António Conceição Júnior é um homem das artes mas nutre paixão pelo futebol e pelo desporto em geral. E, claro, pelo seu Sporting, cuja filial em Macau reativou há sete anos. Observador atento, fala do desenvolvimento do futebol na China e do retrocesso que vê em Macau
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Pintor, ilustrador, fotógrafo, diretor de arte, designer gráfico, de interiores, de exposições e moda: António Conceição Júnior é dirigente cultural em Macau desde 1978 e presidente do Sporting Clube de Macau desde 2009.
Como é que um homem das artes se envolveu com o futebol e com o Sporting?
O meu pai era um fervoroso adepto e atleta do Sporting. Foi campeão nacional de estafetas em 1928 e 1930 e até jogou futebol nas reservas. A minha filha também se tornou adepta e quando regressou a Macau, em 2007, depois de terminar os estudos, interessou-se pelas origens da filial do Sporting em Macau. Uma visita de um dirigente do clube em 2008 fez com que procurássemos reativar o adormecido Sporting Clube de Macau, em conjunto com outros sportinguistas. Em 2009 ressuscitou.
O futebol é mais popular em Macau do que na China?
Não. A China, depois do período revolucionário de 1960/70, encarreirou numa senda de desenvolvimento lançada por Deng Xiaoping. No desporto, o domínio chinês a nível mundial englobou modalidades como o pingue-pongue, a ginástica e os saltos para a água. A China afirma-se pelos resultados, não por proclamações. O campeonato profissional de futebol na China, a Super Liga, não tem ainda duas décadas e pelo campeão chinês, um colosso financeiro chamado Guangzhou Evergrande - que assinou um acordo com o Real Madrid para criar a maior academia de futebol da China -, já passaram Marcello Lippi, Fabio Cannavaro e agora Luiz Felipe Scolari. Também Sven-Goran Eriksson está no Shanghai SIGP. Estes são exemplos dos objetivos a médio e longo prazo dos chineses, que por agora compram clubes portugueses da segunda divisão com objetivos estratégicos. A métrica do tempo dos chineses não é a mesma do Ocidente. O Japão e a Coreia estão por enquanto mais avançados, mas com o poderio económico e a estratégia de absorção de conhecimentos dos chineses, a Super Liga irá produzir resultados muito em breve. O futebol em Macau, por seu lado, perdeu radicalmente público e qualidade organizativa.
A China é o novo eldorado do futebol mundial?
A progressão do futebol na China será ainda mais rápida do que nos Estados Unidos, que começaram primeiro. Não me custa a crer que, em 20 anos, a China seja um sério adversário. A China tem métodos muito próprios de assimilar conhecimentos e técnicas. E a indústria/comércio andam de mãos dadas, tudo o que se faz é muito pensado.
Este desenvolvimento tem repercussões em Macau?
Não. Para a China, Macau é um grão de areia. O futebol em Macau sempre foi amador. A fundação do Sporting Clube de Macau, em 1926, é anterior à da própria Associação de Futebol de Macau. O maior esplendor acontece nos anos 1940/50 e 60, quando ainda era praticado por locais e militares portugueses, e havia apenas uma divisão, uma escala apropriada a Macau. É neste período, em que havia apenas um estádio, que dois jogadores locais, Joaquim Pacheco e, mais tarde, Augusto Rocha, são enviados para o Sporting, em Lisboa, onde se tornaram também internacionais A. A Associação de Futebol de Macau nunca soube perceber a verdadeira escala do futebol em Macau, alargando o campeonato para três divisões e mantendo-o amador com jogadores profissionais e semiprofissionais.
Quais os campeonatos que chineses e macaenses acompanham mais?
A comunidade portuguesa acompanha o campeonato português. A comunidade chinesa que se interessa pelo futebol acompanha mais o futebol inglês e o chinês, que têm transmissão televisiva.
De que forma se manifesta a presença do Sporting e dos outros grande portugueses em Macau?
Há 60 anos era possível ter uma sede, havia amadorismo puro, o Sporting chegou a ter atletismo, por exemplo. Hoje, o preço de qualquer espaço é proibitivo e manter uma equipa de futebol está dependente de patrocínios. Portanto, nada mais se pode fazer senão tentar sobreviver. A Casa de Macau do Benfica é a que tem maior folga financeira. A Casa do FC Porto foi forçada a abandonar o campeonato por falta de patrocínios.