Há ameaças com paus e narizes partidos, mas o número de candidatos tem vindo a aumentar. Há uma nova geração de árbitros a despontar, com formação superior e muita vontade de mudar mentalidades
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Ainda não eram nove horas da manhã de sábado 25 de março e à porta do n.º 150 da Rua dos Fanqueiros, em Lisboa, começava a juntar-se um grupo de jovens. Muito heterogéneo. Uns com ar desportivo, à jogador da bola, outros de cadernos e caneta na mão, idades muito diversas - os candidatos podem ter entre os 14 e os 32 anos - semblantes ainda ensonados... Apenas uma rapariga a fazer-se notar.
No segundo curso de candidatos a árbitros de futebol de 2016/17 da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) inscreveram-se 51 pessoas. Mais 23 no curso de futsal, que é feito à parte. Das três raparigas que constavam entre as inscritas, duas desistiram já no decorrer das aulas, num total de três desistências até ao momento, conforme nos explicou Filipe Guimarães, diretor responsável pelo curso que teve início a 22 de fevereiro e tem avaliação final marcada para este fim de semana, após 140 horas de formação. Depois, segue-se um estágio curricular acompanhado por um tutor.
Não são masoquistas nem gostam de levar porrada, apenas se deixaram contagiar pelo que chamam de "bichinho da arbitragem"
"Depois da ida de Pedro Proença ao Mundial do Brasil, em 2014, notámos não só um aumento no número de inscritos, mas também uma diferença no perfil dos candidatos, com mais pessoas com formação universitária e superior", diz Filipe Guimarães. "Formávamos 50 a 60 árbitros por ano até 2014/15", acrescenta. Esta época, serão cerca de 90 os finalistas que sairão da Associação de Futebol de Lisboa.
"Qual a motivação? O profissionalismo, têm uma perspetiva de carreira, um árbitro profissional ganha acima da média, é apetecível. E depois a arbitragem é um bicho, um vírus que quando se agarra, dificilmente consegue sair", afirma Manuel António, coordenador técnico do curso.
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"Estas cenas de violência não acontecem todos os dias. Quando eu era árbitro, era o pão nosso de cada dia. Não quero desculpabilizar o que acontece hoje, mas há 20 ou 30 anos nem se falava nisso, porque era normal o árbitro levar porrada. Agora fala-se nisso e ainda bem!", acrescenta, apontando a tão falada falta de policiamento nos campos como "um convite à agressão ao árbitro". "Para resolver temos de dar o corpo às bolas. A motivação é a verdade. Só vem para árbitro quem quer ser verdadeiro", acrescenta.
"Quando se é árbitro, é-se toda a vida, defende-se uma causa nobre", diz Joaquim Moreira, antigo árbitro/observador e o patrono do curso.