JOGO FINAL - Uma opinião de João Araújo
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"No fim, sentia-me bem e arrisquei. Se não tentas, nunca descobres." As palavras de João Almeida, minutos após ter sido o primeiro a cortar a meta da 16.ª etapa da Volta a Itália, além das de um atleta realizado pelo objetivo cumprido merecem ser vistas como uma lição de vida.
A maior vitória do ciclista português na etapa de ontem do Giro foi a da coragem de ter posto a equipa a trabalhar para ele porque sabia poder retribuir com sucesso o esforço coletivo. E promete mais...
O ciclista português alcançou ontem o maior triunfo da brilhante apesar de ainda curta carreira e isso justifica todos os festejos. Mas mais do que a mera satisfação por, finalmente, ter incluído uma tirada do Giro no palmarés, o que deve ser celebrado, é a forma como o português apostou as fichas todas em nome do sonho porque sabia ter muitas possibilidades de ser feliz. Como foi, apesar do risco e da ténue fronteira entre sucesso e insucesso no desporto, sobretudo numa modalidade de enorme desgaste como o ciclismo, onde o "homem da marreta" (que, no meio, designa o espetro do desfalecimento) pode estar ao virar da próxima curva...
Analisando em detalhe o feito de Almeida, uma primeira - e simples - conclusão é que apesar da extensão (22,7 km), o Monte Bondone tem uma inclinação média (6,4%) e uma altitude (1642 m) mais adequadas às características do português do que a generalidade das grandes subidas transalpinas, a pedirem mais explosão. Como as que esperam o pelotão na sexta-feira, onde se vai pedalar quase sempre acima dos 1500 m de altitude e três das cinco contagens de montanha superam os 2000 m, onde o ar rarefeito multiplica o esforço. Em 2020, um estreante João Almeida perdeu a "maglia rosa" e o pódio final numa etapa semelhante. O que se viu ontem, na bicicleta e no discurso, legitima que agora se espere mais. Sem que seja um acaso ou surpresa, antes uma lição de ciclismo e de vida.