Mudanças no Mundial de Ralis não vão afetar, pelo menos para já, uma das provas mais populares e em constante inovação. A três dias do início do maior acontecimento desportivo anual em Portugal, a organização já prepara as próximas três edições, mas alerta para os perigos do mau comportamento do público
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Presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP) e também da Comissão do Mundial de Ralis (WRC) da Federação Internacional do Automobilismo, Carlos Barbosa tranquilizou os adeptos nacionais ao confirmar o Rali de Portugal na zona Centro nas edições de 2020, 2021 e 2022. Apenas a do próximo ano é dada como garantida no Mundial, mas as seguintes estarão bem encaminhadas, uma notícia importante num período de alterações profundas, pois esperam-se as entradas de ralis no Japão e Quénia (Safari).
Se a edição deste ano arranca quinta-feira, em Coimbra, na Porta Férrea, na Alta Universitária - os pilotos terão antes o Shakedown (8h00), em Paredes -, assinalando um regresso à zona Centro depois de 18 anos de ausência, a continuidade entre as 14 corridas do Mundial é uma primeira vitória. Esta época já se assistiu à entrada do Chile, para a vaga da Polónia, devido à falta de civismo dos espectadores, e na próxima "vão sair dois ralis, que não posso dizer quais são, exatamente por questões de segurança", revelou Carlos Barbosa. Segundo se tem constado, serão Córsega e Alemanha a abandonar um campeonato que esta época tem nove provas na Europa.
"Um incidente, mesmo pequeno, provocado pelo facto de os espectadores não cumprirem as regras e indicações das autoridades, será suficiente para o rali ser retirado do calendário da FIA", avisou Barbosa, justificando as preocupações dos organizadores de um evento cujo orçamento volta a aproximar-se dos 3,5 milhões de euros e cujas ações destinadas à segurança representam mais de 30 por cento dessa verba. No final da edição do ano passado, o organizador destacara o "bom comportamento do público e o grande interesse desportivo", mas deixara (mais) um recado: "Se as entidades oficiais nos apoiarem, continuaremos de certeza."
A alusão será para outra frente de "batalha". Ao contrário de outros anos, não é ainda conhecida a comparticipação estatal para o rali que hoje já movimenta muita gente na Exponor, apesar de o organizador lembrar sempre que "o Rali de Portugal é o maior evento desportivo e turístico em Portugal desde o Euro"2004". "Se não fosse o esforço de algumas câmaras municipais, não havia rali. O apoio do Estado é fundamental", referiu ainda antes da apresentação da edição deste ano, na qual lembrou que "o Rali de Portugal tem sido uma etapa essencial do Mundial e é a mais vista do campeonato".
É o êxito que ainda há um ano levou 1,2 milhões de pessoas às classificativas o que realmente interessa à WRC Promoter GmbH, entidade criada há seis anos, em Munique, para divulgar o Mundial de Ralis, e que tem grande poder, pois o seu foco é a comercialização (patrocínios para o WRC e aplicação de taxas como garantia de entrada no calendário) e promoção (televisão, redes sociais e outros canais de comunicação). O diretor-geral é Oliver Ciesla e é dele a célebre frase, proferida em 2016: "Portugal é uma das pátrias do WRC."
Carlos Barbosa está consciente da forte concorrência de "países cujos mercados são mais importantes do que o nosso, desejosos de fazer parte do WRC e dispostos a pagar essa entrada". Além de Japão e Quénia, com entrada prestes a ser anunciada também Coreia do Sul, Croácia, Estónia e Nova Zelândia ambicionam ter o Mundial. A concorrência é, realmente, apertada!
Retorno não pára de crescer
"A região Norte deu uma estalada no centralismo de Lisboa", disparou Carlos Barbosa, aquando do regresso ao Norte e baseado nos números do impacto económico do evento. Em termos de retorno, os valores não param de subir: 127,4 milhões de euros em 2015, 131 milhões em 2016, 137 milhões em 2017 e 138 milhões em 2018. E foi baseado nestes dados que o presidente do ACP lembrou, na altura devida, que "os 25 milhões de receita fiscal" que, em média, cada edição comporta, ajudam a "provar a incompetência de quem não quis investir um milhão de euros no melhor rali do mundo", problema levantado na mudança de 2015. O Turismo de Portugal tem continuado, desde então, a manter o seu apoio no milhão de euros.