Benfica e Sporting vergados pelos emblemas da interioridade, antíteses dos grandes de Lisboa. Dragões e guerreiros do Minho sorridentes.
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Arouca: vila com pouco mais de 21 mil habitantes; Chaves: cidade com população de cerca de 37 500. Quais irredutíveis gauleses cercados por parte significativa do império do campeonato - Benfica e Sporting -, as duas equipas não só resistiram como deixaram marcas profundas nos adversários e, por conseguinte, na classificação.
A segunda derrota seguida das águias na I Liga (terceira em todas as competições) permitiu nova aproximação do FC Porto, que em casa fez o que lhe competia batendo o Santa Clara. São agora quatro os pontos que separam primeiro e segundo da tabela, quando eram dez duas jornadas antes!, e o esfumar da vantagem benfiquista é diretamente proporcional ao aumento do debate em torno das razões para tal descalabro - é culpa das férias dadas por Schmidt na pausa internacional, da ausência de capacidade de reação do alemão a partir do banco quando a máquina descarrila, de erros individuais agravados pela crescente ansiedade?
Como em tudo na vida, a resposta não estará num só e sim no somatório de vários fatores mas a verdade é que nem sombra daquela equipa que jogava quase de olhos fechados, confiante e arrasadora; pelo contrário, dir-se-ia que as bolas que eram colocadas no espaço foram substituídas pela bola no pé, com a maior previsibilidade e menor velocidade que isso implica, e que de predador da pressão alta a águia passou a presa das bolas perdidas ao tentar sair a jogar a partir do terço defensivo. No fim de contas, a bem preparada e épica exibição flaviense foi abafada pela polémica em torno do VAR, em que se pediu penálti sobre Otamendi aos 90"+3", minuto anterior ao do erro capital do argentino que resultou no golo decisivo. Mas o ruído, palavra tão em voga, foi em torno do VAR. Tanto jogo para nada...
VAR e arbitragem estiveram igualmente sob os holofotes no triunfo portista sobre o Santa Clara (no penálti que abriu o marcador), no Braga-Gil Vicente (no fora de jogo que anulou o empate ao gilista Fran Navarro) e no empate do Arouca em Alvalade (Pote falhou um e converteu outro penálti). Ou seja, da luta pelo título à guerra pela presença na Europa. Com o Benfica a perder gás, dragões e bracarenses viram renovada a matemática da esperança em chegar à frente, até pelo que reserva o calendário, assim como estes últimos estão mais tranquilos quanto à pressão sportinguista pela terceira e última vaga (pela última vez?) de acesso à Champions. O que nos devolve ao início do texto para sublinhar o feito ímpar do Arouca, que é a localidade mais pequena com um clube em lugares de UEFA entre os seis principais campeonatos europeus. E até sete, se incluirmos os Países Baixos, que na próxima época assumem o sexto posto, como se sabe perdido por Portugal...