Já há corridas de drones em Portugal. O que pode parecer um monte de maluquinhos geeks a conduzir pequenas máquinas voadoras está a tornar-se num desporto com grande potencial de crescimento. Carlos Estêvão está a fazer por isso no nosso país.
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Carlos Estêvão tem 43 anos, é natural da Madeira e vive em São Martinho do Porto, no concelho de Alcobaça. É o rosto mais visível das corridas de drones em Portugal. Em julho de 2015, criou a Portugal Drone Race e, no início deste mês, realizou em Miranda do Corvo, Coimbra, a primeira competição mais estruturada, com patrocínios e divulgação nacional. A 4 de junho, há mais em Lisboa, na Landing Jobs Festival/FPV Drone Race.
Estamos perante o nascimento de uma nova modalidade motorizada?
Espero que sim [risos]. Vai ser como a Fórmula 1, mas em menor dimensão. Nos Estados Unidos, já começa a ganhar alguma dimensão, mas cá ainda estamos a começar.
Realizou-se no início de abril em Miranda do Corvo aquilo a que chamaram "evento zero".
Foi a primeira corrida de drones a ter maior mediatismo. Conseguimos reunir alguns patrocínios e 32 pilotos. Não serão todos, mas certamente a maioria dos que existem em Portugal.
Qual o gozo das corridas de drones?
Fazem com que nos sintamos o super-homem. Parece que estamos a voar.
Vi umas imagens no Youtube e enjoei...
[risos] Às vezes também acontece aos pilotos. Um amigo meu costuma dizer que conduzir um drone de corrida é como ir num avião da Red Bull a fazer loopings e acrobacias aéreas.
Portanto, há drones especificamente para corridas. De um modo simplista, quais as diferenças em relação aos drones normais?
Não têm GPS, tu mesmo comandas o aparelho, além de serem mais rápidos e feitos com materiais mais resistentes.
Que velocidade pode atingir um drone de corrida?
Uns 120 km/h. Existem várias classes, consoante o tipo de hélice e a potência do motor.
Que habilidades exige de um piloto?
Muita destreza de mãos e agilidade mental. Um piloto precisa de ter uma boa perceção do espaço e ser muito rápido a decidir. Quem joga Playstation, por exemplo, terá mais facilidade. De qualquer modo, é um desporto que requer muita prática e teimosia. É voar, cair, montar e voltar a voar, cair e montar... Em seis meses, consegue-se manobrar muito bem um drone de corridas.
Falou da Playstation e, de facto, o que as corridas de drones fazem lembrar são os jogos de computador transpostos para a realidade...
E é um bocado. Com a corrida de drones, vês muitas pessoas sair, pela primeira vez, da frente do computador para a rua para sociabilizar. E isso é o que as corridas de drones têm de mais fantástico: faz com que muitos nerds e geeks possam conviver na vida real [risos]. Há alguns que só falam de hélices, baterias, volts... [risos]
Já existe um quadro competitivo em Portugal?
Não. Ainda não estamos nessa fase. Existem apenas eventos soltos. A Federação Portuguesa de Aeromodelismo está a tentar com que os clubes de aeromodelismo criem secções de corridas de drones e vai tentar implementar, este ano, em Portugal o regulamento F3U, da Federação Mundial de Desportos Aéreos (FAI).
Já existem muitas provas na Europa?
Sim. Portugal está a ser um dos últimos países a introduzir a modalidade. Há menos de um mês realizou-se uma prova no Dubai com corredores de todo o mundo, algo parecido com o primeiro campeonato do mundo alguma vez realizado.
Como apareceram os drones na sua vida?
Sou designer de comunicação e há sete anos resolvi comprar um multirotor de três cabeças. A ideia era vender o serviço de captação de imagens, mas nunca cheguei a fazê-lo. Começava a ver o que se fazia lá fora e nunca estava satisfeito com o que tinha. Fui comprando equipamento e acabei por adquirir também um drone de competição. Moro em São Martinho do Porto, tem bons sítios para se treinar, mas não tinha com quem. Lancei no Facebook a página Portugal Drone Race, comecei a frequentar fóruns e é uma bola de neve. Agora, estou a organizar provas e tenho-me apercebido de que existem investidores interessados em patrocinar equipas. Este é o momento ideal para isso.
SAIBA QUE
Fazer corridas de drones é muito mais do que colocar os óculos especiais, os chamados "googles", pegar no controlo remoto rádio e conduzir o aparelho como se lá estivesse dentro. "Dei comigo a andar com o carro cheio de tralha e a demorar uma infinidade de tempo a preparar o material para sair de casa; para depois chegar ao local e faltar-me uma chave qualquer necessária para a montagem do aparelho", comenta Carlos Estêvão, com humor, explicando que todo o ritual em redor das tecnologias aplicadas ao desporto faz parte do prazer de o praticar. Carlos Estêvão também quis deixar claro que os drones de corridas não servem nem para espiar ninguém nem voam, durante as provas, acima dos quatro metros, altura máxima das bandeirolas que delimitam o percurso.