"Giro vai ser muito duro. Se fizesse um top-10 ou um top-5 seria excelente"
ENTREVISTA - Quarto na última Volta a Itália, João Almeida regressará como líder da Deceuninck-Quick Step, apesar da presença de Evenepoel. Sem obsessões, alimenta o sonho rosa, como revela a O JOGO.
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O jovem de A dos Francos, que encantou o mundo com 15 dias de camisola rosa, a da liderança na Volta a Itália, mostrou neste arranque de época que 2020 não foi um acaso. Foi terceiro no UAE Tour, sexto no Tirreno-Adriático e sétimo na Catalunha, ganhando moral, como diz em entrevista a O JOGO, para nova aventura no Giro e para tentar colocar Portugal na rota do ciclismo mundial.
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Está satisfeito com este arranque de época?
-Estou bastante contente. Não esperava começar assim tão bem. Comecei e tenho mantido a boa forma, sempre consistente. Há margem para progressão e chegar ainda mais forte ao Giro.
Entre UAE Tour, Tirreno-Adriático e Catalunha, qual foi a corrida mais difícil?
-Diria que a Catalunha foi a mais complicada. Estava a sentir-me mais fatigado do que nas anteriores. Nas grandes montanhas senti mais dificuldades, pela fadiga. No Tirreno tive um dia em que me alimentei mal e tive uma quebra no final. O objetivo do top-10 foi cumprido e tenho é de aprender com os erros. No UAE Tour foi tudo bem. Fiz um bom contrarrelógio, saí satisfeito com a classificação geral.
Preferia ter corrido menos dias neste arranque?
-Se calhar competi um pouco demais, porque senti cansaço, sim. Ainda assim, os resultados foram bons. Tenho de descansar para voltar às boas sensações. Estou certo de que não sairei prejudicado.
Esperava sair líder do contrarrelógio da Catalunha?
-Não estava nada à espera de liderar. Mesmo em termos de tática não podíamos controlar o que cada um fazia, porque era um crono, mas não foi vantajoso agarrar a liderança naquele dia. Tínhamos uma etapa de montanha dura e, sendo líder, todos olhariam para mim. Porém, foi bom ser líder e não o mudaria. Com o crono, mostrei que posso fazer pódios em provas de uma semana.
Ainda atacou na Catalunha, em busca de subir lugares. Está a tornar-se a sua imagem de marca?
-Quando ataquei, o meu objetivo era subir alguma posição. Estou sempre a pensar em melhorar o meu lugar. Não conseguimos alguns segundos: bastava ter ganho um sprint intermédio e teria subido. Gosto de atacar quando estou bem. Tentarei sempre algo e são momentos importantes. Não vai sair o tiro pela culatra, gosto de atacar, sim, mas sei que estou bem quando o faço.
"Evenepoel vai surpreender no Giro, mas, para já, o que está pensado é ir em busca da minha classificação"
Quais são as expectativas para o Giro?
-Acho que vai ser muito duro. Não vou levar expectativas muito definidas. Se fizesse um top-10 ou um top-5 seria excelente.
Patrick Lefevere, diretor da Quick Step, disse que o Remco Evenepoel não estaria no topo da forma no Giro. A liderança é sua?
-Queremos sempre ganhar todos. Acho que ele vai estar numa forma muito boa e surpreender muita gente. Ele tem muito talento, trabalha muito e vai estar bem. Contudo, para já, o que está pensado é que no Giro se vá em busca da minha classificação, a melhor possível.
"DESDE QUE O ANO COMEÇOU FIZ MAIS DE 100 TESTES"
A vida de ciclista envolve estar longe de casa 100 dias por ano, entre corridas e estágio. Com a pandemia, essa realidade piorou. "Vi os meus pais três dias depois do Tirreno-Adriático, mas não estou sozinho com eles desde o UAE Tour, em fevereiro. Tudo é restrito. Temos medo do vírus, claro, e o facto de não poder regressar a casa também limita", revela o jovem de 22 anos, pormenorizando quanto aos cuidados: "Não podemos conviver tanto, festejar só mesmo dentro da equipa. Desde que o ano começou fiz mais de 100 testes à covid-19. Estamos sempre a lavar as mãos."