CONTRA-GOLPE - Opinião de João Araújo
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1 - Setenta e dois mil, setecentos e trinta e dois é um número impressionante - por escrito parece maior ainda! -, especialmente se pensarmos que estamos em agosto de 2021, ano e meio p.p. (pós-pandemia), e foram essas as pessoas que estiveram nas bancadas de Old Trafford a assistir ao Manchester United-Leeds.
Pareceu uma viagem no tempo: bancadas praticamente cheias (a capacidade é de 76 mil) face à ausência de limitações à presença dos adeptos, como se este ano e meio não tivesse existido. Exceto num pequeno grande detalhe chamado Bruno Fernandes, para quem, com ou sem público nas bancadas, com a época a decorrer ou a iniciar-se, o tempo parece realmente não se ter detido com a pandemia e muito menos o defeso.
O português começou a temporada ao ritmo com que tinha terminado a anterior, a ser decisivo e de que maneira nos "red devils". Contra a equipa do aclamado profeta dos bancos que é Marcelo Bielsa, o Manchester United, orientado por Solskjaer, mostrou jogadas de mestre como as que culminaram nos três golos do ex-Sporting.
Primeiro, uma superior "pressão à zona" num pontapé de baliza do Leeds que permitiu uma rápida recuperação de bola e solicitação de Bruno Fernandes pelo centro da defesa; depois, nova assistência de Pogba numa jogada de envolvimento; e, finalmente, futebol direto, desde a defesa (Lindelof), tendo o português como destinatário.
Às críticas ao menor rendimento no Euro"2020 (provavelmente pelo que teve no clube), Bruno Fernandes respondeu com mais uma demonstração do que pode dar sendo peça primordial no xadrez de uma equipa.
2 - O treinador do Moreirense disse ontem que "não há maus da fita" a propósito da recusa do clube do concelho de Guimarães em adiar o jogo com o Santa Clara, desvalorizando o facto de na formação açoriana só 14 jogadores terem escapado ao surto de covid-19 e também o desgaste destes, que é "somente" o busílis da questão, ainda mais estando aquela a meio de eliminatórias europeias.
"A única diferença são as viagens consecutivas e o número de atletas disponíveis para gerir o desgaste dos jogos neste curto espaço de tempo", afirmou ainda João Henriques, pondo o dedo na ferida e como que renegando o próprio passado recente das duas épocas que passou no banco do Santa Clara.
Olhando friamente aos regulamentos, o Santa Clara tem o mínimo de sete jogadores e um guarda-redes para apresentar, portanto por aí o Moreirense está salvaguardado. A questão coloca-se ao nível da ética e, eventualmente, do "egoísmo", como rotulou Daniel Ramos. A Liga autorizou o adiamento e a partir daí o acordo entre os clube é soberano, mas faltou.
A última época, o Santa Clara terminou em lugares europeus, com mais três pontos do que o Moreirense. Será esse o "filão" - três pontos, à segunda jornada - que originou esta polémica?