Filipa já deixou marca na ginástica e conta a O JOGO: "O 'Martins' foi algo histórico"

Filipa Martins chegou há dias do Europeu de Basileia (Suíça), onde foi 11.ª no all-around e oitava nas paralelas assimétricas, surpreendendo nestas ao apresentar um elemento novo, que ganhou o seu nome.

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Como analisa o Europeu?

-Depois de termos estado um ano parados foi muito bom voltar a competir. Todos nós, ginastas, estávamos ansiosos por ter competições, desde logo, por isso foi muito positivo. Foi também um bocadinho como teste para os Jogos Olímpicos, porque não vamos ter mais nenhuma competição internacional até lá.

Deixou a sua marca ao apresentar um movimento novo, o "Martins". Foi a Filipa que lhe deu o nome?

-Normalmente fica sempre com o último nome da ginasta. Era um elemento que ainda não existia no código de pontuação e foi por causa da pandemia que consegui fazê-lo, porque sempre que estamos em preparação, para campeonatos da Europa ou do Mundo, é muito difícil termos um período longo em que nos possamos focar num exercício só. O período que ficámos sem competir ajudou a trabalhar esse elemento.

É normal as ginastas criarem elementos novos?

-Sim e não. A ginástica já está tão avançada que é difícil fazer coisas novas. A última ginasta que o conseguiu foi a Simone Biles, que é uma força da natureza, um bocadinho diferente (ri-se). Realmente não é comum.

Citação citacao "A ginástica já está tão avançada que é difícil fazer mais coisas novas. A última ginasta que o conseguiu foi a Simone Biles, que é uma força da natureza, um bocadinho diferente"

Como é que o "Martins" surgiu, quem teve a ideia?

-Foi num momento de treino descontraído, depois da primeira vaga da pandemia. Comecei a treinar um movimento simples, dos que já existiam e, sem haver provas, sem haver nada, começámos a experimentar coisas diferentes, fazer com meia volta... O elemento em si já existia, mas com outras variantes, a começar com um movimento diferente. Fomos ao código ver quanto é que valeria o elemento, uma vez que já existia das outras formas, e aí é que reparamos que desta não existia. Foi então que percebemos que, com o "Martins", poderíamos fazer algo de histórico em Portugal.

Partilhou um vídeo no seu Instagram em que há um momento em que cai...

-Não foi um, foram vários em que caí, até chegar ao movimento sem queda. Mesmo lá no campeonato, em treino, caí algumas vezes, mas isso faz parte do processo.

Cair é muito doloroso?

-Por isso é que muitas vezes treinamos no fosso, porque é mais mole para cair, também para não nos magoarmos. Claro que quando passamos para [piso] mais duro acaba por doer mais.

Foi preciso ter coragem?

-Sim (ri-se). E estava nervosa, mas acho que se fica um bocadinho nervosa em todos os aparelhos e em todas as competições

O que significa o "Martins" para si?

-Creio que relata um bocadinho todo o meu percurso, a minha carreira. Se calhar, como nos Jogos do Rio não estive tão bem, fui sempre, dia a dia, tentando evoluir para que nos Jogos de Tóquio conseguisse fazer melhor e já estivesse bem. Entretanto foram adiados, e não sabia se este ano ia ou não estar bem. Mas continuei focada e acho que o "Martins" foi algo que acrescentei depois deste período menos motivador. Foi o que encontrei nestes meses em casa e que me motivou a querer mais.

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"MEDALHAS NOS JOGOS? PORTUGAL VAI A PASSOS LENTOS..."

"O primeiro objetivo que tenho é chegar lá bem com o corpo, ou seja, sem lesões, para fazer o melhor que conseguir e tentar alcançar a final all-around", resume Filipa Martins perante a proximidade dos Jogos Olímpicos de Tóquio, entre 23 de julho e 8 de agosto. "Não é impossível chegar a uma medalha, mas é cada vez mais difícil, porque as ginastas também estão cada vez melhores. Portugal tenta chegar lá, mas vai a passos lentos, por isso não sei", diz a portuense, admitindo: "Não sonho com isso. Tento sempre desfrutar da competição, dar o meu melhor".