O exercício de solo que valeu notas 10 a Katelyn Ohashi somou 38 milhões de visualizações no Twitter e cinco milhões no Youtube em três dias, mas não é caso único. Na UCLA, estas exibições são anuais.
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Katelyn Ohashi, ginasta de 21 anos que já chegou a superar a colega Simone Biles e teve o caminho para o estrelato interrompido por uma lesão, ficou em dois dias quase tão famosa como aquela que vai sendo considerada a melhor de sempre. Mais do que a exibição perfeita nos nacionais norte-americanos, a sua prova de solo foi entusiasmante pela música de Michael Jackson e pela coreografia.
"Como treinadora já cometi grandes erros. O pior foi no ano em que andei a ler o que diziam de nós nas redes sociais."
A sua dança foi além da rigidez habitual da ginástica artística, novidade só para quem não conhece as exibições da UCLA Bruins, a mais famosa das equipas universitárias dos EUA, nem o seu segredo, que tem um nome: Miss Val.
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Valorie Kondos Field, de 59 anos, é para todos a Miss Val e nunca foi atleta. Fez balé antes de entrar na UCLA, onde é treinadora há 36 anos e considerada uma mãe-galinha das ginastas. Já superou um cancro na mama - tornou-se uma ativista famosa na luta contra a doença - e anunciou no verão passado que esta será a sua última época. Uma saída que fará mossa, pois não falta quem aponte as suas rotinas como um exemplo do que deveria ser a ginástica.
A verdade é que só a equipa da Universidade da Califórnia, situada em Los Angeles, apresenta exercícios fora do comum, aproveitando o facto de as regras da NCAA serem menos rígidas do que as da Federação Internacional de Ginástica, para a qual a dificuldade de execução tem um peso decisivo. Dançar, como Ohashi fez, não é opção. Quanto às restantes equipas norte-americanas, a tradicional mentalidade conservadora impede-as de ir mais longe.
"Como treinadora já cometi grandes erros. O pior foi no ano em que andei a ler o que diziam de nós nas redes sociais. Como tenho medo da opinião dos outros, virei costas à minha equipa. Acabei por perceber que tinha de seguir na direção oposta até encontrar a solução: tenho uns "nerds" da ginástica com um olhar refrescante sobre a nossa realidade e concentrei-me nos instrumentos que são os meus atletas", escreveu Miss Val em outubro passado, sobre a mudança de atitude que levou a sua equipa a sete títulos na NCAA e a uma popularidade que tem ajudado a modalidade, e não só.
Mais do que desenhar rotinas que transformam exercícios de solo em espetáculos únicos, Miss Val recupera ginastas, sendo Katelyn Ohashi um dos melhores exemplos. "O meu antigo treinador dizia-me para não jantar. Estava anorética quando vim para a UCLA. E rebelde", diz Ohashi, dando a entender que não foi só a lesão num ombro a afetar a jovem que há sete anos colecionava medalhas.
Miss Val explica como a recuperou: "Ela é uma líder. Só precisei de lhe dizer que as outras fariam o que ela fizesse. E, se cumprisse a sua missão, iriam segui-la até ao fim do mundo".
Mas a Universidade da Califórnia (UCLA), registe-se também, não brilha só na ginástica. Os Bruins possuem 251 medalhas olímpicas, entre as quais 126 de ouro e são uma potência desportiva que também já conquistou 126 títulos coletivos nos nacionais dos Estados Unidos, incluindo o recorde de 11 no basquetebol universitário.
Ganhando medalhas em todos os Jogos Olímpicos desde 1932, a universidade onde também está Simone Biles não se fica pelo desporto: tem 10 professores e sete antigos alunos com o Prémio Nobel, 105 Óscares de Hollywood, 278 Emmys e três Pulitzers, entre muitas outras distinções.