ENTREVISTA - Mariana Lopes, de 25 anos, joga no Thuringer Handball Club, da Alemanha, com o qual tem mais um ano de contrato, e é considerada a melhor andebolista portuguesa da atualidade.
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Mariana Lopes, meia-distância de 1,73 m, está para o andebol feminino português como Gilberto Duarte está para o masculino. Natural de Aveiro, chegou à primeira equipa do Alavarium com apenas 15 anos e, aos 21, já formada, aceitou os apelos que vinham do exterior: em 2016/17 e 2017/18 jogou no Boden Handboll, da Suécia; em 2018/19 no SV Union Halle-Neustadt, da Alemanha, e agora está no Thuringer.
Como se deu a mudança para o estrangeiro?
-Com 17 anos, tive a minha primeira proposta para o estrangeiro, durante uma competição da Seleção júnior. Foi nesse momento que percebi que era possível seguir uma carreira de jogadora profissional. Tinha uma decisão importante a tomar e acabei por escolher fazer o curso superior para o qual tinha acabado de ser admitida e depois seguir o meu sonho, o andebol. Ao final de quatro anos, com um diploma em Fisioterapia e três títulos de campeã nacional, segui a minha aventura e escolhi a Suécia.
O que encontrou por lá?
-Encontrei um ambiente profissional, com treinos bidiários e uma intensidade mais elevada, que me fez evoluir e superar-me diariamente. As maiores dificuldades para mim foram adaptar-me à alimentação e, principalmente, ao clima. A cidade onde vivi encontra-se quase no Círculo Polar Ártico, o que significa que chega a ter apenas uma hora de sol no inverno, e uma hora de noite no verão. Para além das temperaturas negativas, onde o máximo que vivi foram -35 graus. Não foi fácil manter a motivação e continuar a lutar, mas tive a sorte de ter o meu marido comigo, que também é meu personal trainer e treinava os seniores masculinos na III Divisão, que sempre me apoiou e me levou a dar o máximo para superar qualquer obstáculo. Apesar de todas as dificuldades, foi o concretizar de um sonho, por isso só podia estar feliz.
Como aconteceram, depois, as diversas mudanças de clube?
-Quando ainda estava em Portugal, tive alguns agentes interessados em ajudar-me a dar o salto para o estrangeiro. Com a ajuda de uma agente consegui ter algumas propostas interessantes, uma delas o Boden Handboll, na Suécia. No segundo ano fui a melhor marcadora do campeonato sueco, o que fez com que surgissem propostas de equipas em campeonato aliciantes. Passei então a representar o Halle Wildcats, na Bundesliga, um clube muito profissional, com boas condições para continuar o meu desenvolvimento. No final dessa época fui a melhor marcadora da Bundesliga, o que voltou a atrair a atenção de clubes melhores, um deles o Thuringer HC, campeão nacional oito vezes nos últimos dez anos. Assinei então contrato pelo THC por dois anos.
"Ainda não encontrei um país que me complete melhor do que Portugal"
De alguma forma, pode comparar-se o andebol em Portugal e na Alemanha?
-Esta comparação nunca é justa, porque não é comparável. A Alemanha é a federação com maior número de praticantes de andebol na Europa, com equipas profissionais ou semiprofissionais até à terceira divisão feminina, com audiências de cerca de 3000 pessoas em finais e com várias equipas na primeira divisão a superarem um milhão de euros de orçamento. Infelizmente, Portugal está longe desta realidade, portanto o andebol também.
Quais são as principais diferenças?
-O campeonato é mais rápido, intenso e físico. Há muitas jogadoras estrangeiras e a idade média da Bundesliga é muito alta, o que faz com que seja também um campeonato muito experiente. Em Portugal, é algo que não pode acontecer, porque as atletas não conseguem ser apenas jogadoras e têm de perseguir uma carreira noutra área, tendo de abandonar o andebol em idades precoces ou tendo volumes de treino muito baixos.
Como se sente na pele de melhor jogadora portuguesa?
-Não sei se sou a melhor jogadora portuguesa, mas considero-me uma das mais experientes na atualidade. Sinto uma enorme responsabilidade e tento passar alguma dessa experiência às jogadoras mais novas. Trabalho todos os dias para ser melhor e tentar chegar à final-four da EHF Champions League um dia.
"JÁ TENHO SAUDADES DA BOLA"
Como está a situação da covid-19 na Alemanha e como tem vivido a situação foi algo que O JOGO também quis saber. "O campeonato foi cancelado, mas a final da Taça seria em maio e ainda não sabemos se irá ser adiada ou cancelada. A minha equipa já não está a treinar e foi-nos permitido voltar a casa. Neste momento estou em Aveiro, ainda em isolamento, mas mais perto da minha família. Continuo a treinar para manter a forma, mas, infelizmente, o treino específico de andebol não consigo fazer. Espero que esta situação se resolva o mais rapidamente possível para voltar a jogar, porque já tenho saudades de bola", respondeu a lateral-esquerda/central.