Ogier em exclusivo: o Rali de Portugal, nota sobre Ronaldo e até... a francesinha
<strong><em>ENTREVISTA - </em></strong>Sébastien Ogier não sente a pressão do recorde de vitórias numa prova que, diz em exclusivo a O JOGO, é "emblemática".
Corpo do artigo
Sébastien Ogier tem 35 anos e está de regresso à sua primeira equipa, uma Citroën que o lançou e lhe permitiu somar as sete primeiras vitórias no Mundial - a primeira de todas no Rali de Portugal de 2010 -, mas nenhum dos seis títulos mundiais, pois festejou quatro na Volkswagen e dois na M-Sport Ford. Neste momento na liderança do campeonato, o francês tem no nosso país um outro recorde para bater: somando cinco triunfos, o mesmo número do finlandês Markku Alén, procura o inédito sexto desde 2017. Será desta?
Poder tornar-se no melhor piloto de sempre no Rali de Portugal interfere na sua concentração para a corrida?
-É uma honra partilhar o recorde de vitórias com o Markku Alén, mas não sinto isso como uma forma de pressão. Sou um competidor, entro sempre em prova com ambições muito elevadas e para dar o melhor em cada rali.
Que memórias guarda da sua primeira vitória, em 2010, quando era piloto da equipa júnior da Citroën?
-Claramente, vencer esse rali foi um passo muito importante na minha carreira. Depois disso foi sempre a melhorar e a progredir. Ganhar o primeiro rali é algo que nos tira pressão. Sente-se que nos tiram um peso dos ombros. Portanto, tenho boas memórias, até da forma como conseguimos gerir esse rali, no Algarve, e segurar o triunfo [Ogier bateu o então colega Loeb por 7,9 segundos]. Ficará para sempre como algo de especial, pois foi não só a primeira como uma das mais importantes vitórias, permitindo-nos ficar relaxados e pensar ir mais alto.
Ogier venceu o Rali de Portugal em 2010 e 2011 pela Citroën, 2013 e 2014 pela VW e 2017 pela Ford, partilhando o recorde de triunfos com Markku Alén, que venceu entre 1975 e 1987, por Fiat e Lancia
Foi a sua vitória mais importante?
-Felizmente, já tenho várias grandes vitórias. Será sempre especial por ter sido a primeira.
Este ano, o rali regressa ao Centro de Portugal. Que conhece da zona e como se prepara para essa etapa?
-Já tinha visto alguns vídeos. Aliás, no passado já tínhamos feito testes numa dessas classificativas. Mas só depois dos reconhecimentos teremos a verdadeira opinião. E teremos igualmente de fazer o melhor trabalho possível nos reconhecimentos, para poder andar bem logo na primeira passagem. Com a mudança da primeira etapa, que até agora era a mais dura dos três dias de rali, espero pelo menos que os troços sejam mais suaves e rápidos.
Com as mudanças que se estão a verificar no calendário do Mundial, acha que o Rali de Portugal deve continuar, ou que está seguro?
-Compete ao promotor do Mundial e à FIA encontrar o melhor e mais atrativo calendário para o campeonato e os concorrentes. Mas é evidente que temos de manter alguns ralis emblemáticos, como é o de Portugal.
"O Mundial precisa de ralis como o de Portugal"
Que acha dos fãs portugueses?
-São realmente uns grandes entusiastas. É sempre bom sentir tanto calor humano e apoio. Para a segurança de nós todos, também espero que vejam o rali em locais seguros. Isso é realmente importante.
Nota a diferença entre o rali atual e o que se disputava no Algarve?
-Quando ganhei pela primeira o rali era no Algarve e tenho de dizer que preferia aquelas classificativas, que eram mais consistentes. A partir de 2015, mudámos para o Porto e os troços ficam muito difíceis nas segundas passagens. Dito isto, o entusiasmo dos fãs atuais é tal que não se encontra em mais lado nenhum. Portanto, compreendo perfeitamente a mudança para o Norte.
"FRANCESINHA? SE CALHAR COMI..."
"O que vos posso dizer é que sou fã do Olympique de Marselha. Recentemente, o clube até me enviou uma camisola assinada por toda a equipa...", declarou Sébastien Ogier, que sobre futebol refere logo que "como adepto de desporto gosto tanto do Cristiano como do Messi, dois jogadores fantásticos". O francês é um diplomata e O JOGO não foi a tempo de o entusiasmar, informando-o de que o seu Marselha vai ser orientado pelo treinador de futebol que mais percebe de automobilismo - e até já correu um Dakar -, André Villas-Boas! Será mais um motivo para Ogier gostar de Portugal. "Tenho grandes memórias do vosso país e gosto sempre de cá voltar", referiu, depois de desafiado a recomendá-lo como destino de férias. "Se alguém me perguntar, naturalmente recomendo Portugal, pelas seus locais muito agradáveis, a boa comida e vinho, o clima quente e pessoas muito acolhedoras", diz o francês, apenas embaraçado por um desafio muito particular. Já comeu francesinhas ou sabe o significado da palavra? "Experimentei muita comida boa ao longo dos anos que passei em Portugal. Talvez tenha comido, mas para ser honesto... não tenho a certeza." Quem é do Porto tem uma certeza: ainda não comeu!
"Tenho grandes memórias do vosso país. Se alguém me perguntar, naturalmente, recomendo-o"
"FAFE PARECE UMA PISTA"
Sébastien Ogier correu pela primeira vez em Portugal em 2009, sendo 17.º com um Citroën C4 WRC, para vencer no ano seguinte. Conhecendo a prova tanto no Algarve como no Norte, vai estrear-se em Arganil e só tem uma ideia das famosas madrugadas de há duas décadas. "Quando era novo, o único rali que realmente seguia era o de Monte Carlo. Mas vejo fotografias desses anos e fico impressionado", refere, sobre as multidões que enchiam literalmente os troços, junto aos carros. "Fico feliz por não ter experimentado isso. É uma satisfação verificar que tanto os adeptos como as equipas fizeram um esforço para aumentar a segurança de todos." O francês prefere o atual Rali de Portugal: "Fafe tem um estatuto icónico e multidões enormes próximas daquele salto. É uma etapa magnífica em termos de condução. Atualmente, já conhecemos aquilo tão bem que nos parece mais uma corrida de pista do que um rali."