NO LUGAR DO ADEPTO - Opinião de Gilberto Duarte
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A campanha da Seleção Nacional de andebol, tudo o que tem feito, o compromisso que os jogadores têm revelado, a capacidade de entreajuda, a demonstração de força, tem sido algo de extraordinário.
Devo começar por assumir que, para mim, é muito mais fácil jogar do que escrever, mas depois de ponderar um pouco decidi aceitar este convite de O JOGO e cá estou a arriscar.
Como mais um adepto, admito que sou sofredor, bastante sofredor, até, sinto uma enorme gratidão por tudo aquilo que os meus colegas nos estão a oferecer, a nós, portugueses. Tenho percebido um vibrar sincero, genuíno, até de pessoas que provavelmente nem sabiam com quantos jogadores se joga andebol e hoje estão mobilizadas a acompanhar tão brilhante percurso neste campeonato da Europa.
A Europa, acreditem, olha hoje para Portugal como uma potência em crescimento. E a maioria nem sabe a qualidade que temos nos escalões inferiores
Haja o que houver, esta presença de Portugal no Europeu de 2020 já está gravada na história da modalidade do nosso país. Haja o que houver, embora acredite que venha a haver mais. Mas já lá voltarei, é apenas uma questão de ler mais umas linhas até lá abaixo.
Primeiro, estando eu em França e tendo, antes de chegar ao Montpellier - ao qual agradeço, em especial ao treinador Patrice Canayer, ter-me dado um dia para ir a Trondheim - , jogado na Polónia e em Espanha, quero dizer que sinto também o enorme respeito que a Europa do andebol tem neste momento pela nossa seleção. É um gosto imenso ouvir rasgados elogios e até ter de responder a perguntas sobre esta ascensão da modalidade.
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A Europa, acreditem, olha hoje para Portugal como uma potência em crescimento. E, acho eu, a maioria deles nem sabe a qualidade que temos nos escalões inferiores - não nos esqueçamos de que os nossos sub-19 e sub-21 foram quartos classificados nos respetivos Mundiais do ano passado. E, desses, dois já estão a jogar na Seleção A: o André Gomes e o Luís Frade.
Este é, sem dúvida, um momento incrível.
Outra coisa que a mim me toca particularmente é esta capacidade de motivação, até de inspiração, que a campanha dos "Heróis do Mar" está a ter nos mais jovens, mesmo em crianças pequenas, que, desta forma, podem ir para a escola a falar no Ferraz, no Miguel Martins, no Quintana, no Portela, no Branquinho, no Alexis, no Areia ou noutro qualquer. Vejo isso nas redes sociais, leio muito no Twitter. É uma oportunidade de ouro para atrair mais praticantes, para fazer crescer, também em número de jogadores, o andebol nacional.
Há, no meio desta alegria, um desgosto: a ausência, o quase total silêncio, da televisão pública. Deixando o meu reconhecimento a quem, como O JOGO, mas não só, está no terreno desde a primeira hora a acompanhar a presença da Seleção Nacional na Noruega e, agora, na Suécia, é inegável que as transmissões dos jogos em sinal aberto teriam abrangido um leque de pessoas bem mais elevado e de uma outra forma, a visual.
A tal tarefa de atrair mais praticantes sairia reforçada e, até a nível de potenciais novos patrocinadores, o andebol teria ainda mais a ganhar. A ajuda da transmissão na TV pública seria, a meu ver, gigantesca. É uma pena, é mesmo lamentável, é, se calhar, ainda que de forma indireta, até um grave prejuízo para a modalidade.
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Devo dizer, por uma questão de justiça, que este trabalho extraordinário da Seleção Nacional tem ponto de partida nos clubes. Ou seja, as atuações, especialmente de FC Porto e Sporting nas competições europeias, mas também de Benfica e Madeira, que jogam igualmente as provas da EHF, são um contributo importante para o trabalho que depois é potenciado pelo nosso selecionador, Paulo Jorge Pereira, e respetiva equipa técnica.
E agora, se me leram até aqui, chegam às tais linhas: há que continuar a acreditar e a sonhar com esta equipa até ao fim. Fizeram-nos sonhar desde o início, não será agora que iremos parar.
A derrota de anteontem - contra uma equipa, a Islândia, com jogadores de topo mundial, ou então não estaria entre as 12 melhores seleções da Europa - é para esquecer rapidamente. E o tempo em que foi lembrada, que tenha sido para detetar erros e arranjar soluções para os ultrapassar.
De resto, lembrem-se, e agora escrevo especialmente para vocês, jogadores, de que vencemos a França duas vezes em nove meses, ou então, duas vezes nos últimos três jogos, podem escolher, fiquem à vontade. Recordem-se também de que, em plena Malmoe Arena, derrotaram a Suécia por dez golos! E não, nesta parte não estamos a falar de sonho, mas sim de realidade: vocês fizeram o jogo perfeito. Foi lindo, arrepiante.
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A Suécia, a seleção que se pode orgulhar de ter mais campeonatos da Europa (quatro) e que é ainda a vice-campeã europeia, foi totalmente desmontada por vocês, companheiros! Foi um jogo épico e que me fez sentir tanto orgulho de ser português.
Por isso, por esse orgulho que hoje em dia muito mais gente nutre por vocês, há que manter a união, a força de vontade, o foco, o ir jogo a jogo, passo a passo, o lutar até para lá da última gota de suor, como têm feito desde o início, e nunca, jamais, desistir.
Quero ainda que saibam que aqui fora, nós, adeptos, continuamos a sonhar, a apoiar-vos incondicionalmente e a ter a crença de que vocês, já que são os "Heróis do Mar", vão dobrar todos os cabos das tormentas. Por isso, e especialmente para toda a equipa, quero terminar com uma palavra: orgulho!