Este ano, Gonçalo Bettencourt também vai correr, pelo menos até ao Edifício Transparente, que, junto ao Parque da Cidade do Porto, acolherá o secretariado. No próximo domingo, corre-se a Wings for Life, a única corrida planetária onde é a meta que persegue os atletas
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Foi jornalista de viagens em várias publicações nacionais e trabalhou numa revista de automóveis, até decidir passar para a assessoria de comunicação e ajudar a lançar em 1999 o primeiro evento da Red Bull em Portugal, um inédito desafio de snowboard no Parque das Nações, em Lisboa. Veio depois a Red Bull Air Race, que colocou um milhão de pessoas a olhar para o ar nas margens do rio Douro. Desde 2014, Gonçalo Bettencourt, de 44 anos, vive a corrida Wings for Life como se fosse sua. E de certo modo até é! A Wings for Life é de todos os que queiram contribuir.
No próximo dia 8, o Porto vai receber a 3.ª edição da Wings for Life. É uma corrida com umas características muito específicas...
É única no mundo. Vai realizar-se em simultâneo em 34 países de seis continentes. É a única corrida global do planeta. Além disso, em vez de ter uma distância fixa, como é habitual nas corridas, é a meta que persegue os corredores.
Como assim?
Existe um "Carro Meta", que inicia a sua perseguição 30 minutos depois do tiro de partida e vai aumentado progressivamente a velocidade. A prova termina quando o atleta for apanhado pelo "Carro Meta", o que quer dizer que tanto pode correr sete quilómetros, como aconteceu no ano passado, na África do Sul, com o concorrente mais velho do mundo, com 94 anos, como correr 79,90 quilómetros como o campeão global masculino das duas primeiras edições, o etíope Lemawork Ketema.
A Wing for Life é também uma corrida solidária. Quem pretende ajudar?
Todas as pessoas que sofrem lesões na espinal medula. O valor das inscrições é integralmente para a fundação com o mesmo nome, que tem como objetivo encontrar a cura para as lesões na espinal medula. Nos seus 12 anos de existência, já apoiou e financiou 123 projetos de investigação científica de ponta.
Cada inscrição para a prova custa 25 euros. Não lhe parece caro?
Em Espanha, cada inscrição custa 40 euros. Portugal é um dos países onde é mais barato, mas sabemos que as pessoas tendem a achar excessivo. Tivemos esse feedback nas duas anteriores edições e, por isso, este ano, o valor das inscrições começou nos 15 euros. Agora é que está nos 25 euros.
Segundo disse, a corrida vai acontecer em simultâneo em 34 países. Isso não faz com que, em alguns países, seja de noite à hora da prova?
Sim. Acontece durante a noite ou pela madrugada fora, por exemplo, na Coreia do Sul, Nova Zelândia, Austrália ou costa Oeste dos Estados Unidos. Há 13 fusos horários diferentes. Em Portugal, a partida é às 12h00. A corrida em simultâneo implicou um grande investimento por parte da Red Bull, que cobre todos os custos do evento a nível planetário, em tecnologias específicas. Imagine mais de 136 mil pessoas, que foi o número global de participantes em 2015, a partirem exatamente no mesmo segundo! Um atleta pode estar a correr em Portugal contra alguém que se encontra no Japão, não é fabuloso?
Qual a história deste evento? E porquê as lesões na espinal medula?
A história desta corrida tem muito a ver com a história da própria fundação, que foi criada em 2004 por Heinz Kinigadner, antigo campeão do mundo de motocrosse que viu o seu filho sofrer um acidente numa prova de motos e a ficar paraplégico. O fundador da Red Bull era muito amigo de Heinz Kinigadner e ambos criaram a fundação. A corrida apareceu no seguimento, como forma de arranjar dinheiro para a investigação científica, não apenas da cura mas também da melhoria da qualidade de vida dessas pessoas.
Quantas pessoas estão inscritas na corrida portuguesa?
Neste momento, estão inscritas 2760 pessoas em Portugal. Até ao dia 4, as inscrições continuam a decorrer online. Depois, ainda é possível a inscrição dias 6 e 7 no Edifício Transparente, ao pé do Parque da Cidade, no Porto.
Qual é o prémio da prova?
Para os vencedores nacionais, masculino e feminino, o prémio é escolher um dos 34 percursos à volta do mundo para correr em 2017. Os vencedores globais irão receber uma participação num campo de treino com a duração de quatro semanas, para duas pessoas, com as despesas incluídas. Este ano, a Doroteia Peixoto, que ganhou em 2015, vai estar a correr no Canadá, nas Cataratas do Niágara, e o Daniel Pinheiro nos Emirados Árabes Unidos.
SAIBA QUE
"Sabia que em todo o mundo há três milhões de pessoas afetadas por lesões na espinal medula? Mesmo assim, este número não é suficientemente apelativo para a indústria farmacêutica", afirma Gonçalo Bettencourt, para explicar a razão da existência da Fundação Wings for Life. "Quando o filho ficou paraplégico, Heinz Kinigadner chegou à conclusão de que existiam poucos esforços e investimentos em torno deste tipo de lesões." Gonçalo Bettencourt acrescenta ainda alguns dados: que 50% dos casos resultam de acidentes de viação, 23% de quedas e só 9% têm origem no desporto. Em 2014 e 2015, a Wings for Life World Run conseguiu angariar cerca de sete milhões de euros.