Ciclista português vai estrear-se na prova rainha do calendário velocipédico.
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O nervosismo da estreia não afetou José Gonçalves (Katusha Alpecin), que estudou o mapa da 106.ª Volta a França em bicicleta e selecionou "três ou quatro" etapas para tentar vencer na sua primeira participação na prova francesa.
O novo campeão nacional de contrarrelógio teve de esperar pela sua sétima temporada no pelotão internacional -- e a terceira na Katusha Alpecin -- para estrear-se naquela que é a prova rainha do calendário velocipédico, e, ainda assim, diante do momento mais impactante da vida profissional de um ciclista, garante não estar nervoso.
"É uma corrida como as outras. É certo que o Tour é o Tour, há mais stress, mas corri as outras [grandes Voltas], sei o que é uma prova com 21 dias", desmistificou em declarações à Agência Lusa em Bruxelas, a cidade belga de onde arranca a 106.ª edição, que termina em 28 de julho, em Paris.
O mais bem sucedido dos gémeos nascidos em Roriz, Barcelos, há 30 anos -- o outro, Domingos, corre na espanhola Caja Rural --, parte para a sua estreia na Volta a França com uma missão bem clara: ganhar uma etapa.
"Tentarei fazer o meu melhor e ter um dia bom, para vencer uma etapa. Esse é um dos meus objetivos aqui no Tour. Se eu vencesse uma etapa aqui, iria ficar muito contente. Vou tentar dar o meu melhor: se conseguir, melhor, se não, é continuar a trabalhar", resumiu o ciclista que já alinhou em quatro Vueltas (Espanha) e em dois Giros (foi 14.º classificado na prova italiana em 2018).
Embora reconheça ter assinaladas no mapa as "três ou quatro" tiradas que mais se adequam às suas características, José Gonçalves escusou-se a revelar quais os dias em que os portugueses devem sintonizar a emissão da Grande Boucle para vê-lo na frente do pelotão.
Contudo, foi deixando pistas do seu plano, nomeadamente ao revelar que "a partir da primeira semana é que as etapas ficam difíceis", como ele gosta, e que poderá reservar-se no contrarrelógio da 13.ª etapa, por haver uma outra próxima no calendário que melhor lhe convém.
"Eu por ter a camisola de campeão nacional não quer dizer que no dia do contrarrelógio irei a fundo, porque quero poupar-me para o dia a seguir. Há ali uma etapa muito boa para mim, um dia antes, acho eu... (hesita) ou no dia a seguir, já não sei", descaiu-se o corredor da Katusha Alpecin.
Assim, e apesar de a camisola que conquistou na semana passada estar a funcionar como "uma motivação extra" para este Tour, o barcelense admitiu que será pouco provável que entre num duelo com Nelson Oliveira (Movistar), o recém-coroado vice-campeão europeu da especialidade, pelo título de melhor português no contrarrelógio de Pau.
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Ciente da sua missão pessoal, para a qual crê que a sua condição física é boa, o único 'estreante' luso desta edição indicou ainda duas preocupações adicionais que poderão ditar o (in)sucesso da sua participação.
"Falei com o Sérgio Paulinho quando estava [a estagiar] em altitude e ele avisou-me que a primeira semana era muito complicada, para ter atenção às quedas, porque o pessoal vai com muito stress, toda a gente quer estar na frente. É tentar não cair na primeira semana e depois logo se vê", revelou, referindo-se àquele que durante largos anos foi o mais experiente (e reputado) dos ciclistas portugueses no pelotão internacional.
Além de estar preocupado em evitar quedas, Gonçalves quer também ajudar o seu chefe de fila, o russo Ilnur Zakarin.
Apesar do seu inglês assumidamente "enrascado", o ciclista de Roriz foi o eleito para ser o companheiro de quarto de Zakarin, uma 'honra' que no ciclismo costuma ter um único e expressivo significado: ser o homem mais próximo do líder em todas as ocasiões, especialmente quando o terreno começa a inclinar.
"Se chegasse a Paris com uma vitória de etapa, já seria muito bom. [Um bom resultado seria] uma vitória para mim e para a equipa que o Zakarin estivesse nos lugares cimeiros da geral", concluiu.