FORA DE JOGO - Entrevista a Álvaro Costa
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Não é preciso dizer muito para apresentar Álvaro Costa. Portugal conhece-o bem, há muitos anos. Um homem da rádio, da televisão e um apaixonado por futebol. É ele o convidado deste domingo.
Foste um dos pioneiros dos programas sobre música na televisão. Foi preciso coragem...
-A minha carreira é um conjunto de acasos que se encaixaram uns nos outros..Eu deveria ser hoje um bom professor de Língua Inglesa ou Literatura e Ciência Política americanas. O eu de então ficaria alucinado com tudo o que foi acontecendo, porque nunca imaginou que o futuro eu viria a passar pela BBC, pela Music Box, pela Westwood 1 de Los Angeles, e tudo o que posso incluir no meu currículo. Na altura , anos 80 bem medidos, não havia lugar para medos ou receios.
Afinal, a tua paixão é a rádio ou a televisão?
-Vi, recentemente, uma entrevista minha ao já desaparecido O Comércio do Porto onde eu dizia que estava a caminho a fusão das linguagens de comunicação. Passaram 20 anos desde essa " bitaitada" (homenagem ao meu pai Bitaites) e é esse o tempo que vivemos. Como paixão total? Um estúdio de FM numa cave com "aquele "cheiro, o que ainda recordo e conheci em Maio de 1980, quando entrei pela primeira vez em Tenente Valadim, no ex-RCP, já nacionalizado. Esse dia de Maio, maduro Maio, mudou a minha vida futura.
A Liga dos Últimos foi um dos teus programas com maior sucesso. Aprendeste muito com o Bitaites?
-A Liga dos Últimos era uma Volta a Portugal sem bicicleta, um conto televisivo de histórias ao estilo do realismo mágico de Borges ou Cortázar. O futebol popular era o ponto de partida, mas não de chegada. Ainda hoje, é raro o dia em que não me falam da Liga e eu respondo sempre que, sem o nosso líder, sem o eterno Prof., não aceitaria apresentar uma versão 2.0. Conviver com o Prof. Hernâni Gonçalves era delirante. Uma pessoa única e que jamais esquecerei!
Qual foi o programa que mais prazer te deu fazer?
-A lista é grande e costumo dizer que o melhor está sempre para vir. Agora, estou a desenvolver com o Alexandre Bernardo o Globalnews.pt, uma ideia de TV digital híbrida, sinal de que continuo entusiasmado com o que faço. Respondendo diretamente à pergunta, fiz imensa coisa diferente, o que torna a escolha muito complicada.
O Traz prá frente, da RTP Memória, é muito sui generis. Aprende-se muito com o Júlio Isidro?
-O Tio Julião devia ser considerado de utilidade pública e Nncionalizado. A história do show biz nacional e da RTP passam totalmente por ele. Em Los Angeles, quando por lá nos encontrámos, eu apresentava-o como o Johnny Carson nacional e os meus amigos sentiam imediatamente que estava ali "alguém", e isto na cidade capital do entertainment. E temos os bastidores do Traz, os momentos em que nos divertimos à farta, o que aliás faz transfer para o ambiente do programa, que já tem seis anos, o que, na televisão atual, é um numero vetusto.
Rio Ave ou FC Porto, qual é o teu grande amor?
-Pergunta de um milhão de euros... (risos) Resumindo: o Rio Ave é a minha infância/juventude vila-condense e a delirante atmosfera do mítico Avenida. Na semana seguinte, ia ver o FC Porto com o meu Pai e Irmão às Antas, subia as Eirinhas, ia pela Avenida, passava o Restaurante Vitória sempre com uma bandeira enorme... como o Marco Paulo, eu tenho dois amores, sem qualquer "bigamia" desportiva. Quando se encontram, torço por aquele que precise mais dos pontos.
Disseste muitos palavrões quando o Rio Ave desceu?
-Já tinha dito palavrões e dado pontapés em objetos quando o Milan, após os vinte e tal pontapés da marca de grande penalidade, seguiu em frente. O Donnaruma começou a época a defender penalidades e acabou da mesma maneira, na final do Campeonato da Europa. Sabes que, como alguém que vive estes momentos, fiquei com mau "feeling" para o resto da época e, infelizmente, acertei. Fiquei com a sensação de que aquele drama todo iria ter alguma influência. Era apenas um "feeling"...
Achas que o FC Porto vai ganhar o campeonato?
-Aguardemos pelo desenrolar da época. Existe muita gente jovem que vai ter de crescer, e acredito que o Taremi e o Luis Díaz, por exemplo, ainda vão ter margem de desenvolvimento e importância no grupo. Encontrei, há tempos, o Pepe e dei-lhe muita moral e senti que ele tem essa consciência de que esta é uma época de arregaçar mangas e complexa. Vivemos tempos ainda pandémicos, o mercado e a indústria do futebol perderam valor e fazer bons negócios não é nada fácil.
Não achas que o Sérgio Conceição podia sorrir mais um bocadinho?
-Algo que nunca disse publicamente: um dos filhos do mister nasceu na mesma clínica e no quarto ao lado da minha filha Francisca. Era uma alegria dupla; ser Pai e ver o Jorge Costa, o Folha e outros no mesmo corredor... Ele não precisa que o "defendam", mas muitas vezes digo a muita malta que é um homem de grande coração e bom. Mas não lhe ficaria mal um maior controle emocional. Cada um é como é.
Qual foi a figura que mais gostste de entrevistar?
-Sem hesitar meio segundo, David Bowie. Um senhor e uma figura cujos posters eu tinha no meu "cubículo" vila-condense dos anos 70 e jamais me passaria pela tola que um dia "trocasse umas bolas" comigo....