Uma Bola e uma Bota de Ouro, um troféu da Liga dos Campeões, uma estátua de cera, uma réplica do quarto dos tempos em que viveu em Lisboa, são algumas das atrações do CR7 Museu Itinerante, que passou por Lisboa. A J foi visitar e falou com um amigo próximo do internacional português.
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Miguel Paixão encerrou, aos 31 anos, a carreira nos relvados do Oriental para se dedicar ao CR7 Museu Itinerante, do seu grande e velho amigo Cristiano Ronaldo. "Costumo dizer ao Cristiano que ele é tão feliz no Real Madrid como eu sou aqui", diz-nos o algarvio que travou amizade com o internacional português há 17 anos, nas camadas jovens do Sporting e, neste momento, está a fazer visitas guiadas na exposição sediada, por enquanto, em Lisboa.
Depois de mais de dois meses no Algarve, em Faro e em Vilamoura, o CR7 Museu Itinerante mudou-se para o Parque Eduardo VII, onde estará de portas abertas até 15 de outubro. "No Algarve recebemos cerca de 40 mil visitantes", revela o diretor do projeto Pedro Sá, explicando o conceito da exposição itinerante.
"O Cristiano Ronaldo é uma pessoa conhecida mundialmente e este museu conta a história de alguém que teve um percurso muito difícil e chegou ao topo da sua profissão. É a luta pela concretização de um sonho de criança. Há pessoas que se emocionam ao conhecer a história, o meio humilde em que ele nasceu, as dificuldades por que passou, o quanto lutou e trabalhou para cumprir o seu sonho. Este museu faz-nos acreditar que é possível", garante Pedro Sá.
A ideia de expandir o museu sediado no Funchal para um projeto itinerante surgiu da constatação da impossibilidade de todas as pessoas poderem viajar até à Madeira. "Felizmente o Cristiano Ronaldo tem tantos troféus que dá para ele ter, por exemplo, uma Bota de Ouro no Museu da Madeira, outra no CR7 Museu Itinerante, uma em casa e ainda sobra uma para a troca", diz Pedro Sá, em jeito de brincadeira, referindo-se aos quatro troféus conquistados pelo atleta de 30 anos em 2007/2008 pelo Manchester United e 2010/2011, 2013/1014 e 2014/2015 pelo Real Madrid.
A Bota de Ouro não está só no Parque Eduardo VII. A segunda das agora quatro Bolas de Ouro do jogador - devidamente protegida e vigiada - também reluz no espaço recheado de outros distintos prémios, conquistados desde os primórdios no Andorinha até ao Real Madrid, passando pelo Nacional, Sporting e Manchester United.
Aos exemplares das vistosas Taças da Premier League, do Campeonato Espanhol, Liga dos Campeões e da Copa do Rei [amolgada como a original, que caiu das mãos de Sérgio Ramos quando celebravam a vitória no autocarro da equipa] juntam-se outros prémios de menor dimensão, camisolas autografadas e imagens de lances e momentos decisivos na carreira do médio ofensivo. Por exemplo o primeiro e último jogo de CR no novo Estádio de Alvalade contra o Manchester United que precipitou a sua contratação por Alex Ferguson.
Além destes galardões de notável valor material, a exposição apresenta outros registos de valor mais sentimental: algumas fotografias ainda em bebé e mais tarde com o pai Dinis Aveiro, os pesos com que corria e treinava por iniciativa própria, precisamente no Parque Eduardo VII, ainda nos tempos do Sporting, a cama onde dormia em Lisboa, chuteiras, bolas de jogo, cartas, etc, etc.
Os placards onde estão assinalados os recordes profissionais estão, por sua vez, desatualizados. E a culpa, essa, é da exclusiva responsabilidade de Cristiano Ronaldo que, nas vésperas da abertura do museu, faturou 8 golos [três contra o Shaktar Donetsk, a contar para a Liga dos Campeões, e quatro frente ao Espanhol na Liga Espanhola]. "É difícil acompanhar o ritmo dele" defende-se Pedro Sá.
