Iuri Leitão após nove medalhas em duas épocas: "Na estrada há mais dinheiro"
ENTREVISTA >> Iuri Leitão tem 23 anos, é de Santa Marta de Portuzelo e em duas épocas ganhou oito medalhas em Europeus e uma no Mundial de pista. A O JOGO falou da sua paixão
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Foi em Santa Marta de Portuzelo, nas instalações da Escola de Ciclismo onde começou a correr, que Iúri Leitão recebeu O JOGO. Já com a prata ganha na prova de eliminação do Mundial de Roubaix guardada, e na véspera de recomeçar a treinar, pois o êxito valeu-lhe convites para festivais de pista, revelou-se um conversador raro e explicou tanto a paixão pela pista como as ambições na estrada, pois já foi contratado pela espanhola Caja Rural.
Há dois anos imaginava estar com nove medalhas, incluindo uma prata mundial e um título europeu?
-A verdade é que não. Estes últimos dois anos foram intensos, sobretudo os últimos três meses. Mas aconteceu assim fruto do trabalho e da sorte de ter as condições ideais.
Com 51 pódios em Europeus e Mundiais desde 2013, o ciclismo de pista português é um fenómeno único e Leitão a mais recente revelação. Vai para a Caja Rural, mas já pensa nos Jogos de Paris"2024
Gosta mais do ciclismo de pista do que do de estrada?
-Nasci na estrada, foi nela que cresci e, entretanto, apaixonei-me pela pista. Mas não consigo escolher. É como se me pedissem para escolher entre dois filhos.
Mas sente-se melhor na pista?
-São disciplinas diferentes. Há etapas na estrada que não são ao meu jeito e sou pouco útil - assim como outras são perfeitas para mim. Na pista as corridas são mais curtas e intensas e posso discutir qualquer uma. Se falarmos nos sucessos, na pista a percentagem é muito superior.
Troca as bicicletas com facilidade?
-Por vezes aqueço para a pista em bicicletas de estrada. Salto de uma para outra sem problemas.
Tem alguma disciplina de pista preferida?
-Gosto da maior parte. Quando comecei não gostava de algumas, mas por não ter capacidade física para as fazer, como a corrida por pontos, que é a mais exigente. Há uma que acho engraçada e pouca gente gosta, a tempo race. Ali, jogar frio é fundamental, e gosto da questão tática. Todas as voltas dão pontos, a maioria entra com demasiada ambição e depois perde capacidade no final, quando tudo se decide.
Pelo que se viu no Mundial, uma das virtudes do Iúri é precisamente ter resistência...
-Isso é trabalho, não é inato. Não nasci grande ciclista de pista, nem adaptado a todas as provas. Quando comecei, tinha dificuldades na maioria das corridas. Foi graças ao trabalho, aos ensinamentos do professor Gabriel Mendes, à experiência e às ajudas dos meus colegas da Seleção que aqui estou.
"Ir aos Jogos Olímpicos. É o sonho de qualquer atleta. Mas também gostava de ser campeão do mundo"
Qual é a sua grande ambição na pista?
-Ir aos Jogos Olímpicos. É o sonho de qualquer atleta. Mas também gostava de ser campeão do mundo. Já estive perto e é um objetivo de vida, porque considero esse título marcante.
Pergunta difícil: trocaria a ida a Paris para os Jogos Olímpicos pelo último sprint da Volta a França?
-Talvez não. A Volta a França é um grande evento, mas acho que nada se compara aos Jogos Olímpicos. Claro que gostava de sprintar nos Campos Elísios, mas os Jogos são o ponto máximo do desporto. Preferia ir aos Jogos.
A maioria dos ciclistas não pensa assim. Essa é mais mentalidade de pista...
- Não acho, também preferia estar em Paris a discutir o título olímpico de estrada, não falo só dos Jogos Olímpicos na pista. Se por acaso a corrida olímpica de Paris"2024 for em terreno plano e me selecionarem, estarei lá cheio de ambição e a pensar discutir a vitória.
" Se por acaso a corrida olímpica de Paris"2024 for em terreno plano e me selecionarem, estarei lá cheio de ambição e a pensar discutir a vitória"
"Um grande ciclista de estrada pode ganhar muito dinheiro"
Portugal tem êxitos na pista, mas a fonte de rendimento dos internacionais portugueses está nas equipas de estrada. "É verdade, em especial no nosso país, onde não somos tão recompensados pelos nossos títulos. Também é verdade que a nossa Seleção é muito recente e ninguém estava preparado para que fosse tão rapidamente uma referência a nível mundial", concorda Iúri Leitão, sabendo onde há mais dinheiro: "Um grande ciclista de estrada pode ganhar muito dinheiro. Mas a minha ambição é ganhar corridas em ambos os lados - se também puder ganhar dinheiro, melhor".