O ouro conquistado por Pichardo nos Jogos Olímpicos foi brilhante no plano dos resultados, mas opaco nas ilações políticas. Dizer que Portugal sabe receber é querer ver só a pontinha do icebergue.
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Há dois lados no Pedro Pichardo que conquistou, de forma brilhante, a medalha de ouro no triplo salto, a primeira do mais cobiçado metal para as Quinas nestes Jogos Olímpicos e que teve ainda o condão de fazer desta edição a mais bem sucedida de sempre para Portugal.
O lado A, um pouco à maneira dos discos de 45 rotações do antigamente, é o já citado, reluzente como a medalha que o cubano naturalizado português exibiu orgulhosa e justamente. Tão reluzente que dir-se-ia capaz de atrair todo o tipo de melgas e mosquitos, mesmo sob a luz da manhã.
O lado B, que nos "singles" era usado para canções menos comerciais, mais duras ou obscuras, tem também outro tipo de iluminação a incidir no feito de Pichardo. Nem é bem iluminação, mais um raio-x. Pessoalmente, trouxe-me à memória uma boleia dada há quase 30 anos a um ilustre advogado e anos a fio líder dum partido do proletariado. A história dessa boleia não é para aqui chamada, mas a frase forte da conversa sim: "Dentro de pouco tempo, Portugal estará transformado num país de empresas de serviços e campos de golfe".
Fica bem ao Presidente da República vibrar com as medalhas e dizer que este ouro projeta a imagem de Portugal no mundo. Mas olhar para as medalhas como uma imensa campanha de marketing é desviar o olhar do desporto português, porque nem tudo está bem quando acaba bem, nem os que cá vivem deveriam ser impedidos de sonhar ser Pichardos ou Mamonas por só se falar de desporto quando este promove Portugal no mundo. O que resta é pouco mais do que manter impecáveis os campos de golfe...