Cabecear a 2,73 metros de altura
O museu Itinerante CR7 está dividido em três áreas. A primeira direcionada para as origens na Madeira e o percurso profissional. A segunda para o merchandising. Na terceira, a mais lúdica, os fãs do craque têm uma estátua de cera em tamanho real, uma baliza tapada com apenas dois orifícios para treinar livres, uma das especialidades de CR, e uma bola suspensa no ar para cabecear. E é aqui que miúdos e graúdos mais se impressionam com a realidade e o grau de dificuldade de um remate certeiro e de uma capacidade de elevação (2,73m) superior à média dos jogadores da NBA.
E foi ao ritmo dos treinos dos visitantes que Miguel Paixão nos falou um pouco sobre o jogador do Real Madrid, com quem partilhou residência e as salas de aulas. "Falei há dois dias com ele e estivemos juntos quando Portugal jogou com a França. Temos uma amizade verdadeira, como tenho com outros amigos, só que o Cristiano é o melhor do mundo" explica de forma simples à J aquele com quem o avançado hoje passa alguns dias de férias.
"Estivemos no Mónaco. Férias de amigos", prossegue Paixão, visita habitual da casa de Cristiano Ronaldo em Madrid. "Já lá fui algumas vezes, ele convida. Conheço a mãe e os irmãos dele há muitos anos, com quem sempre houve empatia e amizade. O Cristiano continua a ser a mesma pessoa. Simples, super divertido, brincalhão, focado e um grande jogador. Lembro-me de estarmos no Sporting e ele puxar por nós para treinarmos depois dos treinos da equipa. Como fomos apanhados algumas vezes pelo segurança e ficámos de castigo, a solução do Cristiano foi arranjar dois baldes para encher com água e fazer trabalho de ginásio no duche. Hoje, quando vou a casa dele, logo pela manhã está a bater-me à porta do quarto para irmos treinar. Ele já é o melhor do mundo, não precisa, mas é assim, focado e trabalha até ao limite. Sempre foi assim", assegura, revelando outra história antiga.
"Sempre teve uma mentalidade diferente. Recordo-me dele a observar os treinos do atletismo e a pedir dicas ao Obikwelu para melhorar a velocidade e impulsão. Depois, todas as noites fazia o seu trabalho extra e tentava aplicar a técnica da corrida e as dicas para melhorar o arranque".
Além de considerar o amigo um "viciado em exercício físico", Paixão recorre às palavras de Cristiano Ronaldo para explicar a capacidade de ter dois museus e ambos bem compostos. "Como ele próprio diz, é uma paixão e um prazer! Mas eu acredito que, para lá do talento, é a disciplina e o rigor que ele tem na vida que lhe permite alcançar tantas vitórias. Só lhe falta ganhar alguma coisa com a Seleção. É um sonho que ele tem e ainda não perdeu a esperança", resume, não escondendo o "enorme orgulho" que sente por aquele que considera "como um irmão".
Próximo destino: Madrid
"O Miguel Paixão é uma peça viva deste Museu", descreve Pedro Sá sobre o guia e amigo de Cristiano Ronaldo. O antigo avançado não comete inconfidências, nem partilha episódios de foro pessoal, mas conhece como poucos o percurso e o caráter do amigo, por quem nutre grande admiração e orgulho. "Tenho camisolas dele, bolas de um jogo ou outro, algumas peças dos uniformes oficiais, presentes que ele me oferece", diz com brilho nos olhos sobre o seu espólio privado by CR7.
"Até o meu filho Martim, que tem 4 anos, adora e fica de tal modo vaidoso que vai para a escola contar que foi o Cristiano Ronaldo a oferecer. Antes ninguém acreditava, até ao dia em que fui receber o Globo de Ouro pelo Cristiano" confidencia, entre risos, o discreto algarvio que vai deixar Portugal para acompanhar o projeto em Madrid, próxima cidade onde vai estar instalado o CR7 Museu Itinerante, e Ásia.
"Pelo Cristiano vou até ao fim do mundo e só posso agradecer esta oportunidade", sublinha. O regresso a Portugal só no próximo ano. "Temos muitas solicitações da China, Japão, Coreia, onde o Cristiano Ronaldo é muito querido, por isso talvez no próximo verão haja oportunidade de voltar a Portugal e, quem sabe, ao Porto", afirma Pedro Sá.
(Artigo publicado na revista J a 27 de setembro)