Alvalade recebe o primeiro clássico da época e aí será possível perceber as reais forças de leões e dragões. Moreirense vive conto de fadas.
Corpo do artigo
Começemos pelo insólito, no fundo, o sal do futebol, o ingrediente que faz pensar que tudo continua a ser possível: o Moreirense é um dos três líderes do campeonato, tendo ganho os três jogos disputados, com o requinte de malvadez indispensável a uma boa história que é ter batido o vizinho e rival V. Guimarães no sábado – uma espécie de David vence Golias à escala regional, quase urbana! Juntemos a isto a liderança dos goleadores pertencer a Schettine, autor de um bis aos conquistadores (desta vez conquistados e em maus lençóis neste início), e imagina-se a felicidade que anda para os lados da vila minhota...
Os cónegos estão a protagonizar o melhor arranque da sua história na I Liga e o curioso da situação é estarem ombro a ombro na frente com dois pesos-pesados que seguem num ritmo avassalador! Com os 4-0 ao Casa Pia, o FC Porto está no seu melhor registo após três rondas, fruto da média de três golos por partida e zero sofridos, que batem o de 2022/23; já o Sporting só fica atrás do começo da época passada, que culminou no bicampeonato. Marcou menos dois golos, mas sofreu menos um. Conhecem os jogos da fome, os livros e filmes em que os protagonistas vão aniquilando todos os outros à sua passagem, em combates rumo a um duelo final até à morte?
A estatística pode parecer uma seca, mas acrescenta dados concretos às perceções – se dissermos que estes arranques de leões e dragões estão no top-6 dos melhores de sempre do campeonato português (desde 1934/35!) tem-se uma visão mais clara daquilo que referiu João Pereira, treinador do Casa Pia, no Dragão: os grandes estão ainda mais distantes do resto do pelotão!
Com menos um jogo e espectador do primeiro clássico da época, o Benfica ainda não é para aqui chamado, mas a verdade é que, pior, ou melhor, tem resolvido os problemas, mesmo estando em paralelo a decidir o futuro na Europa (e nunca passaram os primeiros seis jogos da temporada sem ir ao fundo das redes). Mas não é descabido incluir as águias em mais um argumento a favor deste combate desigual – segundo o site especializado “Transfermarkt”, os plantéis dos três grandes em conjunto valiam, a 15 de agosto último, 1132 M€, mais 45,5 M€ do que um ano antes. Quase nada! Ou quase o dobro do que custou Gyokeres ao Sporting… Os outros 15 plantéis somados? Metade do trio: 540 milhões.
Diz o ditado que o dinheiro não traz a felicidade, mas no futebol, como na vida, ajuda muito! E por isso celebram-se feitos como o deste Moreirense ou o do Aves SAD, que esteve perto de bater o quarto da hierarquia (ou primeiro dos demais?), o Braga, na sua casa. Por serem grãos de areia numa engrenagem que tem ido de goleadas em goleadas até… ao primeiro duelo “mortal” da I Liga, sábado, em Alvalade. Porque não há fome que não dê em fartura.