"Líderes serão prejudicados pela carnificina no sprint da primeira semana do Tour"
<strong>ENTREVISTA </strong>- Bradley Wiggins, vencedor do Tour"2012 e campeão olímpico, faz antevisão da Volta à França em exclusivo a O JOGO. Saiba quem são os seus favoritos e os primeiros detalhes da prova que arranca sábado.
Corpo do artigo
Sir Bradley Wiggins, vencedor do Tour"2012 e oito vezes medalhado nos Jogos Olímpicos, antecipou a Volta a França que se inicia sábado - primeira etapa inicia-se na Bélgica -, lamentando ausências e a "falta de espetacularidade". A O JOGO, numa parceria com a Eurosport, o ex-ciclista perspetiva que a antiga equipa vai festejar nos Campos Elísios pela sétima vez em oito anos.
A Ineos tem tanta profundidade na equipa que abre a oportunidade aos colegas, não aos rivais, e reina sem Froome.
A grande notícia deste ano é a lesão de Chris Froome [Ineos]. Até que ponto esta altera a preparação dos rivais?
- Foi um grande azar. Ninguém gosta de ver um adversário ter um acidente. Tornou-se óbvio que o Geraint Thomas e o Egan Bernal são os homens para liderar. A queda do Chris foi horrível, mas eles têm de seguir em frente. Não alterará nada da preparação, porque no desporto de elite as atenções viram-se depois para a competição.
É um problema para a corrida?
- A Ineos é a equipa mais dominante. Há muita gente a querer que falhem. Gerou-se um nível de hostilidade em França, particularmente para com o Froome, por ser o mais ganhador [quatro vezes]. Para os franceses, este azar não tem influência, só querem que os ciclistas da sua nacionalidade ganhem a corrida. É histórico no Tour não gostarem de uma equipa estrangeira a dominar anos a fio.
Será a corrida mais imprevisível?
- Não, será a história do costume. A Ineos tem tanta profundidade na equipa que abre a oportunidade aos colegas, não aos rivais, e reina sem Froome. O Giro foi muito competitivo, mas estou desiludido à entrada para o Tour. Perdemos o Froome e o Tom Dumoulin [Sunweb], há homens, como o Vincenzo Nibali [Bahrain] - que é o corredor com mais classe do pelotão e insubstituível nas Grandes Voltas para os italianos -, que estão cansados porque vêm de Itália. O percurso não permite espetacularidade na corrida. Acredito que o Romain Bardet (AG2R), o Nairo Quintana e o Alejandro Valverde (Movistar) estarão na luta. Já sabemos é que, na primeira semana, os líderes são prejudicados pela carnificina no sprint, com quedas à mistura. Nas montanhas haverá uma boa luta...
https://www.instagram.com/p/BzSkgP1InWj/
Geraint Thomas venceu no ano passado. Foi trabalhado para ser um plano A, face ao esforço de Froome no Giro. Egan Bernal é um plano B ou mais do que isso?
- É como diz, pode ser até um plano A escondido. Ainda é uma incógnita se veremos o Geraint Thomas do último Tour. Reunirá as atenções mediáticas e o Bernal pode passar mais despercebido. O Geraint já provou, passou nos testes, mas se tiver um dia mau, o Bernal aproveitará. O Geraint tem uma vantagem: até a 80% pode vencer. Tem a força mental para voltar a vencer, só precisa de jogar as cartas certas e melhorar ao longo da corrida. É relaxado e profissional ao mesmo tempo, e a equipa vai protegê-lo. O Bernal está segundos atrás, o Richie Porte (Trek), o Quintana, o Valverde e o Bardet vêm depois.
"Se podia ganhar este Tour? Se tivesse a equipa à minha volta... porque não poderia vencer?!"
Apontou os candidatos. E as surpresas?
