As bancadas da II Liga apresentam-se nesta época mais compostas. Em média, há mais 68 espectadores por jornada, com o recém-chegado Famalicão a causar inveja a quatro clubes da I Liga pela popularidade, bem acompanhado pelo Chaves e Varzim. A imprevisibilidade do campeonato, dizem, tem aguçado a curiosidade dos adeptos
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No último suspiro no formato de 24 clubes e 46 jornadas, a II Liga parece contrariar a ideia de que só poderá tornar-se mais apelativa com uma redução de 24 para 22 equipas já no fim desta época, conforme aprovaram os clubes das ligas profissionais em assembleia geral, no âmbito de um plano de emagrecimento que aponta para apenas 20 em 2017/18. Um dos desígnios da Direção da Liga presidida por Pedro Proença passa por aumentar as assistências e a verdade é que esse fenómeno já se verifica, contabilizando-se mais 68 espectadores por jornada em relação à média registada na temporada passada.
De volta aos campeonatos profissionais, o Famalicão e o Varzim juntaram-se a Chaves e V. Guimarães B na arte de colorir estádios com adeptos, sempre acima da barreira dos 1200 por jogo, e a campanha tem corrido tão bem que o Famalicão figura nesta altura num honroso 15.º lugar no ranking dos 20 clubes com maiores assistências, dominado, claro está, por emblemas da I Liga.
O Moreirense está no fundo da tabela (20.º) e tem à sua frente o Chaves (19.º), que já em 2014/15 era a grande referência da II Liga no tocante a boas casas. Atrás do Famalicão, com menores médias de assistências, surgem, para além dos cónegos, Nacional, Estoril e União da Madeira.
Jorge Silvério, coordenador dos Oficiais de Ligação aos Adeptos (OLA), entende que "a atual competitividade da II Liga" será a "melhor explicação" para o acréscimo de assistências. "É mais imprevisível do que a I Liga, como refletem os resultados e as constantes mudanças na classificação, de jornada para jornada. Há um equilíbrio de forças entre grande parte das equipas", considera o psicólogo desportivo e professor universitário, desejando que a "tendência de crescimento" seja "duradoura" e não exclusiva desta época.
Entre os clubes da II Liga que mais adeptos atraem, os pontos de contacto são, em regra, dois. "Lutam normalmente por objetivos elevados ou, então, são muito populares, implantados em cidades muito bairristas, como acontece com o Famalicão, o Chaves, o Varzim e o V. Guimarães B. E o Leixões só não figura, nesta altura, nesse grupo porque está mal classificado. A identificação dos adeptos com os clubes é mais evidente perante os sucessos desportivos", explica Jorge Silvério, nada espantado com as enchentes registadas em Famalicão. "Gostam muito de futebol naquela terra e há muito que as pessoas não viam futebol de alto nível."
Implantado num concelho com cerca de 140 mil habitantes, o Famalicão é o recordista de assistências na II Liga. Em média, o Estádio Municipal recebe 2666 adeptos por jogo e não falta muito para o clube igualar, ou mesmo ultrapassar, o acumulado de espectadores somados pelo Chaves na época passada (48 593). Quase duas décadas depois da última presença na II Liga, o clube apresenta-se pujante em todos os sentidos, enchendo de orgulho o presidente Jorge Silva. "São famílias inteiras a assistir, mas o departamento de comunicação e marketing promove muito bem os jogos. O clube tem ido às empresas, às escolas e ao centro da cidade para convidar as pessoas a fazerem-se sócias e a assistirem aos jogos", conta.
O dirigente garante, porém, que a atual popularidade do clube está longe de ser uma conquista recente. "Se recuarmos aos anos 1990, quando o Famalicão desceu à III Divisão, o clube já levava multidões aos jogos, mesmo fora de casa. As pessoas de Famalicão gostam muito de futebol e identificam-se com o clube. Por sua vez, o clube ouve os adeptos. Agora, imaginem como seriam as nossas médias de assistências se recebêssemos FC Porto, Benfica e Sporting", propõe.
O burburinho constante que se ouve das bancadas quando o Chaves joga em casa, a segunda equipa com melhor média de assistências da II Liga, tem sido música para os ouvidos de Vítor Oliveira. Depois de ter promovido o União da Madeira, o treinador assumiu o comando do Chaves com o mesmo propósito e confirma que agora dispõe de um trunfo especial: os adeptos. "São fundamentais. Os jogadores sentem muito o apoio e também a crítica, que os obriga a retomar rapidamente o trilho das vitórias. Sem essa gente, seria muito mais difícil a luta pela subida", reconhece.
Sócios triplicaram no Famalicão
Eleito presidente do Famalicão em dezembro de 2015 para o quadriénio de 2015/2019, Jorge Silva agita como principal bandeira do seu mandato o crescimento exponencial de sócios. "Quase triplicámos. Agora, somos aproximadamente seis mil", determina o dirigente, certo de que nenhum dos sócios duvida das boas intenções da atual Direção do clube. "As pessoas de Famalicão sabem que este clube não satisfaz os interesses financeiros de ninguém, identificam-se totalmente com ele", sublinha.
"Queixas? Conforto, horários e segurança"
Como coordenador dos Oficiais de Ligação aos Adeptos, órgão sob a alçada da FPF que tenta conciliar os interesses dos adeptos com os clubes, Jorge Silvério está habituado a várias queixas. As principais relacionam-se com "horários dos jogos, conforto e segurança" nos estádios da II Liga. "Vários clubes da II Liga fizeram obras por indicação da Comissão de Vistorias da Liga, daí que os estádios neste momento proporcionam melhores condições de conforto aos adeptos", explica.
Bês do V. Guimarães destoam dos demais
Há uma curiosa constância no V. Guimarães B. Em 2014/15, era a equipa que detinha a segunda melhor média de assistências (1629 espectadores por jogo), depois do Chaves; já nesta época, mantém-se acima da fasquia de mais de um milhar de adeptos por jogo, mantendo-se, por isso, no lote dos clubes mais populares, atrás de Famalicão, Chaves e Varzim. Com Braga B, FC Porto B e Sporting B abaixo da meia centena de espectadores por jogo, só o Benfica B se aproxima, ainda que a uma distância considerável, do registo dos vimaranenses.