Os 28 segundos que salvaram a vida de Grosjean: "Lembrei-me dos meus filhos"
Piloto da Haas contou, numa videoconferência difundida pela Reuters como sobreviveu ao acidente de domingo, no Grande Prémio do Bahrain, em que o carro que conduzia se partiu e incendiou. O franco-suíço sofreu queimaduras nas mãos e já teve alta.
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Romain Grosjean, piloto de Fórmula 1 que, no domingo, sobreviveu a um terrível acidente, no Grande Prémio do Bahrain, recordou, esta sexta-feira, numa videoconferência, como conseguiu do carro em chamas. O veículo, recorde-se, atravessou uma barreira metálica, partiu-se ao meio e incendiou-se. O franco-suíço pensou que "ia morrer", mas a lembrança dos filhos deu-lhe alento para se salvar.
Passou-se tudo em menos de meio minuto, embora a percepção de Grosjean tenha sido bem diferente. "Para mim, não foram propriamente 28 segundos", contou, num relato na primeira pessoa do singular difundido pela Reuters.
"Quando o carro parou, abri os olhos. Soltei, imediatamente, o cinto de segurança. Do que não me lembrava, no dia seguinte, era do que tinha feito ao volante. Porque não tenho memória de o ter tirado, e disseram-me que não, de facto. Ele sumiu-se entre as minhas pernas. A coluna e tudo o resto partiu-se e caiu."
"Sinto algo a tocar a minha cabeça, então sento-me no carro. O meu primeiro pensamento foi: 'Vou esperar, estou virado ao contrário contra a parede, então, vou esperar até que alguém venha ajudar-me'. Não estava em stress e, obviamente, não tinha noção de que havia fogo."
"Depois, olhos para um lado e para o outro e à esquerda vejo fogo e penso: 'Não tenho tempo para ficar aqui à espera'. O que fiz a seguir foi tentar levantar-me um pouco mais para a direita e não consegui. Tento de novo, para a esquerda, e não resulta. Sentei-me e pensei no acidente de Niki Lauda [que sofreu queimaduras graves, em 1976)."
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"Pensei que isto não podia terminar assim. Não podia ser a minha última corrida, não podia acabar assim. Nem pensar. Então, tento outra vez e percebo que estou preso. Encostei-me e então houve o momento menos agradável em que o meu corpo começa a relaxar. Estou em paz comigo e vou morrer. Pergunto-me se vai queimar o meu sapato ou o meu pé ou a minha mão, se vai ser doloroso, quando vai começar. Acho que foram milésimos de segundo."
"E depois pensei nos meus filhos. Digo para mim: 'Não, eles não podem perder o pai, hoje'. Então, não sei porquê, decido virar o meu capacete para o lado esquerdo e rodar o ombro. Parece resultar, mas percebo que tenho o pé preso no carro. Então, tento de novo e os meus ombros passam [o halo, proteção frontal do habitáculo] e sei que vou sair."
"Nessa altura, tenho as duas mãos no fogo. As minhas luvas são vermelhas, normalmente, e vejo, especialmente a esquerda, mudar de cor, começar a derreter e a ficar totalmente preta. Sinto as dores das minhas mãos no fogo, mas também o alívio por estar fora do carro. Então, salto do carro, vou para a barreira e sinto o Ian [Roberts, médico da FIA] puxar o meu macacão e sei que já não estou sozinho, que há alguém comigo."
Após sair, Grosjean foi imediatamente observado e seguiu pelo próprio pé para a ambulância. Fez questão disso, contou: "Era essencial que houvesse imagens minhas a caminhar para a ambulância. Embora tivesse saído do fogo, precisava enviar outra mensagem forte de que estava bem".