Das voltas de bicicleta em Alhandra a campeão do mundo júnior de triatlo crosse
Nascido em França, há 19 anos, o triatleta mudou-se com a família para Portugal aos sete.
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Desde criança que François Vie, de Alhandra, gostava de "dar voltas de bicicleta", experimentar vários desportos e, no sábado, juntou ao título europeu o de campeão mundial júnior de triatlo crosse.
Nascido em França, há 19 anos, o triatleta mudou-se com a família para Portugal aos sete, depois de uma passagem pelo Senegal. Era de bicicleta que ia para a escola, também se sentia "confortável na água", gostava de correr, de ver as etapas da Volta a França e a apetência pelo deporto levou o pai e treinador, um ex-militar, a encaminhá-lo para o triatlo.
Começou aos 12 anos na modalidade, mas foi no triatlo crosse, vertente em que o ciclismo e a corrida são feitos por trilhos e em percursos sinuosos, que sentiu mais emoção, encontrou um desporto com que mais se identificou e no qual se especializou, aos 16 anos.
O estudante de manutenção de aeronaves faz treinos bidiários, sozinho, em Alhandra, onde reside. Antes de ir para as aulas faz natação. No final do dia ciclismo, o segmento em que mais se destaca, ou corrida. Por vezes não lhe apetece, por estar frio, cansado, mas não falha um dia. Os últimos títulos são o "resultado de muito trabalho e dedicação".
"Ainda não consigo descrever bem a sensação deste título", disse François Vie à agência Lusa, referindo-se à conquista do mundial júnior de triatlo crosse, competição que decorreu no sábado, em El Anillo, Cáceres, Espanha.
Em setembro já tinha sido campeão europeu júnior de triatlo crosse e sagrou-se campeão europeu júnior de duatlo, conquistas que junta ao campeonato europeu de estafetas mistas em triatlo e aos títulos nacionais de swimrun e de triatlo crosse.
A irmã, Pauline, é também campeã nacional da disciplina e competiu no campeonato do mundo. A mãe, Karine, professora, que se sentia mais tranquila quando o filho treinava em trilhos e não na estrada, afastado do trânsito, começou recentemente a praticar o mesmo desporto.
François Vie sabe que o triatlo de estrada, que continua a praticar em algumas provas com o seu clube, o Alhandra, como preparação e para "dar ritmo" para o crosse, dá maior visibilidade e é modalidade olímpica, mas no seu horizonte não está a aposta nessa vertente, por nos trilhos ter encontrado um desporto "menos monótono", no qual "a natureza, de um ano para o outro", obriga a mudar percursos e metas.
"Para ir longe na vida, tem de se gostar do que se faz. Gosto do triatlo clássico, mas não tanto do espírito que se vive como no crosse. Gosto do que faço e não tenciono mudar só por ser modalidade olímpica. Prefiro esperar que o crosse passe a fazer parte dos Jogos Olímpicos, mas não tenho essa ambição, quero é divertir-me ao máximo", referiu.
Por outro lado, enquanto no crosse se habituou a competir com profissionais, nas provas XTERRA, considera que no triatlo de estrada não está "ao mesmo nível" e não se conseguiu projetar no triatlo clássico da mesma forma.
Para já, o triatlo crosse "já é mais do que um passatempo, mas não é uma profissão", situação que François Vie gostava de alterar, embora o atleta português tenha consciência de que será difícil consegui-lo sem sair do país.
"Gostava de ser profissional da modalidade, mas não sei se em Portugal é um cenário realista", analisou o triatleta luso, que no Mundial contou com o apoio da federação, mas são os pais a suportar a participação em provas internacionais, uma equipa francesa ofereceu-lhe 11 pneus, para diferentes pisos, uma marca dá-lhe por época um fato de neopreno e uma loja de bicicletas local vende-lhe as peças sem cobrar a mão-de-obra e empresta-lhe ferramentas.
O que François Vie ambiciona é continuar por veredas a "aliviar a mente" e "um dia ir ao Mundial e vencer no Maui", Havai, numa das mais exigentes provas de XTERRA.