- A Astana é uma equipa organizada, mas não desafia a Ineos. O Jakob Fuglsang ganhou a Liège-Bastogne-Liège e tem colegas com capacidade. Tem classe suficiente para fazer um top 5, quem sabe um pódio... Ganhou o Critério do Dauphiné e conhece bem a corrida. O Dan Martin [colega de Rui Costa na UAE] tem um potencial grande para as gerais, mas também pensa em etapas. O Thibaut Pinot [FDJ] promete sempre muito, mas costuma ter um dia mau. Penso que será um dos Tours mais abertos na luta pelo pódio.
E Froome ainda pode sonhar com a quinta vitória?
- Tem 34 anos agora. É uma dúvida, claro, se volta como estava, mas se alguém o consegue, é ele. O Philippe Gilbert [Deceuninck] voltou de uma queda horrível e venceu este ano a Paris-Roubaix. Com os recursos que têm na equipa, até vai ter a motivação de provar a si mesmo que consegue. Acredito que volte para vencer outro Tour.
Nesta edição do Tour, que arranca no sábado, existem cinco chegadas em alta montanha e 55 km de contrarrelógio, longe dos 101 da edição que Bradley Wiggins venceu em 2012.
Vitória no Tour trouxe muitas amarguras
O JOGO perguntou e o britânico respondeu. "Se podia ganhar este Tour? Se tivesse a equipa à minha volta... porque não poderia vencer?!", questiona sorridente. Depois de Bradley, Froome ganhou quatro vezes e Thomas uma. Tantos outros fazem do Tour o objetivo de vida. Wiggo, porém, dá o outro lado de conquistar a amarela: "Foi o melhor momento da minha vida. Só que mudou-a, alterou a da minha família também. Por esse ponto, até penso às vezes: "Como era bom não a ter vencido".
https://www.instagram.com/p/BzdinVYojn0/
AS APOSTAS DE WIGGINS
Geraint Thomas (33 anos, Gales) - Ineos
"Será protegido"
Geraint Thomas é a carta mais forte para Wiggins. "Ele tem uma vantagem: até a 80% pode vencer. Tem a força mental para voltar a vencer, só precisa de jogar as cartas certas e esperar que vá melhorando ao longo da corrida. Será protegido."
Egan Bernal (22 anos, Colômbia) - Ineos
"Tem estado bem"
O trepador colombiano está como número dois: "Pode passar despercebido pelas atenções sobre o Thomas, mas não deixará fugir a oportunidade. Tem estado bem e surge logo a segundos do Thomas."
Romain Bardet (28 anos, França) - AG25
"Ídolo francês"
Bardet é a maior esperança francesa. Foi segundo em 2016 e beneficia com as montanhas. "É um trepador e este Tour tem muita montanha. É um ídolo francês e vai dar luta. Pode ser dos mais atacantes na corrida", diz Wiggins.
11076083
Nairo Quintana (29 anos, Colômbia) - Movistar
"Agita sempre"
Nairo Quintana já ganhou a Vuelta e o Giro. Falta-lhe o Tour para fazer o pleno de Grandes Voltas e Wiggins não se deixa enganar pela forma recente: "Agita sempre. É um escalador. A Movistar é perigosa e pode ser o ano dele."
Alejandro Valverde (39 anos, Espanha) - Movistar
"É um perigo"
Elogios ao Bala não faltam. O campeão do mundo pode não ganhar, mas é vital para a corrida. "Parece que vai estar sempre presente. Desfez o joelho e voltou para ser campeão do mundo. É um perigo, cria muito burburinho", enaltece Wiggins.
Adam Yates (26 anos, Reino Unido) - Mitchelton Scott
"Vejo-o no pódio"
O compatriota Adam Yates merece reconhecimento e Wiggins acredita que ter o irmão só pode beneficiar a corrida da Mitchelton: "Vejo o Adam Yates no pódio. Está a andar bem, responde quando tem de o fazer e terá o Simon para o apoiar."
11067187