João Almeida recorda Giro: "Caí e senti um pouco de pânico. Sendo magro, isto é só ossos..."

João Almeida
Gerardo Santos / Global Imagens
ENTREVISTA >> João Almeida realça que se sentiu apoiado no Giro e não teme as palavras de ambição de alguns colegas ou até de quem possa ser contratado no futuro. Gosta da ideia de mudar de calendário.
Anunciou querer ir ao Tour em 2024. Está farto de subir os Dolomitas?
-Mais ou menos [risos]. Está na hora de mudar para uma Volta a França. Para o Giro é sempre a mesma preparação, as mesmas corridas. Fazer uma Volta a França já implica fazer uma Volta à Suíça, ou um Dauphiné, mudar um pouco a preparação e, quem sabe, fazer umas clássicas também. Mudar é bom psicologicamente.
Depois de ter declarado querer ir ao Tour, a equipa já se pronunciou?
-Temos vindo a discutir isso em outras alturas. Se não tivesse apanhado covid-19 no Giro de 2022, tinha ido ao Tour este ano. Mas queria completar a Volta a Itália sem azares. Agora, com ou sem Tadej Pogacar, quero ir ao Tour. Não penso no que os outros corredores querem.
Dava-lhe jeito que Pogacar fosse ao Giro e depois ao Tour? Iria mais cansado...
-Sim [risos], mas quero fazer o Tour. As opções dos outros não interessam. Ele é mais forte do que eu, mas não acho que deva estar no Tour para o proteger. Há outros corredores para isso e eu não faria tanta diferença assim. Quero estar com ele e há situações de corrida em que é bom ter dois líderes. Gostava de fazer parte das vitórias dele, mas também é bom para a equipa estarmos separados: ganhamos pontos.
Jay Vine disse no início do Giro que tinha ambições. Isso não o incomodou?
-Acredito nas minhas capacidades e, no final do dia, ganha o mais forte. Ganhando eu, ganhava a equipa. Ele teve a oportunidade dele. Dou mais garantias no Giro, portanto, eu partia como plano A.
A UAE recruta sempre novos talentos. Lida bem com isso?
-Se é meu companheiro de equipa, tenho respeito. Há que respeitar a oportunidade e o espaço de todos.
Sentiu-se mais apoiado neste Giro?
-Tenho corrido mais com eles, tenho outra relação, somos mais amigos. Fizemos uma boa preparação e todos acreditavam em mim. Mais do que o ano passado. Fizemos um trabalho excelente.
. Começaram [os organizadores] a ter mais cuidados desde que o Remco [Evenepoel] apanhou covid. Eu estive doente três dias, andei a tomar antibiótico durante a segunda semana. Eu e muitos atletas, porque, com aquelas condições de frio e chuva, metade do pelotão estava doente. Felizmente, nunca deu positivo nos testes.
O que nunca lhe acontecera na Volta a Itália surgiu nesta: caiu! Temeu pela continuidade em prova?
-Pensei que me tivesse magoado a sério. Quando se vai ao chão fica-se com os ombros doridos, com dores no pescoço. Não tive nenhum hematoma grave, felizmente, foram só aquelas feridas abrasivas do alcatrão. Tive uma noite ou duas complicadas, recuperei bem; mas ainda me falta debelar uma mazela aqui na anca [aponta]. Recuperei da queda, portanto não afetou quase nada, mas no momento em que caí e senti um pouco de pânico. Sendo magro, isto é só ossos [risos] e quando se cai a possibilidade de se fraturar algum é grande. Felizmente foi só o susto.
No ano passado saiu do Giro devido à covid-19. Outros desistiram este ano por isso mesmo. Achou que lhe poderia acontecer?
-Temi que o cenário se pudesse repetir, por causa dos vários casos de covid-19, mas felizmente correu bem. A organização teve de meter mais regras, porque quando fazíamos a apresentação da equipa ou o pódio não havia qualquer cuidado. Até me lembro de um dia pedir álcool gel, porque tinha dado um autógrafo a um fã, e ninguém o tinha à mão. Este ano dei muitos menos autógrafos, com medo de ficar doente. Começaram [os organizadores] a ter mais cuidados desde que o Remco [Evenepoel] apanhou covid. Eu estive doente três dias, andei a tomar antibiótico durante a segunda semana. Eu e muitos atletas, porque, com aquelas condições de frio e chuva, metade do pelotão estava doente. Felizmente, nunca deu positivo nos testes.
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