FC Porto e Sporting deixaram de ter a companhia do Boavista no topo da tabela, mas, apesar dos mesmos 16 pontos, passam vibrações diferentes.
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Assim como dia e noite; claro e escuro ou frio e quente, FC Porto e Sporting podiam muito bem aparecer juntinhos numa lista de contrastes. Na verdade, juntinhos já estão, no topo da tabela, mas bem longe de passarem vibrações idênticas. Serão, nesta fase de campeonato, uma espécie de gémeos falsos: unidos por 16 pontos, mas separados pelos adjetivos aplicados às respetivas exibições.
Sérgio Conceição reconheceu que este FC Porto não tem sido bonito de se ver, e o Gil Vicente voltou a expor as fragilidades de uma equipa que tem demorado 90 minutos a acordar. Por sorte, os jogos, agora, esticam-se bem mais para lá dos 90, e é nesse período que os dragões têm encontrado fôlego para se agarrarem ao topo. O Sporting - lá está, em contraste... - preferiu entrar de rompante contra o Rio Ave, com dois golos logo na primeira meia hora, assim como quem pergunta: sim, não há Gyokeres, e depois?
A vibração em Alvalade é essa, a de que os planetas estão de tal forma alinhados que até o outrora saco de pancada preferido dos adeptos, Paulinho, se diverte a distribuir bofetadas de luva branca com uma leveza impressionante. Aliás, só lhe falta mesmo isso, ir ao bolso, como Éder fez na final do Europeu, e tirar uma luva para ajustar contas.
Mas, ajustes à parte, saber como os leões se desenrascariam sem Gyokeres, que tem sido a locomotiva do ataque, era uma dúvida legítima. A prova foi superada, com a ajuda do malabarista Edwards. Este esteve tão bem que houve margem de manobra para Rúben Amorim lhe puxar as orelhas. O inglês não é um primor de regularidade e Amorim tratou de deixar esse aviso, com a certeza de que o ambiente que se respira, pelo menos para já, em Alvalade permite adocicar as críticas, transformando fel em mel. Um milagre quase ao nível do que fez da água vinho. Não sendo propriamente uma sorte estar fora da Champions, até isso pode ajudar internamente este Sporting.
Da mesma forma, por mais contraditório que possa parecer, que a Champions pode ser útil ao FC Porto. Haverá desgaste, com certeza, mas se à vitória somada contra o Shakhtar se juntarem outras, num grupo que tem o Barcelona, e permitir passar à fase seguinte, será estímulo capaz de sacudir os ânimos. Ainda falta muito para confirmar isso, mas já há uma vitamina efervescente à vista.
O clássico de sexta-feira à noite é desta vez, mais do que um caso de vida ou morte na competição (como aconteceu na época passada, em que a vitória na Luz permitiu aos dragões ressuscitarem na luta), uma prova de afirmação. A Luz costuma ter esse efeito de embalo no FC Porto quando corre bem. Claro que do outro lado há um Benfica pouco alinhado nessa cantiga. E até um Sporting na expectativa...