Juan Ayuso: "O problema não era com o João Almeida. Nunca desafiaria um colega de equipa..."
O ciclista espanhol Juan Ayuso esclareceu que nunca teve problemas pessoais com João Almeida e que as tensões surgiram sobretudo da forma como a direção da UAE Emirates geria internamente os corredores
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Algumas semanas depois de se tornar oficial a saída da UAE Emirates, o ciclista espanhol Juan Ayuso falou sobre a experiência na equipa, deixando duras críticas à gestão da estrutura. O jovem de 20 anos revelou sentir-se desvalorizado e isolado, criticando a falta de clareza nos papéis, a ausência de comunicação interna e o ambiente de rivalidade que acabou por tornar a sua presença na equipa complicada.
"Foram pequenos incidentes, sempre quando sabíamos que algo não estava bem. A cada corrida, quando voltava a casa, sentia que não havia química ou uma relação. Eram pequenas coisas a cada corrida... Sempre que falava disso de forma breve com a direção, a resposta era sempre negativa. E quando tudo se acumula, chegas a um ponto em que pensas "que se f..., estou aqui para desfrutar". Na UAE, por vezes tinha de lutar contra os meus colegas e isso nunca sabe bem. Foi uma coisa gradual, mais do que algo que tenha acontecido num só dia", explicou Ayuso, em entrevista a Daniel Benson, publicada no Substack do jornalista.
O espanhol esclareceu que nunca teve problemas pessoais com João Almeida e que as tensões surgiram sobretudo da forma como a direção geria internamente os corredores. "O problema não era com o João Almeida. Eu nunca iria desafiar um colega de equipa. Para mim era mais uma questão do que acontecia, porque há coisas que acontecem em todas as equipas e é assim o desporto. Mas do ponto de vista da gestão, nunca foi clara a mensagem e qual o papel de cada corredor. Se erros eram cometidos, nunca se falou disso. Apenas me custou energia, mais do que o ato em si."
Ayuso voltou a abordar o processo da tentativa de renovação contratual no início do ano, que considera ter sido um ponto de viragem. "Em janeiro, tive uma proposta para renovar contrato por mais dois anos, até 2030. Durante essas negociações, a minha preocupação não foi o dinheiro, mas antes a famosa cláusula de 100 milhões de euros. Disse-lhes que podia renovar contrato, mas apenas se houvesse uma cláusula que me permitisse sair. Não aceitei e, a partir daquele momento, a direção da equipa ficou muito agressiva comigo, ao ponto de me dizerem que se não assinasse a renovação teríamos de ver qual o meu calendário a seguir. Foi um dos grandes pontos de viragem, para lá do desportivo, e foi aí que disse "já chega"".
O espanhol lamentou ainda que a sua imagem tenha sido distorcida pela própria equipa: "O que me incomoda mais é que a equipa, ao invés de ajudar, tentou gerar ainda mais sangue e ficar bem na fotografia no final. Eu era visto como o vilão do filme, por isso não posso criticar quem deu opinião, porque é essa a versão que têm de mim. Não tenho problemas com isso."