Oksana Masters, a representar os Estados Unidos, venceu na quarta-feira a sua 18.ª medalha em Jogos Paralímpicos e a primeira em Paris'2024, ostentando uma história de superação que começou mal nasceu
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A atleta norte-americana Oksana Masters conquistou na quarta-feira a 18.ª medalha paralímpica da sua carreira e a primeira nos Jogos Paris’2024, vencendo o ouro na prova de contrarrelógio de ciclismo.
Nascida na cidade de Khmelnytskyi, na Ucrânia, que fica a poucas horas de Chernobyl, a atleta de 35 anos ficou marcada pelo desastre nuclear que ali aconteceu desde nascença, tendo surgido ao mundo com uma perna maior do que a outra, cinco dedos mas sem polegares nas mãos e seis dedos nos pés, fruto da radiação a que foi exposta durante a gravidez da sua mãe.
“Na minha terra havia fugas de radiação. Um polícia andava pelas ruas e dizia: ‘Fechem-se’ enquanto tapavas as janelas e as portas e não saías durante um ou dois dias para deixar que a radiação desaparecesse”, recordou.
Os seus pais biológicos, convictos de que Oksana não viveria muito tempo devido à sua condição, decidiram dá-la para adoção, tendo a atleta revelado que “coisas horríveis” durante os sete anos e meio que passou em orfanatos, incluindo fome e abusos físicos, psicológicos e sexuais.
“Lembro-me de que tinham aqueles corredores enormes, que parecia desenhados para dar o máximo de medo possível. Fazia tanto frio que veres o teu próprio hálito era normal. Lembro-me que nunca estavam iluminados, eram sempre escuros. As piores coisas aconteciam às altas horas da noite. Desde então há uma larga lista de coisas que não suporto: facas, cigarros acesos, correntes de metal...”, contou, num documentário denominado “Survivor”.
Esse período negro deixou-lhe várias cicatrizes, físicas e mentais, mas Oksana encara essas marcas numa perspetiva de “sobrevivência”: “Uma cicatriz é uma história que te ocorre. Não és dono de uma cicatriz, sobrevives a uma cicatriz. Quero ser dona da minha história. É algo que fui descobrindo à medida que crescia, este desejo que tenho de reclamar o meu corpo, de reclamar a minha vida como uma história que só eu posso contar. E de dizer em voz alta o mais duro, que abusaram de mim, defini-lo, não deixando que me defina. Ao longo da minha vida adulta, esse desejo manifestou-se de muitas formas, como no meu amor pelas tatuagens”, explicou.
A história de vida de Oksana Masters mudou drasticamente quando tinha nove anos, sendo adotada pela norte-americana Gay Masters, que a levou para Nova Iorque e a incentivou desde logo a praticar desportos. Ao mesmo tempo, teve de atravessar uma série de cirurgias, incluindo a amputação das duas pernas num espaço de cinco anos.
Apesar disso, a atleta venceu a sua primeira medalha paralímpica em 2012, no remo. Desde aí, também já foi medalhada em esqui, esqui cross-country, ciclismo e biatlo. Nos Jogos Paris’2024, já chegou ao 18.º metal e pode não ficar por aqui, estando também inscrita na prova de ciclismo de estrada.