Belmiro Alves anuncia o fim da carreira e revela alguns dos seus objetivos que, como médico, passam por fazer uma missão humanitária
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Aos 26 anos, outros apelos fazem Belmiro Alves deixar o andebol. O facto de ser médico, leva-o a ter outras ambições fora de campo.
É verdade que vai deixar de jogar?
Sim. É uma decisão que já está tomada há muitos meses.
Porquê?
Podia dizer mil razões e serem todas questionáveis, porque ainda sou novo e, teoricamente, poderia ainda jogar muitos anos. O timing deve-se ao facto de ter decidido repetir o exame de acesso à especialidade médica no final de novembro deste ano. Tenho grandes objetivos para o meu futuro enquanto médico e sinto que preciso de estar totalmente focado no estudo até lá. É um exame muito exigente e de uma competição extrema com outros colegas. Procuro dar tudo de mim em tudo no que estou envolvido e, para concretizar este objetivo, sinto que preciso de abdicar do andebol para estar de consciência tranquila com o resultado final.
Por que não faz esse exame mais tarde?
Tenho noção que quando estou no topo da minha forma física sou um jogador muito valioso, mas esses momentos são cada vez menos frequentes, sem que eu possa fazer algo para controlar. Nunca deixei de dar tudo de mim em campo e nos treinos, mas fisicamente já não consigo responder a cem por cento. Com todas as mazelas que estes anos a alto nível me deixaram, de certo modo sinto que já não sou tão feliz dentro de campo como era há dez anos, quando podia treinar no meu máximo sem sentir dor.
Depois a organização das provas não permite conciliar o trabalho com o desporto. Não somos qualificados como jogadores profissionais, mas temos que agir como tal e pôr a nossa vida pessoal de parte. Temos, muitas vezes, de usar dias férias para poder ir a um jogo nas ilhas ou no sul, sem qualquer respeito ou apoio pela tutela federativa. Como médico é ainda mais difícil fazer esta gestão. O andebol deu-me muito, mas também me tirou muitas coisas. Tenho muitos interesses além do andebol e da medicina, ainda sou novo e quero aproveitar para viver tudo aquilo que o andebol não me permitiu antes de começar a minha carreira médica.
Que outros interesses são esses?
Viajar, e há um país que quero muito visitar, que é a Rússia. Quero aprender russo, após o exame, para estar lá um tempo com a minha família. Quero também fazer uma missão humanitária, escrever, sempre gostei de escrever. Gosto de pescar, de fazer fotografia...
Quais foram os grandes momentos da sua carreira?
Não olho a competições, títulos ou pavilhões, no fim o que fica são as pessoas. Por isso, os grandes momentos da minha carreira foram dois, num contínuo. O primeiro foi partilhar o balneário com os meus ídolos da infância que acabaram por se tornar meus amigos. O segundo foi partilhar o balneário com os meus amigos da infância que se tornaram as principais referências do andebol português.
O que de melhor lhe trouxe o andebol?
As pessoas extraordinárias que conheci, o meu curso de medicina e o ser humano que me tornei. Todas as vivências, os sacrifícios, os risos, as frustrações, o sucesso, os erros, as conquistas. Da base ao cume e do cume à base. Descobri muitos mundos e moldei o meu mundo interior. Posso não ter dado ao andebol tudo aquilo que ele foi capaz de me dar, mas terei sempre uma bola e o cheiro da resina no coração.
"Quero também fazer uma missão humanitária, escrever, sempre gostei de escrever. Gosto de pescar, de fazer fotografia..."
O que é que te fez aceitar o convite para pertencer à equipa médica do clube?
Não contribuindo em campo e mantendo a vontade de continuar ligado ao andebol e à Associação Atlética de Águas Santas, vejo este convite como uma oportunidade para d"ar os primeiros passos na medicina desportiva e ajudar esta casa que tanto significa para mim.
Que medidas está a tomar o clube, e de que forma será realizado o reinicio dos treinos do plantel sénior?
"Estão a ser criados meios de modo a testar periodicamente a infeção por covid-19 em todos os atletas e funcionários do clube, assim como a montagem de circuitos para a circulação de pessoas e a criação de postos de higienização individual e de espaços. Será entregue a cada elemento do clube um manual de procedimento, assim como explicadas todas as medidas necessárias para a prevenção do contágio pela covid-19 no antes, durante e após a prática desportiva."