CONTRA-GOLPE - Uma opinião de João Araújo
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1 - As 133 medalhas internacionais na carreira a que ontem chegou Fernando Pimenta são um pouco como os 847 golos de Cristiano Ronaldo: a absurda quantidade quase torna banal a dimensão do feito. Mas quando olhamos para estes números a alguma distância, percebemos como são extraordinários, tal como é a enormidade de títulos que lhes estão associados. No caso do canoísta de Ponte de Lima, a mais recente medalha significou a conquista do tricampeonato mundial em K1 1000 metros, a que junta dois outros em K1 5000, além de seis títulos europeus e incontáveis vitórias em Taças do Mundo.
Um ouro olímpico, que escapou por pouco ao limiano em Londres"2012 e Tóquio"2020, seria a natural e merecida cereja no topo de um faustoso e saboroso bolo de conquistas, que começaram há mais de uma década. Até pela longevidade do atleta de 34 anos e pelas diversas contrariedades que tem tido a força de ultrapassar - caso da debilitadora covid-19 antes destes Mundiais -, ocorre-me compará-lo ao tenista espanhol Rafael Nadal.
Não vou tão longe como o presidente da Federação de Canoagem (nem sei se é possível atribuir essa "medalha"), que diz tratar-se do melhor desportista português da história, até por haver vitórias com uma simbologia muito especial e que transcendem comparações: Agostinho no Alpe d"Huez, Lopes em Los Angeles, Rosa em Seul, Fernanda em Atlanta, o próprio Ronaldo, só para dar alguns dos maiores exemplos. Mas se em Espanha têm o Nadal, cá temos o Pimenta e num caso e noutro pode-se sempre contar com eles. Criar a expectativa de que o português possa chegar ao desejado ouro em Paris"2024, mesmo a esta distância, é provavelmente o maior elogio que se lhe pode fazer.
2 - As preocupações com o mercado de transferências são, nesta reta final rumo ao fecho, a 1 de setembro, transversais a todos os treinadores. Mais ainda dos campeonatos e clubes vendedores, de que o português tem sido um dos expoentes máximos. Há jogadores com propostas, outros cobiçados e ainda os insatisfeitos por terem pouca utilização e as dores de cabeça para quem tem de montar uma equipa são diversas, até pela necessidade de retoques no plantel.
Vários treinadores, de grandes e menos grandes, abordaram esta reta final do mercado. Que pena não ouvirmos Sérgio Conceição!
Dos técnicos de grandes a outros de menos grandes, vários lançaram alertas públicos (dirigidos aos próprios dirigentes, entenda-se!) para se evitarem ao máximo as saídas - o que não quer dizer que resulte... Por força do castigo que lhe foi aplicado e consequente reação, um manteve-se, infeliz e irredutivelmente, em silêncio. O que dizer? Uma pena não podermos ouvir Sérgio Conceição nesta altura, sendo ele a face mais visível da comunicação portista e havendo tantos assuntos para comentar.