Jorge Braz: "Como jogador de futsal, nunca houve ninguém como o Ricardinho"
ENTREVISTA, PARTE II - O mágico retirou-se da Seleção Nacional e para Jorge Braz é "passado". No entanto, sublinha, o canhoto é "o melhor de sempre", apesar de nem estar nomeado entre os melhores de 2021
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Ricardinho afirmou, depois do Mundial, que estava psicologicamente rebentado. Jorge Braz considera que a mensagem não foi bem interpretada.
Nos treinos, quando está a dar coletes, ainda se engana e procura o Ricardinho?
-Não [risos]. O Ricardo já passou. Estes são os melhores do mundo atualmente.
O Ricardinho disse que estava rebentado psicologicamente depois do Mundial. Que leitura fez dessas declarações?
-A mensagem não foi interpretada da melhor maneira. A forma como se respondeu a tanto tempo de estágio e a tanta exigência competitiva foi soberba: fomos campeões do Mundo. Estarmos a colocar uma conotação negativa, é completamente errada. Muita gente interpretou isso, com esse sentido negativo, quando nós tivemos uma capacidade de superação enorme. Claro que houve momentos de saturação e desgaste, mas fomos campeões do mundo.
Mas acha que é preciso um certo cuidado com a saturação e o cansaço mental, não só com os jogadores, até mesmo com os treinadores?
-Sabíamos que ia ser assim. É o necessário. Sabia que esta época ia ser assim e estou altamente preparado. Em abril descanso.
Disse-me, na última entrevista que lhe fiz, que o Ricardinho merecia ser o melhor do mundo, mas recentemente afirmou que para si ele é o melhor de sempre...
-Não tenho dúvidas nenhumas. Como jogador de futsal, com todas as valências que o jogo exige, nunca houve ninguém como o Ricardo. Ninguém as cumpre, como ele.
O Ricardinho fez um Mundial sem muita fantasia, mas com um espírito coletivo enorme?
-O sucesso que temos tido é por sermos uma equipa. O Ricardinho foi alguém que deu muito ao nosso sentido coletivo. Quer no Mundial, quer no Europeu, tinha feito uma grande prova. Isto é um jogo coletivo.
"A Seleção é quase a minha vida"
Quando O JOGO falou com Jorge Braz, o guarda-redes Edu ainda não tinha testado outra vez positivo à covid-19. À parte disso, o vírus também atacou o selecionador, logo após a vitória no Europeu. Cumpriu o isolamento em Sonim e "descansou".
O último estágio foi bastante longo porque incluiu uma pré-época, visto que o Mundial foi a primeira competição da temporada. Prefere um estágio assim ou mais curto?
-É o que vier. Na preparação para o Mundial, tivemos a vantagem de nos preparar como queríamos e sabíamos que íamos chegar bem. Nesta preparação, temos que ocupar mais o tempo com questões estratégicas e táticas para o que aí vem. Este vai ser um Europeu muito desafiante.
Testou positivo à covid-19 depois do Mundial. Tínhamos falado em casa da sua mãe, em Sonim, e disse que se pudesse ficaria ali uns dias. Acabou por ter umas férias indesejadas?
-Cumpri lá o isolamento, não tive absolutamente nada e foram dias de reflexão e de descanso.
Tem contrato até 2024 e o tempo vai passando. A Seleção é a sua casa?
-É mais do que a minha casa, é praticamente a minha vida. Sinto-me em casa.
Sobre os particulares com a Espanha no pós-Mundial, Portugal perdeu as duas partidas e disse que não tinha gostado do segundo encontro. Serviu de aviso?
-Já passou. Houve momentos em que não estivemos bem, outros em que estivemos muito bem. Os jogos com os Países Baixos e Espanha foram muito bons para preparar o que aí vem.
Mas houve, também, bastante ineficácia com a Espanha...
-Sim, mas sabemos que há momentos em que o futsal permite isso. Se não estamos totalmente focados e concentrados, pode acontecer com as seleções fortes.
À espera de novas medalhas
O JOGO desafiou João Matos e Edu [ainda estava nos convocados, à data da entrevista] a deixarem uma questão para Jorge Braz. O primeiro quis saber se o treinador gostaria de trabalhar na Liga Placard ou no estrangeiro, se saísse da FPF. "Disse que arranjei um sarilho bonito porque tenho que revalidar dois títulos. A competição diária podia ser interessante, mas para já não. Cada vez adoro mais a Liga Placard", referiu. Edu perguntou-lhe onde vai buscar a ambição depois de ganhar tudo. "Não olho para as medalhas. Estão na gaveta. Venham outras".