Diogo Rêma tem 19 anos e coleciona distinções internacionais pelas defesas que faz na Liga dos Campeões. Já cumpriu alguns sonhos
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Esteve sempre na baliza e no andebol por querer seguir o exemplo do pai, Pedro Rêma, mas superou-o depressa. Nascido em 2004, sete anos depois já era federado pelos Carvalhos, em 2017 tinha a primeira chamada às Seleções Nacionais e aos 19 leva 57 internacionalizações entre todos os escalões, tendo recebido a primeira chamada aos Heróis do Mar em abril passado. E foi com espantosa maturidade que conversou com O JOGO.
O sonho foi sempre ser guarda-redes?
-Sim, porque o meu pai era guarda-redes e segui os passos dele. Fui muito cedo para a baliza, nunca joguei à frente.
Com que idade?
-Comecei aos cinco ou seis anos. Acho que aos seis já era federado.
Atendendo à tradição dessas idades, era um magro entre os gordinhos?
-Não. Aliás, eu era mais gordinho nessa altura. Não muito. Mas iam para a baliza todo o tipo de jogadores. E estar lá era o meu desejo.
Esse desejo já incluía ser titular do FC Porto, jogar na Champions e estar na Seleção Nacional aos 19 anos?
-Nessa altura não pensava nisso. Mas com o passar do tempo percebi, muito cedo, que eram esses os meus objetivos. Jogar no FC Porto era, sem qualquer dúvida, um objetivo. Estar na Seleção Nacional era reunir as duas metas.
Você é o guarda-redes titular mais novo de sempre no FC Porto...
-Em primeiro lugar, não considero que no andebol exista um guarda-redes titular... Mas naturalmente que são sonhos estar nesta equipa e poder jogar a Liga dos Campeões tendo 19 anos. A posição de guarda-redes é normalmente feita de experiência, mas também por isso acredito que com o passar dos anos ainda vou evoluir muito.
Quando teve a noção de que atingiria este patamar?
-Sabia que estava cada vez mais perto, mas nunca acreditei a 100% até se concretizar. É o resultado de um trabalho continuo e muitos fatores tiveram de se conjugar para isto acontecer. Mas acreditava antes que um dia ia estar neste nível.
Jogar neste patamar obriga a alguns sacrifícios. Quantas horas treina por dia?
-Depende dos dias. Por exemplo, hoje tenho dois treinos, no total são umas seis horas.
Dedica-se ao andebol a tempo inteiro?
-Estou a estudar na Faculdade de Economia. Esta época está a ser complicado dedicar-me ao curso, mas não o vou largar. Vou fazendo...
Vamos ter um guarda-redes economista?
-Quero formar-me como gestor.
Além do treino físico, há outro de estudo de adversários?
-Sim, é o mais importante para um guarda-redes. É por isso que alguns, mesmo estando em má forma física, conseguem manter um nível muito bom e num patamar mundial.
Que implica esse estudo? É feito jogador a jogador?
-Normalmente são-nos facultados os cortes de imagens de cada jogador. Entre nós, cada um tem as suas preferências. Alguns preferem ver a jogada inteira, outro apenas a altura do remate. Mas isso não é feito para decorar. Vemos os jogos para conhecer o jogador que temos pela frente, o que ele normalmente faz em função das trajetórias. Dentro do jogo, e em conjugação com o que vimos antes, é que o guarda-redes faz a leitura de cada um.
Há remates verdadeiramente fortes. Alguns metem medo?
-Nunca me meteram medo. Mas na Liga dos Campeões os remates são consideravelmente mais fortes. Pouco a pouco já me vou habituando.
Qual é o seu maior sonho no andebol?
-Manter-me num patamar alto durante muitos anos. Gostava de poder jogar no estrangeiro, nos melhores palcos do mundo.
Não sonha com títulos?
-Gostaria de ganhar a Liga dos Campeões.
“Distinções da EHF moralizam, mas para trabalhar mais ainda”
“Não faço nada de especial”, diz o sempre direto Diogo Rêma sobre os seus tempos livres. “Tenho o meu grupo de amigos”, acrescenta, admitindo que “a maioria são do andebol”. A família vibra com as suas exibições e ri-se quando O JOGO lhe pergunta se o pai está orgulhoso por o filho ser melhor guarda-redes. “Ele gosta de me ver. E ajuda, que falo muitas vezes com ele”, confessa. As distinções que a EHF lhe tem feito também agradam, mas Diogo é pragmático: “É o culminar do meu trabalho, mas não me pode subir à cabeça. Têm de me moralizar para trabalhar mais ainda, não só para me sentir bem”.
“Prefiro ser dos guarda-redes pequenos e rápidos”
Diogo Rêma tem 19 anos, Nikola Mitrevski vai nos 38. O macedónio, sendo um guardião com estilo semelhante, “é uma boa ajuda”. “Tem quase o dobro da minha idade, muito mais experiência e somos de estaturas semelhantes. Por isso, ele ajuda-me muito. Não é pessoa de estar sempre a falar, mas auxilia sempre que pode. Gosto muito de dividir a baliza com ele”, explica, definindo-se como um guarda-redes “ágil e agressivo”. Rêma tem 1,89 metros, mas acha que crescer mais dez centímetros de altura não o ajudaria: “Não! Antigamente cheguei a pensar isso. Mas neste momento acho que não faz grande diferença. Já me habituei a esta forma de defender e, se tivesse mais alguns centímetros, teria de mudar. Prefiro guarda-redes mais pequenos e rápidos em relação aos maiores”.