Antigo ponta-direita, o quinto andebolista português mais internacional de sempre, deu uma entrevista ao site da Federação de Andebol de Portugal,
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"Eu olho para a Seleção Nacional como uma bomba que estava dentro de uma caixa, que todos nós sabíamos que era uma potência, e que de repente explodiu", disse Ricardo Costa, antigo internacional português, em entrevista ao portal da Federação de Andebol de Portugal.
"Acho que 14 anos de ausência é muito tempo e todos nós sabíamos que tínhamos qualidade. Por vários fatores, entre os quais a forma como as equipas se apuravam, Portugal foi sendo deixado de fora - não é fácil eliminar uma seleção de topo mundial e era assim que a qualificação era feita. O facto de o processo de qualificação ter mudado e de, agora, se apurarem duas equipas, ajudou-nos a mostrar o nosso potencial", analisou o antigo ponta-direita, natural do Porto.
"Por alteração do método de apuramento, Portugal foi capaz de estar neste Europeu e no jogo com a França, se nós íamos com dúvidas, demonstrámos aquilo de que éramos capazes", continuou, prosseguindo: "Se ganhámos uma vez, era possível ganhar a segunda e assim o fizemos e acho que aí sentimos que, afinal, não ganhámos por acaso em Guimarães, mas sim porque somos bons".
Referindo-se em concreto ao Campeonato da Europa, que se jogou e janeiro, na Áustria, Noruega e Suécia, Ricardo Costa, o quinto andebolista português mais internacional de todos os tempos - com 210 jogos pela equipa das Quinas, sendo 147, com 399 golos, pela seleção A - foi peremptório. "Foi um espetáculo para toda a gente", atirou. "Se calhar ficámos todos com a sensação de que o sexto lugar soube a pouco, o que não quer dizer que tenha sido pouco, foi muito e foi fantástico termos alcançado a melhor classificação de sempre. Só que jogámos tão bem que todos nós sentimos que podíamos ter feito mais neste Europeu", reconheceu, lembrando os tempos em que envergava a camisola 9: "Foi um pouco à semelhança daquilo que aconteceu em 2003, na Croácia, em que nós estivemos a dez minutos de nos apuramos para as meias finais, quando estávamos a ganhar à Rússia e acabámos por falhar aquele momento. Nessa altura também ficamos com a sensação de que podíamos ter feito mais, mas pronto, acabou por ser durante muitos anos a melhor classificação e agora foi superada e de uma forma fantástica."
"É um pouco difícil comparar os dois grupos, com tanta diferença de anos, além de que o jogo também mudou em termos de velocidade, por exemplo"
"Se houvesse um jogo entre a geração de 2003 e a atual, não sei quem ganharia"
Tendo-lhe sido pedida uma comparação entre as duas gerações, a de 2000 e a de 2020, o futuro técnico do Avanca afirmou: "É um pouco difícil comparar os dois grupos, com tanta diferença de anos, além de que o jogo também mudou em termos de velocidade, por exemplo. Naquela altura alguns dos jogadores foram atletas de topo. O Viktor Tchikoulaev jogou uma final da Liga dos Campeões pelo ABC, o Carlos Resende foi o melhor lateral esquerdo, o Ricardo Andorinho jogou no Portland San Antonio, eu joguei no Ademar León, grandes equipas europeias", começou por recordar. "Hoje também existe a mesma coisa. O Gilberto Duarte, que acabou por não estar no Europeu, é uma figura do nosso andebol e jogou no Barcelona, tal como o Alexis Borges, e acho que as duas gerações são muito parecidas. Na baliza tínhamos muita qualidade, tal como temos agora e acho que estas duas equipas conseguiram chegar a um patamar elevado pela excelência de guarda-redes que tínhamos e temos. O Quintana veio subir o nível, da mesma forma que o Sérgio Morgado, o Paulo Morgado e o Carlos Ferreira o fizeram na nossa altura. No fundo são duas gerações muito fortes. Se houvesse um jogo entre a Seleção Nacional de 2003 e a atual, não sei quem é que ganharia, sinceramente."
"Acho que todas as pessoas que, há muitos anos, estiveram relacionadas com a Seleção partilham deste sentimento. Sejam os jogadores do Sporting, do FC Porto, do Benfica ou de que clube forem"
"Fico muito contente com o sucesso dos outros"
Ricardo Costa disse ainda que viu o Europeu "com orgulho" e que não é uma pessoa agarrada. "Se houve altura em que aqui em casa me apeteceu vestir a camisola de Portugal e ver os jogos da Seleção foi agora. Eu não sou agarrado a nada e acho que nós não temos que nos agarrar ao sétimo nem ao sexto lugar, quem me dera ver Portugal a jogar uma final ou a estar nos Jogos Olímpicos. Fico muito contente com o sucesso dos outros, que é também o nosso porque todos nós remamos e lutamos por um andebol melhor", justificou.
"Acho que todas as pessoas que, há muitos anos, estiveram relacionadas com a Seleção partilham deste sentimento. Sejam os jogadores do Sporting, do FC Porto, do Benfica ou de que clube forem, todas estamos a lutar para que o nosso andebol seja cada vez melhor e, oxalá, este sexto lugar seja melhorado e não tenhamos que esperar 20 anos para vermos isto outra vez", disse ainda.
"Embora eu fosse um bocado mais 'louco' do que estes dois, envolvia-me muito em confrontos, ia para cima dos meus adversários"
"Areia e Portela? Eu talvez tenha sido uma mistura dos dois"
Por fim, foi pedido ao antigo extremo-direito, uma comparação com os novos "donos" da posição: António Areia e Pedro Portela. "Eu talvez fosse uma mistura dos dois quando era jogador", arrancou. "O Portela e o Areia são os dois muito eficazes, o António é muito mais virtuoso e é capaz de aliar a eficácia ao espetáculo, enquanto o Portela é um atleta de topo mas não se evidencia por ações espetaculares, é muito sério a jogar, embora tenha um desempenho fantástico", prosseguiu, finalizando: "O António Areia é um atleta que eu conheço bem, trabalhou comigo no FC Porto, tem recursos fantásticos e marca golos com muito pouco ângulo e, às vezes, quase impossíveis. Nesse sentido, eu era um atleta que arriscava muito, entrava muitas vezes com pouco ângulo e gostava desse desafio porque achava que o guarda-redes tinha mais pressão do que eu. Embora eu fosse um bocado mais 'louco' do que estes dois, envolvia-me muito em confrontos, ia para cima dos meus adversários e era mais duro do que eles a defender, mas o andebol também era diferente há 25 anos. Era um jogo mais duro, mais violento, nisso o andebol cresceu e bem".