Ricardinho: "Passei por todas as etapas. A do chorar, do 'porquê a mim'..."
ENTREVISTA, PARTE I - Em março foi operado a uma rotura do tendão longo da perna direita. Cada passo dado foi a pensar num só objetivo: estar no Mundial, o último da carreira. E o Mágico vai consegui-lo...
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A Seleção Nacional de futsal está há quase duas semanas a preparar o Campeonato do Mundo da Lituânia, que se disputa de 12 de setembro a 3 de outubro. Mas, em março, houve o sério risco de Ricardinho, a joia da coroa do futsal luso, falhar aquela que será a última fase final intercontinental da carreira.
Operado, em março, a uma rotura na perna direita, o Mágico garante estar "melhor" do que pensava, mas admite ter passado por uma recuperação emocional delicada. O Mundial é o único título que lhe falta na carreira.
Quando se lesionou, em algum momento pensou que não seria possível recuperar a tempo do Mundial?
-Acho que passei por todas as etapas. A etapa do chorar, do "porquê a mim", "porquê agora", "será que chego ao Mundial, será que não chego". Depois, a parte da aceitação, o pensar já no objetivo, na superação... foram muitos dias com vários sentimentos, mas obviamente que quando fui a operar, fui já consciente de que se queria estar no Mundial, tinha de ser operado naquela fase. Foi tudo pensado, não só em família, mas também com a família da Seleção, com o doutor, com os treinadores, todos sabíamos no ponto em que iria chegar. Cheguei melhor do que pensávamos, porque foi uma recuperação mais rápida do que o normal, mas o que é certo é que está a correr tudo bem, estou a sentir-me a evoluir com a ajuda dos meus companheiros e espero ser mais um para ajudar.
Onde encontrava a força motivacional quando disse que chorava?
-Em mim mesmo... se tu não fizeres por ti, ninguém vai fazer. Podes ter muitas ajudas, mas se não trabalhares, não cai do céu. O facto de também saber que é o último Mundial; mas, acima de tudo, é o superares-te a ti mesmo. Já demonstrei a todos como sou como atleta e fora do campo também, e agora era superar-me a mim mesmo para poder estar nesta fase da melhor maneira possível.
Se tivesse 25 anos e mais Mundiais pela frente, não faria este esforço todo?
-Isso faria sempre. Qualquer atleta quer estar aqui. A questão é tu saberes que é o teu último Mundial... OK, isso dá-te um extra, mas como disse antes: se não trabalhares por ti mesmo, não cai do céu. Tens de ir atrás. E eu queria muito ir atrás, estar presente nesta convocatória e neste Mundial. Quero muito ajudar a Seleção. Sabemos que o Ricardinho não resolve nada sozinho, isto é todos juntos. E todos juntos vamos conseguir, com certeza.
Acha que vai estar em plena forma, quando começar a fase de grupos?
-O importante é sentir-me melhor pouco a pouco, não haver recaídas, não haver passos atrás e, por isso, estamos a fazer tudo gradualmente. Estou a sentir-me muito bem. A semana foi dura para todos. Consegui fazer os treinos todos sem nenhuma paragem e isso é importante.
O Mundial deve ser a única competição que lhe falta no currículo...
-Exatamente, no meu currículo, com quase 50 títulos, é essa que me falta.
Seria a melhor maneira de coroar uma carreira ímpar?
-Seria, sem dúvida alguma, mais um grande momento na Seleção e para o país. Até porque temos o bronze da Guatemala mas de cada vez que queremos relembrar uma medalha temos de ir muito para trás e a nossa Seleção não quer viver do passado, quer viver constantemente do presente e do futuro.
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