Rui Oliveira: "O João Almeida tem a mira no pódio, mas a responsabilidade é de todos"
ENTREVISTA - Rui Oliveira estreia-se sexta-feira na Volta a Itália com uma missão clara, a de ajudar João Almeida nas etapas nervosas, ciente de que o sucesso do caldense passa pelos portugueses. Gaiense admite a O JOGO que a pressão para esta prova é completamente diferente das duas anteriores Vueltas onde marcou presença, pois a ambição com Almeida é bem maior do que era com De la Cruz.
Corpo do artigo
Rui Oliveira fez as duas últimas Vueltas e na sexta-feira arranca para o seu primeiro Giro. A O JOGO, revela-se feliz por cumprir uma meta de criança e diz-se ainda mais motivado por ter um pódio para o qual trabalhar, em prol de João Almeida, líder da UAE Emirates.
O Giro, finalmente. Está motivado por fazer parte do lote da UAE?
-Queria muito. Até foi uma surpresa quando recebi a notícia, no final do ano de 2021. Não estava à espera e fiquei agradado, ainda mais por esta questão de o João Almeida ser o líder. Estou muito contente. É das provas mais especiais.
Esta prova segue-se a um período longo de competição. Foram 22 dias a pedalar. Sente-se recuperado?
-Tive bastantes corridas e fiz uma semana de descanso antes do Giro. Foi excelente. Fui bastante bem para o estágio da Sierra Nevada, logo senti que as pernas já iam recuperadas.
Qual será o seu papel numa corrida com tanta montanha?
-Vou ser preponderante em dois papéis. Vou ajudar o Fernando Gaviria na preparação do sprint, mas também vou estar todos os dias perto do João, para o que ele precise. Terei de levá-lo à frente, ou parar com ele caso tenha alguma avaria. Serei mais importante nas etapas planas e de média montanha. Nas primeiras, por exemplo, temos a hipótese de ver muitas quedas. Depois, sabemos que na montanha o Rui Costa, o Ulissi e o Formolo estarão mais vezes com o João. Eu tento deixá-lo à frente, que depois o João na montanha sabe fazer o resto.
Reabilitar Gaviria é importante para a UAE, mas a camisola dos pontos é um objetivo?
-Pensamos mais na camisola rosa. Não podemos pensar na dos pontos também. O Gaviria vai focar-se em ganhar uma etapa. Ele ainda vai avaliar como está dia a dia.
Assume que o pódio é uma meta para o João?
-Estas etapas na Hungria são complicadas. A primeira, que vai dar a primeira camisola rosa, será muito caótica. Podem chegar sprinters, puncheurs, homens da geral. É um caos autêntico. A quarta etapa é no Etna, depois de um dia de descanso, que é sempre uma incógnita. Antes de pensarmos no pódio, temos de ter em atenção cada pormenor, cada dia. Não é um mar de rosas correr uma prova de três semanas, mas de qualquer modo o pódio é uma responsabilidade enorme e de todos.
Vê o João com capacidade de discutir esse objetivo?
-Dá para ver que ele e o Rui Costa estão em forma. O João trabalhou muito, já estava num bom momento de forma. Passou este tempo com tranquilidade e tem a mira no pódio, sim.
Fez duas Vueltas. Onde sente as diferenças?
-A primeira foi em novembro de 2020, na segunda apanhei muito calor. Não sei como vou reagir, porque os dias de frio serão uma diferença e não serão os que mais adoro. Com o De la Cruz como líder em ambas as provas, não havia aquela pressão. Os objetivos agora são outros e a pressão também. Quero dar 200%, quero ficar satisfeito com o meu rendimento e ajudar o João a atingir o pódio dele.
Capitão Rui e a memória italiana
Rui Costa começa amanhã a sua 14.ª Grande Volta, sendo este o segundo Giro. "O Rui Costa é um verdadeiro capitão. Um capitão da velha guarda. Sabe muito de ciclismo", elogia Rui Oliveira, que destaca a "experiência" de Ulissi em solo italiano. Quanto a memórias do Giro, o gaiense de 25 anos lembra Contador e Froome: "As memórias mais antigas são da altura do Di Luca ou das etapas do Petacchi. Mais tarde, recordo-me do Yates a perder a camisola com aquele ataque do Froome [2018]. E há sempre o Mortirolo e os ataques do Contador".
Estágio sem pensar nos rivais
Rui Oliveira, Rui Costa e João Almeida estiveram na Sierra Nevada durante várias semanas a preparar o Giro. O gaiense fala do ambiente.
Conversaram muito sobre os favoritos e olharam com especial atenção para alguma etapa?
-Fomos treinando, eram três semanas. Limámos as arestas, fizemos trabalhos específicos. Só falámos de ciclismo, de futebol. Jogámos muito computador [risos]. Foi muito bom nesse aspecto. Tentámos não falar muito dos adversários. E ainda não olhei para o livro de prova como deve ser. Sei que a terceira semana é de loucos. E chega [risos].
Faltou um festejo nas clássicas
Rui Oliveira fez 11 clássicas belgas e ajudou Tadej Pogacar na Flandres. Reconhece que esse dia poderia ter mudado a época.
Correu muito na Bélgica, sempre em prol dos líderes. Ficou satisfeito?
-Fiz um calendário maior do que esperava. Faltou um resultado individual numa clássica. Tive oportunidade na E3. Não foi a melhor campanha nos resultados. No entanto, fui muito válido para todos.
Faltou uma grande vitória?
-Estivemos muito perto na Flandres, com o Pogacar. Foi das corridas em que mais trabalhámos juntos. Ele e o Trentin consideraram que trabalhámos bem. Não éramos o bloco mais forte, mas mostrámos que podíamos ter ganho. Faltou uma grande vitória, mas vencemos a Bredene com o Pascal Ackermann.