,79 segundos e os 200 metros em 19,55 segundos - não hesita em definir-se como o atleta mais rápido do planeta, mas deseja a maior longevidade possível nas pistas de atletismo. E, para tal, acredita que o segredo está na alimentação.
Antes de partir para o Mundial de Pequim, Bolt, que completou 29 anos no passado dia 21 de agosto, falou dos sacrifícios que decidiu fazer para continuar a correr por títulos e recordes.
"Na última época, quando me lesionei, dei-me conta de que os anos estão a passar por mim. Regressar em boas condições foi muito mais difícil do que quando era mais jovem. Agora preciso de correr mais para recuperar a boa forma. Comecei, portanto, a comer de forma saudável. E, para mim, é bastante complicado comer bem", admitiu o atleta, esmiuçando as alterações feitas ao habitual cardápio alimentar. "Deixei de comer nuggets de frango."
Nos Jogos Olímpicos de 2008, o jamaicano devorou cerca de mil peças (!) em dez dias, segundo o próprio conta na sua autobiografia "Faster than Lightning".
Depois de tomar consciência da maior dificuldade para recuperar os níveis físicos ideais, a par da vontade de querer competir com os melhores até aos Mundiais de Londres' 2017, Usain Bolt faz um esforço para ingerir muitas verduras. "É o meu maior sacrifício, comer vegetais a toda a hora. É fácil renunciar a quase tudo, mas adotar uma alimentação saudável é verdadeiramente duro", sublinha o sprinter.
O ouro, como já era de certa forma expectável, foi relativamente fácil de conquistar nos Mundiais de Pequim, frente aos seus maiores rivais da atualidade: Justin Gatlin, nos 100 e 200 metros, e os EUA, nos 4x100. Mas a dieta alimentar de Usain Bolt tem como objetivo maior os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, e os Mundiais de 2017, em Londres. Afinal, é por uma questão de longevidade, como o próprio diz, que está em abstinência de nuggets em detrimento das verduras.
Messi aposta nas vitaminas
"Ele já ganhou tudo, mas quer continuar num nível de excelência por mais anos e percebeu que, para isso, tem de fazer algumas mudanças", contou ao jornal "Gazzetta dello Sport" o nutricionista Giuliano Poser sobre Lionel Messi, o mesmo que, de acordo com o antigo jogador e conselheiro do Barcelona, Charly Rexach, "comeu muitas pizas no passado".
Poser revelou que o Melhor Jogador da Europa 2014/15 - título conquistado pela segunda vez na carreira - "eliminou da sua alimentação os alimentos processados e substituiu-os por alimentos ricos em vitaminas, como os cereais, vegetais, fruta, peixe e azeite".
O jogador do Barcelona não fala sobre o assunto, mas no último mês de abril foi fotografado por ocasião da visita ao nutricionista argentino sediado em Sacile, na Itália. "Sou amigo do [Martín] Demichelis que me recomendou ao Messi", explicou Poser, recordando o início da relação profissional de ambos, que surgiu na sequência do descontentamento do avançado em relação ao rendimento desportivo na temporada de 2013/2014.
E a derrota da Argentina na final do Campeonato do Mundo do Brasil, diante a Alemanha, por 0-1, terá sido o momento decisivo. "Depois do Mundial algo mudou", assegurou o nutricionista na mesma entrevista. "O Messi teve a intuição e a humildade de fazer algo diferente na sua vida profissional", afirmou, referindo-se ao jogador como "uma pessoa bastante inteligente e intuitiva".
O certo é que as estatísticas apontam para um maior rendimento de Messi na última época - marcou 58 golos e registou 28 assistências - e consequentemente do Barcelona, que ganhou a Liga dos Campeões, o campeonato espanhol e a Taça do Rei. O prémio adicional surgiu quando o jogador argentino deixou para trás Cristiano Ronaldo e Luis Suárez na eleição do Melhor Jogador da UEFA com 49 dos 54 votos possíveis.
Djokovic abdica das pizas
"Diz-me o que comes e direi-te quem és" foi uma teoria celebrizada por Brillat-Savarin, advogado, político, cozinheiro e gastrónomo francês, no século XVIII, que reflete na perfeição a história de Novak Djokovic em relação à alimentação.
O tenista sérvio sofreu de problemas físicos durante vários anos e defende agora terem sido consequência de uma má alimentação. "Fisicamente não conseguia competir. E mentalmente não sentia que pertencia ao grupo dos melhores jogadores", confessou recentemente o atual líder do ranking mundial ATP.
"Havia quem dissesse que eram alergias, asma, falta de boa condição física, mas ninguém sabia como melhorar a minha situação", prosseguiu Djokovic, que chegou a levantar suspeitas em relação à sua falta de fair-play no circuito, tais eram as constantes lesões [dores no peito, dores de estômago, dificuldades respiratórias, fadiga, etc] e desistências em campo. "Até o Roger Federer, que é tão cavalheiro, chegou a dizer-me que pensava que as lesões eram uma brincadeira minha."
Apesar de ter tentado de tudo, segundo conta na sua autobiografia "Serve to Win", inclusive foi operado ao nariz para respirar melhor, Novak Djokovic revelou ter sido um médico, também ele sérvio e fã de ténis, Igor Cetojevic, a descortinar o verdadeiro problema. Intolerância ao glúten.
A nova dieta aboliu por completo as pizas, uma das maiores paixões alimentares do tenista - os pais são proprietários de uma pizaria -, massas, pão, farinha de aveia, trigo, centeio, queijo, entre outros, e deu lugar a um menu repleto de fruta, vegetais verdes e grandes doses de nutrientes. "Até ao tomate o meu corpo não reage bem", especifica.
Esta mudança ocorreu em meados de 2010 e, na temporada seguinte, o sérvio ganhou 10 torneios ATP, três títulos do Grand Slam, jogou 76 encontros e só perdeu seis. "A minha vida mudou, porque agora como os alimentos certos para o meu corpo. Sinto-me fresco, mais alerta e com mais energia do que alguma vez tive na vida", frisa Djokovic, defendendo só ter chegado ao topo da hierarquia mundial graças à dieta isenta de glúten.
Estes são apenas três exemplos. Mas são vários os atletas que adotaram uma determinada dieta alimentar - seja rica em gorduras, como é a da esquiadora Lindsey Vonn, do nadador Michael Phelps e do kitesurfer português Francisco Lufinha, seja isenta de carne, açúcar e massa, como é a de Sergio Agüero, por exemplo - para potenciar o rendimento, evitar lesões e prolongar os anos em atividade.
(Artigo publicado na revista J a 6 de setembro de 2015)