É um dos símbolos da cidade de Guimarães, não só pelo que fez nos relvados, mas também pelo que vai fazendo agora pelos palcos. O antigo guarda-redes, de 55 anos, lembra como divertia o balneário com as imitações de Julio Iglesias, mas não só
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Música e futebol. Qual deles depende mais do trabalho ou do talento?
Os dois de igual forma. Há quem tenha talento e há quem trabalhe. Se sou alguma coisa na música é fruto do meu trabalho. E fui evoluindo. É como no futebol, é preciso trabalho e disciplina para chegar a bom porto. Além do talento, é preciso trabalho para evoluir. Canto melhor hoje do que há 20 anos. Não fui um cantor descoberto. Fui-me descobrindo a mim próprio, assim como às coisas boas da música também. Hoje, canto com mais alma. Antigamente talvez cantasse com mais emoção. Hoje, sou mais racional, sei bem definir o que é o amor e a paixão.
Onde é que o Neno anda a cantar?
Acima de tudo, em eventos de cariz social. A maior parte dos concertos que dou é para ajudar alguém. Mesmo quando jogava futebol, já gostava de ajudar as pessoas. Continuo a fazê-lo, mas com a música. Agora, no concerto do GuimarãesShopping a 20 de maio, vou mostrar a minha música à cidade outra vez. É uma forma simpática de estar perante as pessoas da minha cidade e de fazê-las felizes.
As músicas românticas continuam a ser o seu forte?
Sim, as músicas latinas, do Roberto ou do Julio Iglesias. O meu selo é falar do amor e do desamor.
O público ainda é o mesmo dos tempos de guarda-redes?
Maioritariamente sim. São os mais velhos, que me conhecem das balizas. E elogiam o meu trabalho, dizem que é digno de ser pago, que devia seguir essa carreira.
E por que não segue mais a sério?
Já muitos produtores falaram comigo e recebi convites para fazer um álbum meu. Mas muitos querem que saia do estigma do Julio Iglesias. No entanto, esse é o meu estilo e gosto dele.
Quando deixou o futebol, pensou nisso mais a sério?
Seguir a música como uma carreira foi sempre uma hipótese. E às vezes ainda penso nisso. Quando dou concertos, muitas vezes fico lá duas horas depois de terminar porque fico a falar com as pessoas. O público considera-me um artista no seu esplendor. Gosto da interação com o público, mesmo fora do palco. Nunca me senti intimidado pelo público.
Ainda se lembra de quando nasceu essa paixão pela música?
Quando era criança, brincava a cantar. Sempre disse à minha mãe que ia ser cantor como profissão. O futebol só apareceu depois.
E levou a música para os balneários...
A música sempre esteve presente em todos os balneários por onde passei, do Barreirense ao V. Guimarães, passando pelo Benfica ou V. Setúbal. Os meus colegas adoravam que eu cantasse. Imitava o Michael Jackson, o Julio Iglesias... Agora, é diferente. Há os telemóveis, os tablets... Na altura não havia isso e improvisávamos para nos divertirmos no balneário. Depois, fui convidado para cantar numa gala e para a televisão e as pessoas gostaram. E o bichinho ficou.
Se fosse hoje, com a ajuda das redes sociais, essas cantorias no balneário seriam um sucesso...
Seriam, sim. Mas aquilo que eu fazia no balneário era espontâneo. Às vezes contam-me histórias sobre mim das quais já nem me lembro. O balneário estava sempre feliz.
O Neno está ligado à comunicação no V. Guimarães. Faz falta mais música na comunicação do futebol português?
Sim, precisava de um ambiente mais musical, mais relaxado. As pessoas podem dizer coisas na músicas de uma forma diferente, sem as complicações que giram sempre à volta do futebol. Música relaxa toda a gente. Todos nós somos cantores. Só temos de encontrar um estilo próprio para nós.
Há bons cantores no balneário do Vitória?
Há excelentes cantores e excelentes dançarinos. Eles têm de se revelar, mas são muito envergonhados. Mas no balneário cantam e dançam bem.
Aproxima-se a final da Taça de Portugal. Já tem um concerto em mente para festejar uma eventual vitória?
Antes de mais, enaltecer a época fantástica e brilhante que o Vitória fez. De resto, não preparo esse tipo de festas antes do tempo. Vivo o momento. Se houver Taça, haverá festa, com certeza. Guimarães é uma cidade feliz. Temos tudo para sermos felizes.