Margarida Martins: "Continuo a não acreditar que sou coreógrafa no Euro'2016"
Margarida Martins é uma das seis coreógrafas - e única portuguesa - das cerimónias de abertura e encerramento do Euro"2016. Em pequenina, coreografava todas as músicas dos Onda Choc e punha os pais a dançar. Agora brilha no Stade de France
Corpo do artigo
Começou a trabalhar como dançarina profissional há cerca de três anos, quando foi dançar a um evento comercial na Alemanha para substituir uma amiga que não pôde ir à última hora. "A partir daí as portas começaram a abrir-se", conta Margarida Martins.
Como correu a cerimónia de abertura do Euro"2016?
Foi há uma semana mas parece que já foi há muito mais tempo. Aliás, até parece que não chegou a acontecer! Há três dias vi o vídeo e continuo sem acreditar!
Isso quer dizer que correu bem?
Sim. Estava nervosa, mas a coreografia correu bem. Só houve um atraso a retirar do relvado aquele tapete gigante, a imitar um jardim, em cima do qual decorreu o espetáculo. Demoraram mais 20 segundos do que era suposto a sair e isso atrasou o França-Roménia. Já mexeu um bocadinho com tudo, isto só para ter uma ideia de como tudo era cronometrado ao segundo.
Onde estava durante o espetáculo?
Junto ao relvado, a dar coordenadas aos bailarinos para o caso de terem uma branca. Estava eu, a coreografia principal, que é a Wanda Rokicki, e os quatro colegas, coreógrafos-assistentes como eu. Estamos a falar de uma cerimónia com 400 pessoas, a maioria voluntários.
Qual a sua parte do trabalho na coreografia?
Eu coreografei as bailarinas e as músicas do David Guetta. Coreografámos cada grupo de bailarinos separadamente e depois juntámos tudo. Mas toda a gente tinha de saber o espetáculo todo. Estivemos a ensaiar, de manhã à noite, durante 10 dias seguidos.
Coreografar é para si um talento ou foi algo que foi desenvolvendo quando começou a dançar?
Eu já coreografava todas as músicas dos Onda Choc no tempo das cassetes. E depois queria que os meus pais dançassem!
A ideia de representar vários símbolos da cultura francesa também foi vossa?
Não. A coreógrafa já nos passou essas ideias, suponho que tenha sido pedido pela organização do campeonato.
Conheceu pessoalmente o David Guetta?
Não cheguei a ter essa oportunidade, só as bailarinas que trabalham com ele. Uma delas já tinha dançado para a Beyoncé.
Participou, também como coreógrafa, na cerimónia de abertura de duas edições da final da Liga dos Campeões, em Lisboa e em Berlim. O Europeu está a ser muito diferente?
É tudo bem maior e, ao mesmo tempo, temos menos tempo para ensaiar. O meu sonho agora é ir aos Jogos Olímpicos. Mandei o currículo para o Rio de Janeiro, mas não fui chamada. Talvez daqui a quatro anos.
Como vai ser a cerimónia de encerramento? Pode revelar?
Ainda não sei. Parto de novo para Paris a 3 de julho, a final é no dia 10, suponho que seja mais simples dado que o tempo de ensaio é ainda menor do que na abertura.
Gosta de futebol?
Não muito, para dizer a verdade [risos]. Estudei Educação Física e eu era aquela com quem todos gozavam nas aulas de futebol... Nem sequer tenho clube [risos]. Mas sei que é graças ao futebol que tenho este trabalho, e sei que, se a Seleção Nacional chegar à final, eu vou poder lá estar, mesmo ao pé deles, pois tenho "free pass" para andar em todo o lado dentro do estádio. O meu sonho é ver Portugal na final.
Apesar de não ligar a futebol, há alguém que gostasse de conhecer?
Gostava de ver o Cristiano Ronaldo, só porque é o Cristiano Ronaldo! Mas duvido que vá tirar selfies ou falar com eles, não tenho personalidade para isso [risos].
Li numa entrevista que durante os ensaios se fartava de correr para um lado do outro do campo...
Sim. Muito cansativo. A coreógrafa principal estava numa torre e ia-nos dando indicações, por intercomunicador, dos bailarinos que tínhamos de ir corrigir para ficar tudo direitinho visto de cima. Fartava-me de correr, eu que tenho 1,55 metros de altura, o estádio era muito grande para mim [risos].
O mediatismo costuma ir todo para os futebolistas. Está a gostar de partilhar um pouquinho do mediatismo deles?
Tem sido bom para divulgar a dança e para as pessoas perceberem que ser bailarina ou coreógrafa pode ser uma carreira. A dança está a crescer muito em Portugal, apesar de ainda não estar ao nível da Inglaterra, França ou Alemanha.
SAIBA QUE
Margarida Martins tem 30 anos e é natural da Amadora. Durante sete anos praticou ginástica rítmica, depois começou a dançar. "Sempre dancei hip hop. Tenho um grupo de dança, o "Egzit", há já dez anos. Vamos a competições e fazemos atuações", conta a professora de Educação Física, que há três anos deixou as aulas e se tornou dançarina profissional. "Voltarei à escola se a dança deixar de dar para viver", explica Margarida, formada em Ciências de Desporto na Faculdade de Motricidade Humana. "Este trabalho no Europeu vale muito a pena do ponto de vista financeiro, não é uma exorbitância, está na média do que pagam em França. Para Portugal é que é bom", explica.
TODAS AS CLASSIFICAÇÕES, RESULTADOS E ESTATÍSTICAS DO EURO'2016