PLANETA DO FUTEBOL - Luís Freitas Lobo pondera sobre os ensaios de pré-época do Benfica e do Braga
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1 - Não se trata de construir uma nova equipa, mas sim de construir diferentes rotinas de movimentações porque algo mudou. E mudou num espaço de relação decisivo para existir o melhor equilíbrio (sem bola) e o melhor poder de desequilíbrio (com bola).
O Benfica de Lage quer ser igual no que fez de bem na época passada dos "dois campeonatos", identificando-se, naturalmente, com o "segundo" (o de João Félix) e incutir novas movimentações na frente (até porque já não há João Félix).
A equipa começa a época claramente a atacar melhor do que a defender. Individual e coletivamente.
O 4x4x2 desenha-se nesta pré-época de forma mais clara por ter dois pontas de lança puros em cunha (Seferovic e Raúl de Tomás). Não há a "máscara transformadora" do segundo avançado que joga entrelinhas e recua (para equilibrar 4x2x3x1 a defender em três linhas) ou avança (para desequilibrar e vindo de trás ser quem faz a dupla da frente no 4x4x2 que então aparece).
Os jogos com Chivas e Fiorentina revelaram que essa alteração na estrutura resultante da saída de um elemento das características de Félix tem tido efeito na reação coletiva à... perda da bola. E isto, atenção, não é porque veja Félix como um jogador muito forte na transição defensiva, mas sim como ser mera referência para o coletivo na ocupação do espaço nesse momento.
2 - Pizzi sempre foi visto como a "chave" para esses (re)equilíbrios todos mas a verdade é que, neste arranque de época, vejo Gabriel e Pizzi, os dois médios benfiquistas de referência na ligação rotativa "dos quatro momentos do jogo" (desequilibrar com bola, equilibrar sem ela), mais fortes no momento ofensivo do que no defensivo.
Gabriel quando subia contra a Fiorentina revelava a sua notável capacidade. Trava para pensar e fazer o passe (neste caso, era o último passe junto à área). A defender, com pouca intensidade, deu muito espaço. É natural para quem vem de lesão. Precisa de recuperar potência e ritmo. Pizzi surgiu bem... entrelinhas atrás dos pontas de lança que agora jogam lado a lado quando antes em vez de um "2" puro no ataque via o tal "1x1". É muito diferente.
3 - A equipa começa a época claramente a atacar melhor do que a defender. Individual e coletivamente. Tem as linhas do meio-campo muito distantes no momento da perda.
Lage continua a precisar (sobretudo pensando na dimensão internacional a que este Benfica, e plantel forte, ambiciona subir) de robustez criativa a meio-campo. Há muitos avançados (e bons). Há muitos defesas, mas os centrais têm altos e baixos e o plantel precisa de um segundo lateral-direito. No meio-campo, precisa definir missões sem bola para, na transição defensiva, a equipa ficar mais junta. Ser um bloco e não sectores a olharem-se mas sem se tocarem.
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O primeiro Braga
O Braga de Sá Pinto é uma das mais interessantes expectativas da época. Pela "segunda vida" do treinador. Pelo clube (que prefere agora "fazer-se de morto no quarto lugar" para depois... quem sabe?) e, claro, pelo jogo que apresentará.
Falar de Sá Pinto sempre desde a sua personalidade é um erro para avaliar a sua competência. Ninguém muda a essência e isso já o traiu no passado, mas este presente não tem contacto com esses tempos. A análise que me interessa fazer é técnica e, nesse sentido, este Braga tem, naturalmente, lacunas de afinação.
Não é a dúvida entre sistemas (4x4x2 e 4x2x3x1 podem ser facilmente desdobrados) mas sim porque vejo a equipa sem um dono claro (líder em campo!) para a agarrar nos momentos difíceis. Já na época passada isso se sentiu nos jogos mais decisivos (e difíceis, claro). É uma lacuna mental-táctica (por esta ordem) de grupo que quem constrói o onze do Braga não tem reparado. Diria mesmo desde a saída de Hugo Viana. E isso faz toda a diferença.