Sem os três grandes fortes a pontuar na Europa, Portugal perde. Mas Portugal perde só com três a pontuar: a interminável equação.
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Uma jornada - como serão muitas, na restante época - que se estende de sexta a segunda implica que estas páginas sejam escritas à terça para serem lidas à quarta, quase a entrar na ronda seguinte. É a fatalidade dos jornais tradicionais, que escapam a esta prerrogativa nas suas plataformas online, onde rende mais a espuma dos dias do que a substância que gera essa mesma espuma. Seja.
É, então, olhar para os resultados e para a classificação, e o leitor faça a análise como lhe der mais jeito: com o copo meio cheio ou com o copo meio vazio, com mais ou menos fé no emblema predileto.
Há factos, não mensuráveis num resultado ou num salto ou perda de uma jornada para a outra: uma chicotada (Vasco Seabra saiu do Marítimo) e alguns ameaços após cinco jornadas; um Braga que é candidato velado à rivalidade com os três grandes em segundo e a dois pontos de um Benfica com um dos melhores arranques dos últimos anos; Portimonense e Boavista que parece quererem resolver o mais rapidamente possível a questão da permanência - a Europa logo se vê -, a que se junta o futebol refrescante de equipas como Chaves e Casa Pia (recém-promovidos), que até já pontuaram mais (um ponto) que o Sporting, cuja vitória no fim de semana deu ares de quem quer recuperar os oito pontos perdidos. Lá no fundo, Marítimo e Paços de Ferreira, que ainda não pontuaram.
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Digamos, por outro lado, que esta foi a jornada 1 após o fecho de mercado, dado que não será alheio à intervenção do presidente do Sporting à margem do fórum "Football Talks", da FPF, ao colocar o foco da competitividade do futebol português nos exercícios financeiros do três grandes. "No dia em que Sporting, Benfica e FC Porto não conseguirem fazer as vendas que têm feito não terão capacidade orçamental para competir como até aqui", disse Frederico Varandas, referindo-se às pontuações no ranking da UEFA. Secundado por uma espécie de teorema - "proposição que deve ser demonstrada para se tornar evidente", conforme o dicionário Priberam -, Varandas tenta assegurar, assim, benefício (leia-se legal e fora das quatro linhas) financeiro para os mais poderosos, até aqui, os três, o motor do futebol profissional luso.
Mas, convenhamos, se ainda são esse motor, estou em crer que o aditivo que todos precisam no contexto europeu não é o benefício à produção, algo que até começa a cair em desuso nas regiões demarcadas vitivinícolas, de produto único, que há muito não o é nos mercados internacionais: a marca fica protegida, mas quem enriquece são outros países com maior capacidade de produção e de criação de riqueza. O que será verdadeiramente aditivante é haver um conjunto maior de emblemas fortes.
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De alguma forma, o teorema de Varandas choca com a ode entusiástica que António Salvador, seu congénere no Braga, pretende fazer soar nos corredores da Liga: o fortalecimento da classe média do futebol, que isto de haver apenas três a pontuar na Europa nunca será aritmética ganhadora se outros países, de ligas teoricamente mais fracas, encherem de emblemas as ligas Europa e Conference.
A concordância no essencial entre ambos, noticiada na terça-feira - "Fico satisfeito quando os clubes grandes percebem que temos que olhar para um todos", disse Salvador, pouco depois -, vai esbardalhar-se por completo na hora de negociar a chave de repartição desse maná ansiado, de sua graça centralização de direitos televisivos. O próprio Salvador deu o tom: "É uma questão que tem que ser debatida e analisada para poder chegar a 2025 e ter distribuição mais justa e equilibrada". Eu sei que ser solidário dói sempre a quem produz mais, mas quando se embandeira com o bem comum, a solidariedade gera mais valor que o benefício particular. O problema é que todos têm razão.