Fátima Araújo: "A morte do antigo futebolista Fehér foi a notícia mais triste que dei"
FORA DE JOGO - Fátima Araújo tem um sorriso que nos prende aos écrans. É a jornalista que habitualmente nos manda para a cama com as últimas notícias do dia na RTP3. Fogaceira com muito orgulho, não gosta de futebol, mas tem no Feirense e no FC Porto dois amores de sempre. Para ela, os jornais televisivos deviam levar uma volta. Eu também acho.
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És natural de Santa Maria da Feira. Ficas aborrecida comigo se te chamar fogaceira?
Claro que não! Até porque o termo fogaceira é muito elogioso! As fogaceiras são as raparigas que, todos os anos, ajudam a cumprir a tradicional festa das fogaceiras, transportando as fogaças do voto ao mártir São Sebastião! Como eu gosto desta tradição secular, como gosto de ser rosto e voz do meu concelho, e como amo fogaças, chamarem-me fogaceira só pode ser um elogio!
E a propósito, quantas fogaças comes por ano?
Não como fogaça todos os meses, mas como, talvez, umas seis a oito fogaças por ano!!! Adoro fogaça, amo mesmo de tanto prazer que me dá comer fogaças! E ofereço muitas, ao longo de todo o ano aos amigos e aos colegas de trabalho! Se calhar, as fogaças que eu ofereço ao longo do ano são mais do que aquelas que eu como!!
Fizeste parte do projeto da NTV, uma televisão do Norte, que enquanto viveu foi bonito. Tens saudades desse projeto?
Tenho saudades do espírito de equipa e de união que havia entre as pessoas, quando integrei esse projeto. Tenho saudades da alegria e da amizade que havia entre as pessoas que o integraram. Tenho saudades da puerilidade com que encarávamos as coisas, sem o peso da responsabilidade que, agora em adultos, é carregado. Tenho saudades das palavras de incentivo que recebíamos de quem estava à frente do projeto e das pessoas do Norte. Tenho saudades de muitas coisas que se perderam com o tempo.
Ser jornalista foi um projeto de menina ou em criança só brincavas às Barbies e às cabeleireiras?
Desde os 14 anos que quis ser jornalista, porque foi nessa idade que comecei a fazer rádio e, desde essa altura, que não tive dúvidas de que a minha vida passaria pelo jornalismo! (Se soubesse, na altura, o que sei hoje... Lol, lol, lol!!!). Antes dos 14 anos, quis ser ginasta de alta competição ou patinadora artística no gelo.
Tens uma frieza e segurança como pivô que impressionam. Onde é que aprendeste a ser assim?
Acho que essa frieza e segurança a que te referes resultam do facto de eu ser estupidamente responsável e de levar as coisas demasiado a sério. Não consigo encarar o trabalho na desportiva, levo tudo demasiado a sério (o que é um defeito), sou muito pouco tolerante aos erros (aos meus e aos dos outros), quero sempre que tudo saia o melhor possível e nem sempre é possível fazer o melhor. Por isso, acho que ao ser fria e ao mostrar segurança, estou a criar uma carapaça, uma defesa minha, para não me deixar abalar tanto pelas falhas que cometo e digo, todos os dias.
És a cara da RTP 3 no último jornal do dia. Achas que as pessoas ainda têm paciência para ver notícias a essa hora?
Sinceramente, o feedback que tenho das pessoas é que já não têm quase paciência nenhuma para ver notícias, seja a que hora for, nos moldes em que os jornais são feitos nas televisões portuguesas. Sinto, até pelo que vou conversando com as pessoas, com o público, que as nossas televisões precisam, urgentemente de mudar de paradigma, de conteúdos, de critérios editoriais e de diversificar as suas ofertas nas plataformas digitais. Continuamos a fazer televisão como fazemos há décadas e o mundo mudou. Em todos os sentidos, a todos os níveis.
Deitas-te muito tarde ou quando chegas a casa ainda vais ver se disseste alguma asneira?
Deito-me sempre muito tarde, nunca antes das três ou quatro da manhã, até porque só chego a casa do fim da jornada de trabalho às duas. Normalmente, vejo Netflix, antes de adormecer. E, sim, puxo a box para trás, para ver as trapalhadas que faço ou que digo, sempre que me apercebo no ar que a asneira foi grande!
Nunca te apeteceu mandares um entrevistado apanhar gambozinos?
Já relativizo... Como não sou eu que escolho os convidados que entrevisto, como essa não é função minha, nem responsabilidade minha, relativizo ...
Qual foi a notícia que mais te custou dar?
Talvez a morte do antigo futebolista Fehér. Porque eu estava em direto, quando ele caiu inanimado em campo e morreu, tive de interromper o jornal que estava a apresentar e tivemos de abrir uma emissão especial que durou a noite toda. Uma morte em directo, o facto de não se ter informação exata sobre o que aconteceu e correr-se o risco de errar, ao especular, e o facto de ter sido durante um jogo de futebol dificultou o meu trabalho, nessa noite.
E a que mais te agradou?
Não foi uma notícia, mas sim uma emissão especial que fiz, há uns anos, sobre a história da rádio, na qual entrevistei alguns ícones que fazem parte da história das nossas rádios.
Sei que não gostas muito de futebol, mas tens um clube preferido?
Não gosto de futebol, não percebo de futebol (embora estude o futebol, quando tenho de falar de futebol), custa-me compreender os critérios editoriais da imprensa, das rádios e das televisões à volta do futebol e não sou adepta de nenhum clube. Simpatizo com o Feirense e com o Futebol Clube do Porto, por uma questão de proximidade geográfica!
Apesar de não gostares de futebol, és uma pessoa atenta ao fenómeno. Tens um palpite sobre quem vai ganhar este campeonato?
O Futebol Clube do Porto, pois claro!