Já foi campeão nacional pelo Benfica e pode voltar a sê-lo, agora pelo Sporting. João Antunes já encerrara a carreira para se dedicar aos estudos de Medicina Veterinária, mas não aguentou ficar só a ver os amigos jogar e regressou a Alvalade, bem a tempo de ajudar a equipa a chegar à final do play-off do Campeonato Nacional, que o Sporting discute com o FC Porto
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É com um enorme sorriso que João Antunes, de 27 anos, recebe a J na sua loja de animais exóticos, a "Welcome to the Jungle", no Lumiar, em Lisboa. Percebe-se que sente-se em "casa", na sua selva preferida, rodeado dos mais diversos animais, desde papagaios a dragões barbudos.
Inaugurada há pouco mais de um ano, em março de 2014, a "Welcome to the Jungle" é um espaço único em Portugal, já que João Antunes cria os extravagantes bichos e continua a dar-lhes assistência já depois de saírem da loja. Com a mesma naturalidade com que pega na bola de andebol, agarra numa das muitas cobras que habitam a loja. "Acho que o amor pelos animais ainda nasceu primeiro do que pelo andebol. E olhe que aos quatro anos já jogava em Leiria. Sempre tive animais: desde o pequeno peixe aos cães. E mais tarde répteis."
Foi precisamente por causa da bicharada que, no final da época 2013/14, o pivô tomou uma das decisões mais difíceis da sua vida: deixar o andebol. "Queria dedicar-me a cem por cento ao curso de Veterinária, que estava a ficar para trás por causa da minha carreira. O processo de renovação de contrato com o Sporting não se concretizou, estava um pouco saturado do andebol e isso tudo precipitou a decisão. A intenção era mesmo acabar, não fazer uma pausa. Queria dedicar-me à loja e acabar o meu curso. Com treinos de manhã e de tarde, as aulas ficavam sempre para segundo plano. É um curso que requer muito tempo, muito trabalho, muitas horas no hospital."
Os treinos e os jogos foram substituídos por outras ocupações. Começou a jogar futebol, ir ao ginásio, fazer surf e, claro, estudar. Fez uma viagem pela Ásia durante um mês, na qual viu de perto animais fascinantes. Oito meses depois, voltou o apelo do andebol. "Nunca deixei de estar com os meus amigos. No Sporting não tinha apenas colegas. Somos todos muito amigos. Sabia tudo o que se passava no clube, continuava a assistir aos jogos e o clube, através da responsável pelo andebol, a Helena Duarte, lutou pelo meu regresso. Chegámos a acordo no início deste ano e até agora foi uma aposta ganha. Até porque estamos na final."
E a "Welcome to the Jungle" não foi esquecida por nenhuma das partes. "A loja também entrou no acordo, porque tenho responsabilidades aqui e não posso largar o negócio de um momento para o outro. Não vou faltar a treinos ou a jogos, mas houve cedências e só tenho a agradecer ao Sporting por isso."
Camaleões em casa
Foi precisamente quando chegou ao Sporting, em 2012, que João Antunes começou a desenvolver este projeto em redor dos animais. "Comecei à procura de loja, assim como a informar-me sobre o que era necessário para a gestão de um negócio. Os meus pais ajudaram-me. Estou no segundo ano de Medicina Veterinária, mas já tinha este projeto na cabeça desde pequeno. E achei que estava na altura de o desenvolver. Os animais são o meu futuro."
O futuro, o presente e o passado. O primeiro animal de João foi um cão, um Serra da Estrela que o pai trouxe para a vivenda da família em Leiria. Os animais exóticos só surgiram mais a sério na vida do andebolista quando mudou para a capital. "Quando vim para a Lisboa, fui viver com a minha irmã. Já tinha salário e quis ter o meu primeiro réptil, um dragão barbudo. Depois fui tendo mais e mais e, quando estava no Madeira SAD, pensei pela primeira vez em abrir uma loja. Foi o único período da minha vida em que não tive animais. Mas vinha muitas vezes a Lisboa matar saudades." A loja guarda agora a maioria dos animais de João. Em casa tem apenas camaleões e uma cadela dogue alemão. O investimento é grande, em tempo e dedicação. "Tive um arquiteto comigo, um grande amigo, o João Faustino, e desenhámos o espaço à medida. Temos crescido imenso, nas vendas, nos curiosos que querem ver e tocar nas cobras, pessoas que antes nem pensavam em aproximar-se. Essa também é um pouco a nossa missão: ajudar a mudar mentalidades, explicar ao público a realidade dos animais exóticos. Fazemos workshops, mostras em escolas, festas de aniversário. As cobras não são más."
(Este texto foi publicado, na íntegra, na revista J de 26 de abril de 2015)