Sara Moreira recupera de duas lesões contraídas em 2019 e que a impediram de garantir até agora o apuramento olímpico, mas continua a acreditar no seu potencial desportivo.
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Sara Moreira está em recuperação de uma fratura de stress, diz ainda fazer "pouca corrida", mas compensa com natação e bicicleta, logo depois de levar o filho à escola. A cinco vezes medalhada em campeonatos da Europa, com destaque para os ouros na meia maratona de 2016 e nos 3000 metros de 2013 em pista coberta, sonha com o apuramento para a maratona de Tóquio"2020, o que, a confirmar-se, marcaria a quarta participação olímpica. A O JOGO, abre o livro.
Sara, vamos diretos ao assunto: o apuramento olímpico ainda é viável?
-Recuperei de uma fratura no pé ocorrida em julho e outra de stress que fiz em outubro, esta última derivando da primeira lesão. Estou numa fase de recuperação, mas o apuramento olímpico ainda é um objetivo. Vai depender do regresso à forma ideal. Ainda faço pouca corrida, mas compenso com natação, elíptica e bicicleta.
Em que maratona tentará o mínimo?
-Numa da primavera, em abril. O apuramento decorre até maio. Seria ideal tê-lo conseguido durante este ano, para não ter de fazer duas maratonas quase seguidas, mas tive de reformular os planos.
Mexe com a cabeça não estar ainda apurada?
-Mexeu quando me voltei a aleijar, percebendo que não conseguia competir mais este ano. Foi difícil de gerir. Contudo, o apuramento, que é a meta, ainda é possível. Não posso pensar não ter cumprido o primeiro plano.
Tantas lesões não geram desconfiança de quem a acompanha?
-É a carga de treino própria de um atleta de alta competição. No meu caso, quis rapidamente recuperar e isso foi prejudicial. Já ultrapassei os comentários e as lesões foram comprovadas por ressonâncias magnéticas. Já conheço bem o meu corpo e sei quando estou a chegar ao limite. Não tenho dúvidas de que tenho muito para dar ao desporto.
Falou do foco na maratona, mas o regresso aos 10 000 metros não será uma boa aposta, vendo os grandes resultados da Sara em 3 000 e 5 000?
-Gosto muito dessa distância e tenho ainda de explorá-la. Não sei quando será, poderá até ter de ser este ano, para tentar o apuramento olímpico. Tenho essa consciência. A maratona é a aposta de momento, mas a pista faz parte de mim: adoro lá correr. Aliás, o crosse ajuda-me no trabalho, mas é na pista e na estrada que quero ser recordada.
Aos 34 anos, já sabe quando parar?
-Gostava de fazer este ciclo olímpico e outro até Paris"2024. Só depois vou pensar nisso [risos].
Consegue descrever as sensações dos três Jogos onde esteve?
-Pequim"2008 são os mais recordados. Foi a minha estreia e não tinha noção para o que ia. Em Londres"2012, encarei a prova com muita responsabilidade Apostei nos 10 000 [14.ª], que adoro correr. Foi uma brutalidade correr no estádio olímpico. No Rio"2016, achava que ia conseguir um grande resultado, mas infelizmente, por lesão, não foi possível [desistiu na maratona]. Ficou a desilusão. Quero outros Jogos.
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"O Sporting fez-me transcender"
A atleta de 34 anos confessa ter sonhado mudar mais cedo para o Sporting.
Esperava ter conquistado tantos títulos no Sporting?
-Em 2007 não aconteceu: o Sporting até fez uma proposta melhor, mas já me tinha comprometido com o Maratona. O Sporting fazia provas na pista e sempre pensei lá correr. Não tinha noção de que iria ter tantos títulos desde que cheguei [2014], mas sempre foi um sonho vir: pelos grandes nomes, pelo ecletismo. O Sporting fez-me transcender.
Qual é a maior vitória até hoje pelo clube?
-Sermos campeões europeus de pista em 2016. Senti na Turquia o que era o Sporting. Já o procurávamos há muito e, em Mersin, vivia-se um ambiente atribulado: tudo tornou o momento especial.
"O castigo à Rússia é justo e o doping no Quénia preocupa"
Sara Moreira não fugiu à polémica e considerou que o afastamento da Rússia dos Jogos Olímpicos de 2020 se ajusta. "É justo, por todos os antecedentes, pelo sistema que estava montado. Há atletas que não estão a correr nada e têm uma explosão antinatural", refere, pedindo, porém, que "o mesmo rigor se use para outros países." As africanas são favoritas nas provas de fundo e meio-fundo, mas o doping também é uma realidade: "Parece que se gerou uma tendência de dopagem para se ter resultados. Tem de se pôr a mão e preocupa, claro."
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"Estava a cair na monotonia"
Ao longo da carreira, Sara Moreira teve cinco treinadores e comenta que o treino é algo que a apaixona, admitindo poder ser o futuro pós-atletismo.
Esteve mais de uma década com o Pedro Ribeiro, seu marido, como treinador, mas mudou o ano passado...
-Foi com o Pedro que atingi os melhores resultados. Com o Carlos Monteiro, tem sido uma descoberta constante: há uma pressão maior, mas cresci com um grupo de treino e com a forma metódica de ele trabalhar. Fiquei mais organizada. Precisava de uma coisa diferente: estava a cair na monotonia. O treinador é mais de 50% do sucesso do atleta. Não tenho formação, mas é algo que me vejo a fazer no futuro. Talvez com crianças.