O presidente do Braga é o campeão da competitividade. É-o pelas provas dadas pela equipa e pela luta contra o marasmo do futebol profissional.<br/>
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A liderança isolada do Benfica selou ontem as contas das primeiras quatro jornadas ao vencer o Paços de Ferreira - ainda sem pontos -, em partida atrasada da ronda anterior. Uma etapa marcada pelas derrotas (mais ou menos estrondosas, o que depende dos critérios, das opiniões, dos amores e humores) de FC Porto e Sporting diante de dois recém-promovidos: Rio Ave e Chaves, respetivamente.
Num mundo perfeito, podíamos acreditar que este nível de competitividade (leia-se, resultados inesperados, muitos golos e intensidade de jogo como no 2-2 entre o Vizela e o Gil Vicente) teria reflexos óbvios num par de anos, o suficiente para manter as atuais três vagas (2+1 via pré-eliminatórias) na Champions, que conhecerá novo e mais milionário formato a partir de 2024/25. Que é como quem diz, estaria comprovado o fortalecimento da classe média dos emblemas nacionais, que assim disputariam os pontos à solta nas eurotaças. Só que não. Os Países Baixos já nos ultrapassaram no quinto lugar do ranking UEFA e é sabido que o sexto só permite duas equipas (1+1) na Champions, um na Europa (fase de grupos) e dois na Conference (pré-eliminatórias). Convenhamos, o cenário não é magnífico.
Adianta muito pouco ouvir belos pregões sobre competitividade, quando nada se passa do papel à prática. E aqui chegamos às palavras de António Salvador, presidente do Braga, indubitavelmente o maior e quase único exemplo de crescimento dos últimos anos: "Não estamos a cuidar dos nossos clubes", disse há dias a O JOGO.
Não há como contrariar: Salvador move-se mais pela competitividade do que qualquer outro dirigente com responsabilidades no futebol profissional. Podemos até ter mais argumentos contra do que a favor da sua proposta para um novo modelo de quadros competitivos. Mas só se pode estar do seu lado nos alertas contra o marasmo e a perda em curso de algo vital para as finanças dos clubes: a presença portuguesa nesses palcos europeus. Mas a competitividade também tem de começar na gestão dos emblemas e dos seus ativos, em que o presidente do Braga está farto de dar exemplos de competitividade. Começa logo quando não se sente refém de ninguém, o que devia ser plasmado pelos restantes rivais abaixo do trio de candidatos de sempre. O FC Porto quis David Carmo? Levou-o pelo custo estabelecido por Salvador. O Benfica quer Ricardo Horta? Até ver, Salvador não cede abaixo do valor apresentado. Esses são bons exemplos que dá aos emblemas que costumam ficar, na classificação, abaixo do seu. Como o dinheiro não cresce nas árvores, adianta pouco esperar milagres (e mais alguns anos) pela propalada centralização de direitos audiovisuais. É verdade que é melhor para as SAD do que o atual formato de negócio. Mas a quantificação desse melhor é que pode ser ilusória. Enquanto o campeonato-produto não for melhor, tenho dúvidas que haja clientes para quem ficar dono desses direitos. E a falta de competitividade não acrescenta valor. Não é preciso nenhum curso de contabilidade para o sabermos.
Mas voltemos à quarta jornada, mesmo continuando com o Braga: a equipa de Artur Jorge, um homem da casa, é segunda classificada, só tendo cedido pontos frente ao Sporting. De resto, venceu de forma mais do que convincente os restantes jogos, dois deles com "chapas cinco e seis". Tem 17 golos marcados, a uma média de 4,3 por partida. É obra e galvaniza. Está um ponto à frente do FC Porto, batido (3-1) no terreno do Rio Ave, que materializou, finalmente, as qualidades que vinha evidenciando. Sim, a competência faz parte da tal competitividade. E tem já mais seis que o Sporting, derrotado (0-2) em casa pelos flavienses, agora em sexto lugar.
Notas positivas ainda para os triunfos de Portimonense (quarto), Estoril (quinto) e Casa Pia (sétimo) nos terrenos de Marítimo, Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães, que caiu para oitavo.