Uma opinião de Rui Guimarães
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Que o andebol masculino está numa maré alta, galgando e alcançando mares nunca antes imaginados, já se sabe, mas já não são apenas os homens. E também não são só as seleções e clubes a serem exemplos.
De forma cronológica, em junho de 2019, em Bucareste, na Roménia, a Seleção Nacional A apura-se para uma grande competição ao cabo de 14 anos de ausência: o Campeonato da Europa de 2020, onde viria a alcançar a melhor classificação de sempre (6.º lugar, superando o 7.º de 2000, onde Carlos Resende - esta quarta-feira anunciado como treinador do FC Porto -, foi considerado o melhor lateral-esquerdo).
A partir de então, os Heróis do Mar, como o selecionador que tudo mudou chama aos atletas, foram ao Mundial de 2021 (10.ª e melhor posição da história), Europeu de 2022, Mundial deste ano e já estão apurados para o Euro de janeiro, na Alemanha. Nota: pela primeira vez a Seleção Nacional consegue cinco presenças consecutivas por via do apuramento - entre 2000 e 2004 houve cinco participações consecutivas, mas uma, o Mundial de 2003, na condição de organizador.
Mas há outro dado, e de particular relevância, é que entre estes europeus e mundiais, Paulo Jorge Pereira, semanas após a morte de Alfredo Quintana, num ambiente de consternação tremendo, conduz Portugal aos Jogos Olímpicos de Tóquio, com um golo memorável de Rui Silva, seguido daquele olhar do central para o "céu".
Uma segunda nota, que na verdade são duas: passam a seis as qualificações por mérito desportivo, e não cinco, e o andebol torna-se na primeira modalidade coletiva de pavilhão a chegar ao Olimpo do Desporto.
Alguém acreditaria? Aposto que nem Paulo Jorge...
Todos estes resultados assentam, em primeira instância, no trabalho dos clubes. Na linha da frente esteve o FC Porto que, com a contratação de Magnus Andersson, elevou bastante a qualidade de jogo e potenciou atletas. Não foi por acaso, de resto, que, em 2018/19, os dragões espantaram a Europa, primeiro ao afastar o poderoso Magdeburgo - quatro Ligas dos Campeões, três Taças EHF, três supertaças europeias, dois mundiais de clubes... - da Liga Europeia e, depois, ao chegar à final-four.
Em 2021/22, o Benfica, de Chema Rodriguez, numa decisão jogada na Altice Arena, em Lisboa, vence essa mesma competição, sendo este o maior feito de emblemas portugueses a nível internacional.
Portanto, aposta dos clubes, maior base de recrutamento na sequência dos bons resultados da modalidade e o trabalho e os métodos de Paulo Jorge Pereira fazem sonhar com mais altas marés.
Aliás, os sub-20, no ano passado, sub-21, este ano, comandados por Carlos Martingo, foram medalha de prata e sextos, respetivamente, no Europeu e Mundial.
Agora, neste caso e pelo menos para já, não me peçam uma grande explicação a não ser a mão de José António Silva, a Seleção Nacional feminina de sub-19 está nas meias-finais do Europeu jogado na Roménia. Impensável, inimaginável, mas estão lá. Depois de uma grande caminhada: derrota a abrir com a Alemanha, 27-26; e a seguir tudo vitórias com Roménia (36-30), Islândia (44-26), Suíça (38-25) e Suécia (30-23). Numa análise rápida, um desaire por uma bola e depois tudo triunfos sem contestação.
Onde vão chegar? Não sei. Podem ir pódio? Acredito que sim. A adversária é a Dinamarca e esta sexta-feira já saberemos.
Que este seja o ponto de partida para uma evolução no feminino, uma aposta da Federação de Andebol de Portugal desde há algum tempo, mas que, certamente, nem os seus responsáveis esperavam ver materializada tão cedo.
Para terminar, Gabriel Conceição, do FC Gaia, foi considerado o melhor jogador de andebol de praia da Europa na gala da EHF. Tem 18 anos. E é o melhor.
Há por aí quem diga, e eu concordo, que Kiko Costa, também de 18 anos, é já um dos melhores andebolistas do mundo no pavilhão. Como Rui Silva é um dos melhores centrais do mundo e Alfredo Quintana esteve no top-5 mundial.
Onde chegará o andebol português, ninguém sabe.
Mas que a nau leva o rumo certo, disso ninguém duvida.